Começo por agradecer o convite e as várias intervenções que tive a oportunidade de ouvir.
Não preparei nenhuma intervenção, nem vou falar sobre a questão central da nossa mesa redonda.
Vou só avançar umas breves notas, sobre a questão conexa do clima, área em que trabalho.
As alterações climáticas são uma coisa séria.
Tão séria que não se pode deixar nas mãos do capital e das forças que o suportam.
A desvalorização desta questão, verificada instrumentalmente, que oiço e leio em alguns camaradas, adjetivando-as como pretensas, ou ditas, não ajuda, a meu ver, à nossa intervenção pública em vários domínios, como estes que hoje aqui nos trouxeram
O mundo (junto à superfície, melhor dizendo) está mesmo a aquecer, o padrão da precipitação está mesmo a alterar-se, com regiões como a nossa onde existe uma notória tendência para a sua diminuição. Alguns extremos climáticos estão mesmo a aumentar.
Ao mesmo tempo que são cada vez melhor conhecidas as alterações climáticas do passado, percebemos, também melhor, que a mudança climática, historicamente abrupta, que está em curso, é essencialmente consequência da ação do Homem, principalmente devida à emissão de gases de efeito de estufa.
Existem hoje na comunidade científica metodologias robustas baseadas na física e na química, testadas no presente que nos permitem estimar a evolução do clima com base em cenários de emissões antropogénicas. Independentemente de cenários catastróficos que são utilizadas em campanhas mediáticas de propaganda, é hoje possível estimar de forma realista as tendências climáticas para o futuro próximo.
Como sempre, as forças do capital, que inicialmente recusaram esta teoria/facto, procuram utilizá-la para fazerem o que sempre fizeram, aumentar os lucros. A propósito, já uma vez o disse e escrevi numa iniciativa do Partido: muito antes de o Capital justificar estratégias económicas e de liberalização com a necessidade de descarbonização da economia, já na União Soviética os climatologistas estudavam o assunto. O talvez mais conhecido climatologista soviético, Budyco, que foi Presidente do "Conselho Científico Soviético para as questões do Clima e dos recursos Agro-Climáticos" e prémio Lenine, publicou em 1974 um livro com o título "Alterações climáticas", um dos primeiros investigadores a estimar quantitativamente o efeito do aumento do CO2 devido às actividades humanas, e a incluir nos seus cálculos, ainda que de forma simplificada, o efeito de retroacção positiva entre o aumento da temperatura e o degelo do Ártico.
O imperialismo, tal como aproveita actualmente a guerra na Ucrânia, tal como aproveitou e aproveita a pandemia, também aproveita às alterações climáticas provocadas pelo seu sistema, para ganhar força e aumentar lucro e agravar a exploração.
Em vez de as desvalorizar, devemos utilizar a questão das alterações climáticas como mais um argumento para exigir, como aqui já foi feito:
• o retorno ao controle publico das grandes empresas energéticas e de outras empresas estratégicas.
• a existência de uma indústria mineira publica
• o aumento da soberania energética e alimentar
• o reforço dos serviços públicos do ambiente, da água, do mar e da atmosfera
• A prevalência do interesse publico sobre o privado e em particular a defesa do desenvolvimento do transporte público
• Um planeamento do território e económico ao serviço das pessoas
As alterações climáticas são uma consequência do Homem, mas não igualmente de todos os Homens, são uma consequência do sistema capitalista.
O combate e adaptação às alterações climáticas só é consequente se for aliado à luta social e económica contra o capital e a favor do socialismo.
Por isso mesmo é muito importante um debate como o de hoje, da única força que é independente do capital. Importa conseguir, sem necessidade de desvalorizar a questão da mudança climática, discutir estas questões da energia, dos recursos naturais e do ambiente, desmontando pretensas, aqui sim pretensas, soluções verdes e procurando soluções favoráveis aos trabalhadores e às grandes maiorias.