Nota do Secretariado do Comité Central do PCP

Faleceu Manuel Gusmão

Faleceu Manuel Gusmão

O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português informa com pesar o falecimento de Manuel Gusmão, destacado intelectual comunista, com uma ligação ao PCP de mais de 50 anos, e transmite à sua família os sentidos pêsames e a sua solidariedade neste triste momento. 

Com uma obra de grande vulto no panorama literário e académico, Manuel Gusmão é dos mais distintos intelectuais portugueses. 

Manuel Gusmão nasceu em Évora, em 1945. Poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário, professor universitário, foi um dos maiores nomes da literatura e da cultura portuguesa dos séculos XX e XXI.  

A sua obra poética e ensaística foi amplamente reconhecida e premiada, tendo recebido, entre outros, o Prémio PEN Clube Português para melhor obra de poesia, em 1997, com “Mapas, o assombro e as sombras”, e em 2009, com “A Terceira Mão”, bem como o de ensaio, com “Finisterra – o Trabalho do Fim: recitar a Origem”, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava, com a obra “Teatros do tempo”, em 2001, o Prémio de Poesia António Gedeão, em 2014, pelo "Pequeno Tratado das Figuras", o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, por "Tatuagem e Palimpsesto: da Poesia em Alguns Poetas e Poemas", ou o Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra literária, em 2005. 

A sua actividade como professor universitário, ensaísta e crítico literário enriqueceu o panorama dos Estudos Comparados e da Teoria da Literatura.  

Foi redactor das revistas “O Tempo e o Modo”, “Letras e Artes”, “Crítica” e “Seara Nova” e fez parte do Conselho Editorial da Revista “Vértice”. 

Foi distinguido pelo Estado português com a Medalha de Mérito Cultural, em 2019. Referiu então que a distinção era um “reconhecimento” da sua “militância cultural”, que se funde com a sua “militância política”. 

Da sua poesia, profundamente ligada à vida, ao povo de onde emanou, libertou-se a sua aspiração a uma outra vida, a uma outra sociedade, a um outro mundo. Esta inserção do mundo na sua obra poética é, simultaneamente, a afirmação na poesia de um compromisso de emancipação assumido desde muito jovem e a impossibilidade de desligar o homem e o militante por uma nova sociedade, do poeta e do criador.  

O seu contributo enquanto intelectual para a sociedade em que viveu foi muito para lá da estrita criação artística. A dimensão histórica, filosófica e política do seu pensamento contribuiu indelevelmente para a interpretação do tempo em que vivemos e para a compreensão histórica do papel dos trabalhadores, dos explorados, dos oprimidos, para a construção do seu devir colectivo. Manuel Gusmão foi um intelectual comprometido com o seu povo e com o seu tempo, matérias que davam corpo ao seu pensamento e à sua obra. 

Militante do PCP desde Maio de 1974, tinha ligação regular e directa com o Partido desde 1971. Participou na luta contra o regime fascista, apoiando tarefas do Partido, tendo tido em sua casa um funcionário clandestino do Partido a viver durante 8 meses e desenvolvendo actividade junto dos professores na CDE. 

Após o 25 de Abril a sua integração e intervenção partidária fez-se com grande intensidade: integrou o Secretariado da Célula dos Professores da Organização Regional de Lisboa do PCP e mais tarde o Secretariado de Artes e Letras, bem como a Direcção do Sector Intelectual. 

Em 1975 foi eleito deputado à Assembleia Constituinte pelo círculo de Évora e à Assembleia da República entre 1976 e 1979. Foi membro do Secretariado do Grupo Parlamentar do PCP. 

Manuel Gusmão foi ainda membro do Conselho da Comunicação Social. 

Membro do Comité Central do PCP do IX ao XIX Congresso, foi membro da Direcção da Organização Regional de Lisboa. Era actualmente membro da Comissão Nacional da Cultura junto do CC. 

Fez parte da Comissão Instaladora Provisória do Sindicato dos Professores, constituída em Maio de 1974, e da Comissão Directiva Provisória, eleita nesse ano. 

Manuel Gusmão foi um criador no campo da arte e da intervenção social e política. Teve, através desses dois caminhos nele convergentes, toda uma vida dedicada à cultura: à cultura dos que resistem e lutam, dos que sobrevivem e criam, dos explorados e dos humilhados. Homem, intelectual, militante do seu tempo, intervindo sempre, na poesia e na militância, para fazer um tempo novo. Intelectual de uma profunda cultura, construída e alicerçada no estudo e na estreita ligação com os trabalhadores e o povo português.  

Manuel Gusmão fala-nos da alegria, “contra todas as evidências em contrário”. Sabendo que a procurava sempre, e sempre com os seus camaradas e com os trabalhadores, porque “Nós somos a esperança que não fica à espera”. 

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