Estimados convidados, caros amigos, caros camaradas.
Ao longo deste dia, temo-nos debruçado sobre a realidade de vinte anos de circulação do Euro. Vinte anos marcados por períodos de recessão, por estagnação, por uma grande insuficiência de crescimento económico, por retrocessos no plano social e laboral, por uma crescente subordinação política, por crescentes limitações à soberania e independência nacionais. A partir do momento em que deixou de ter formalmente uma moeda, um banco central, uma política monetária, financeira e cambial, independentes, Portugal tornou-se um dos países que menos cresce no mundo. Como outros países, Portugal atravessou ciclos económicos e crises, mas a moeda única não o protegeu, conforme tinha sido prometido, bem pelo contrário. Queremos debater o passado, o presente e o futuro. Nessa medida, a avaliação dos gravosos custos da adesão ao euro obriga-nos a considerar também os gravosos custos da permanência. Que caminhos queremos percorrer nas próximas décadas? Qual o significado – e os riscos – de projetarmos nos próximos anos ou décadas da vida nacional a presença deste enorme constrangimento estrutural que marcou as duas últimas décadas? Quais seriam (ou quais serão) os seus impactos? Os seus custos? Entendemos que nenhuma discussão séria sobre o futuro do país pode ignorar esta questão. Fazer de conta que o problema não existe não é solução. Neste contexto, é necessário ter a capacidade de debater, como aqui fazemos, de discutir com a população, o curso da integração, a União Europeia e o euro, também fora das crises, fora dos períodos de grande turbulência, em que tudo parece posto em causa e as propostas mais ou menos improvisadas se precipitam. É necessário evitar cair na armadilha, na perversidade ou no oportunismo de só nestes momentos discutir e fazer propostas. Se há quem acautele todos os cenários e soluções e para elas se prepare, Portugal tem de preparar também as suas soluções. O PCP assume esta necessidade, que é também uma responsabilidade. Este é um debate que recusa inevitabilidades. Partimos da posição de que o desenvolvimento do país reclama uma rutura com a submissão ao euro e a recuperação de instrumentos de soberania que, inseridos numa política alternativa, promovam o investimento, a modernização do aparelho produtivo, o aumento dos salários, a melhoria dos serviços públicos e das condições de vida da população. Eventuais custos desta rutura, necessariamente dependentes da sua forma de concretização e condução, devem ser contrapostos aos custos da sua ausência. Em qualquer caso, se o desenvolvimento do país reclama a remoção de um obstáculo que o entrava, essa discussão não deve ser evitada. É esse debate que queremos continuar, agora com outros convidados a quem agradecemos desde já a presença e o contributo que aceitaram dar para esta discussão.