Intervenção de Eduardo Marques, 2.º Encontro Nacional do PCP sobre Cultura

Sobre o Encontro Nacional “Democratização, Liberdade Cultural”

Boa tarde caros Camaradas, sobre os assuntos já abordados, gostava de contribuir com 3 reflexões.

Primeiro não me convenço que os governos capitalistas e neoliberais, como os que temos tido, deixem de ter as políticas que têm vindo a desenvolver, vindo de encontro às nossas propostas. Sua ação só pode ser capitalista e neoliberal na cultura, tornando-a objetos comercializáveis.

No entanto não acho que por isso não valha a pena lutar por nossos objetivos, pelo contrário. Por um lado a nossa luta permite demonstrar que as bonitas declarações do governo são falsas, e por isso não se concretizam. A nossa luta permite-nos mostrar a sua verdadeira natureza neoliberal. Por outro é no trabalho persistente de organização e pressão, que nos vamos formando, e ganhando consciência da importância de nosso trabalho em coletivos organizados, e da justeza das linhas traçadas, e conseguindo mesmo importantes vitórias pontuais. Além disso, a nossa luta trás a nós muitos outros que frustrados pela falta de apoio e condições de trabalho cultural, que sabem necessário, e que assim percebem a importância de se juntarem a nós.

Segundo se o tema do Encontro é Democratização Cultural e por um Serviço Público de Cultura, devemos entender que estes são instrumentos e meios de atingir um fim, e é esse que importa, como o camarada Miguel Soares disse na intervenção de abertura, da importância de se conseguir Democracia Cultural. É nestas condições de democracia que conseguimos a força e a consciência da necessidade de mudança politica, que permita finalmente ter as condições de um trabalho frutuoso cultural, e trabalhar pela dignidade humana dos trabalhadores e agentes culturais e assim em benefício de toda a sociedade.

Por último, temos de valorizar o espaço onde se pode desenvolver e frutificar esta Democracia cultural, e que no passado tantos sucessos nos trouxe, como são as Coletividades de Cultura e Recreio, o Movimento Associativo Popular, que seu presidente Augusto Flor, aqui descreveu, e que tanta falta de meios humanos têm hoje em dia, agravando a falta de apoios, apesar do grande potencial e muito bom equipamento que possuem.

Para finalizar uma ilustração sobre as condições de nosso importante ensino artístico. Na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, não havia até 2020 a obra de Mário Dionísio “ A Paleta e o Mundo”, ( obra de 1956 entretanto oferecida), para mim do melhor que se escreveu no mundo sobre História de Arte. Estranhei que, ele e sua obra, estivessem ausentes dos programas desta Faculdade e mesmo de sua Biblioteca, e segundo averiguações que fiz, percebi que era devido a ser conotado com o Partido Comunista, e portanto a sua obra ainda hoje é censurada de forma grave para o conhecimento nesta área. Ora a importância de sua obra é para mim por abordar a ligação entre obra de Arte (A paleta) e politica (o Mundo). Mas mais interessante ainda é ele mostrar como os artistas, e a intervenção cultural nas sociedades, antecipa e eleva a consciência social, e assim prepara os movimentos sociais e revolucionários, e por isso ser tão importante criar condições para a Democracia Cultural e a ação social dos artistas. E se calhar por isso é tão temida por governos conservadores e neoliberais, e por todos os que querem populações ignorantes e submissas.

A todos desejo um bom e frutuoso trabalho em prol da Democracia Cultural

Viva o Partido Comunista Português.

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