Intervenção de Nuno Coimbra, 2.º Encontro Nacional do PCP sobre Cultura

A participação juvenil na criação e fruição culturais

Camaradas,

Se para nós é notório os nocivos efeitos da política de direita no quadro da democratização no acesso à fruição e criação cultural, no caso da juventude estes fazem-se sentir de forma ainda mais palpável. 

No Movimento Associativo Popular, com os entraves colocados ao desenvolver do seu trabalho, o que é muitas vezes o primeiro local de contacto de criação e fruição cultural para muitos jovens está ameaçado, sendo limitada à priori a prática artística.     São muitos os casos em que o único local de acesso ao ensino artístico eà participação cultural  são instituições privadas, com um elevado custo de frequência, e com pouca presença em muitas zonas do país.      

São poucas as regiões do País em que é possível encontrar instituições de ensino artístico público, obrigando muitos estudantes ainda no ensino secundário a terem de somar aos custos do ensino os custos da deslocação de cidade. A acrescentar a esta realidade, estas mesmas instituições são subfinanciadas e encontram-se em condições precárias.

O Ensino Artístico possui em muitos casos uma lógica pedagógica individualista que fomenta a competitividade entre os estudantes e desprove a intervenção dos mesmos na cultura daquilo que seria o seu papel, do enriquecer o espírito de solidariedade entre os homens, portanto, da cultura assumir-se como um instrumento de luta e resistência. 

A falta de oportunidades de criação cultural para a juventude manifesta-se de várias maneiras. A falta de espaços físicos é um problema sentido por inúmeros jovens, das mais diferentes áreas ou moldes de criação cultural. Desde a impossibilidade ou a necessidade de excessiva deslocação (constrangedora para a vida dos jovens) para ensaiar bandas, grupos de teatro e de dança, revelar fotografias ou espaços para pintura e escultura. Camaradas nesta equação não podemos esquecer a importância que a exposição e a mostra assume no processo da produção cultural, para a experimentação e reconhecimento da mesma.

Os espaços de desenvolvimento de fruição cultural dos vários subsetores da cultura são ainda inacessíveis para muitos jovens. Particularmente relevante neste plano é a prática de preços incomportáveis para os mesmos, que a acrescer a isto sofrem pela desregulação e a sobrecarga horária e de trabalho extra escolar, problemas que se afiguram como ainda mais barreiras que impedem que esta estabeleça contacto direto com a expressão artística e com o património cultural.

A forma como no actual quadro a juventude se relaciona com a prática cultural é inseparável da política de direita e do caminho de elitização da mesma. É também sintoma da colonização cultural e da homogeneização da cultura. Cabe aqui à juventude, enquanto elemento decisivo no processo de transformação da realidade contrariar esta tendência e afirmar a cultura universal, alargando o seu espaço e possibilitando que cada indivíduo se consolide como criador, possuidor também de espírito crítico e não apenas consumidor passivo da mercadoria cultural que o grande capital nos procura vender. A cultura, quando emancipada do jugo da lógica meramente lucrativa do capital, afigura-se enquanto fator enriquecedor da luta da juventude.

Se houvesse dúvidas da importância da Cultura na vida da juventude estas não restam quando nos recordamos das mobilizações da mesma em defesa da criação cultural e do ensino artístico com direitos. Como é exemplo a luta dos estudantes da António Arroio e da Soares dos Reis por melhores condições nas suas escolas, a luta dos estudantes de Dança do Politécnico de Lisboa contra a degradação dos edifícios e por uma nova escola que garanta todas as condições necessárias, dos estudantes de Cinema contra o novo modelo de financiamento do cinema e de muitos outros estudantes do ensino artístico que sentem o desprezo pela cultura na falta de condições, no subfinanciamento e nas constantes ameaças de fechas as suas escolas como é o caso dos estudantes de Teatro da universidade de Évora e dos estudantes de artes visuais da universidade do Algarve e que defendem as suas escolas e o seu direito a uma educação pública de qualidade. Importa destacar ainda a petição da JCP, no quadro do Concurso de Bandas do Palco Novos Valores,  “Aumenta o Som! Baixa o IVA” que reivindicava a descida do IVA, concretizada através da luta em 2017, passando de 23 para 13%.

Cabe à juventude, e particularmente aos jovens comunistas, militantes da organização revolucionária da juventude portuguesa, a JCP, organizarem a luta em torno da democratização da cultura, pelo direito à criação e fruição cultural, mas também nos cabe a afirmação do património de luta do nosso povo e do património cultural humanista para a intensificação do processo de consciencialização da luta pela Democracia avançada com os valores de Abril no Portugal de Futuro.

Viva a JCP!

Viva o PCP!

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