Estamos aqui para nos despedirmos do nosso querido camarada Manuel Gusmão.
Em primeiro lugar endereçamos um forte abraço de solidariedade à sua família, particularmente a sua companheira Maria, as suas filhas Ana e Sara e ao seu filho José e através deles a todos os outros familiares.
Manuel Gusmão foi professor universitário, poeta, crítico literário, ensaísta, tradutor e, inseparável de toda essa dimensão, foi um lutador e um comunista.
Professor universitário na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde o seu trabalho e dignidade profissional foram marcantes para todos aqueles que na academia com ele tiveram contacto.
Um exemplo de rigor ético e pedagógico, em que o pensamento crítico e a reflexão foram uma marca e um contrário ao facilitismo do pensamento dominante.
O seu trabalho no ensaio e na crítica literária deixaram-nos contributos de grande relevo para o estudo da literatura, nomeadamente as abordagens feitas sobre Fernando Pessoa ou Carlos de Oliveira, mas também a leitura de e sobre muitos dos maiores nomes da literatura portuguesa e francesa.
Manuel Gusmão foi poeta.
Da sua poesia, profundamente ligada à vida, ao povo de onde emanou, libertou-se a sua aspiração a uma outra vida, a uma outra sociedade, a um outro mundo.
Esta inserção do mundo na sua obra poética é, simultaneamente, a afirmação na poesia de um compromisso de emancipação assumido desde muito jovem e a impossibilidade de desligar o homem e o militante por uma nova sociedade, do poeta e do criador.
Como dizia, a "poesia pode ser uma forma de resistência"; "Ela resiste à quantidade de barbárie que em cada tempo insiste.”
Manuel Gusmão foi um dos maiores intelectuais do nosso País e do nosso tempo.
E assim foi pela sua obra literária e ensaística, mas por muito mais para além disso.
Pelo pensamento sobre o mundo, pela sua dimensão histórica, filosófica e política.
Contribuiu como poucos para a interpretação do tempo em que vivemos e para a compreensão histórica do papel dos trabalhadores, dos explorados, dos oprimidos, para a construção do seu devir colectivo.
Profundo pensador sobre a cultura enquanto factor de liberdade e emancipação, Manuel Gusmão foi um intelectual comprometido com o seu povo e com o seu tempo, essas matérias que davam corpo ao seu pensamento e à sua obra.
Foi um homem integral.
O seu compromisso ganhou força e sentido quando chegou a "esta assembleia de homens, explorados e livres, oprimidos e livres", que é o PCP, o seu Partido de mais de 50 anos.
Tornou-se membro do Partido a 2 de Maio de 1974, mas já tinha uma ligação regular e directa ao Partido desde 1971, tendo participado activamente na luta contra o fascismo, compromisso com essa luta que assumiu ao ponto de ter acolhido em sua casa, a viver durante 8 meses, um funcionário clandestino do Partido.
Partido no qual assumiu múltiplas tarefas, onde inseriu a sua humildade e generosidade, onde acrescentou o seu pensamento e reflexão.
Manuel Gusmão foi deputado constituinte e construtor desse documento histórico e actual que é a Constituição da República de 1976, foi deputado à Assembleia da República, foi membro do Comité Central do PCP, do IX ao XIX Congresso, foi da Direcção do Sector Intelectual e da Direcção da Organização Regional de Lisboa.
Inseriu-se nos múltiplos combates e lutas do Partido, onde esteve sempre, com a mesma forma empenhada, independentemente da organização ou tarefa e sempre com a profunda convicção da justeza da nossa luta, da sua necessidade e inevitabilidade.
Actualmente era membro da Comissão Nacional da Cultura do PCP junto do Comité Central.
A convicção no projecto que temos, que defendemos, que propomos ao povo português e aos trabalhadores de todo o mundo, a sua defesa firme e segura, ancorada na experiência e na luta dos povos, no conhecimento da exploração e da opressão, na análise filosófica e científica, nunca foram um obstáculo ao contributo que deu ao trabalho de promoção da unidade com outros democratas e patriotas, homens e mulheres progressistas, particularmente na academia e na cultura.
Assim foi na criação, logo após o 25 de Abril, do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, assim foi quando foi um dos impulsionadores da batalha unitária pela cultura protagonizada pelo Manifesto em Defesa da Cultura, assim foi quando foi um dos impulsionadores de um movimento em defesa da Constituição da República, assim foi quando contribuiu para o envolvimento de muitos democratas nas pequenas e grandes batalhas da cultura, da luta dos trabalhadores, do regime democrático, da luta pela Paz.
Ao Manuel Gusmão, à sua família, a todos os seus camaradas e amigos, aqui reafirmamos que continuaremos esta sua e nossa luta reforçados com o seu contributo, pensamento e acção.
E continuamos essa luta com a profunda convicção de que "nós somos a esperança que não fica a espera".