Intervenção de Margarida Botelho, membro do Secretariado do Comité Central do PCP, Conferência «Uma visão universal e progressista da História - A actualidade da Obra de José Saramago»

Encerramento da conferência «Uma visão universal e progressista da História - A actualidade da Obra de José Saramago»

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Camaradas e amigos,

Está a chegar ao fim a Conferência “Uma visão universal e progressista da história – a actualidade da obra de José Saramago”, que integra o programa do PCP de comemorações do centenário de José Saramago.

Esta Conferência contou com as valiosas contribuições, reflexão, estudo e criatividade de vários camaradas e amigos – aos quais desde já reiteramos o nosso agradecimento - sobre múltiplos aspectos e dimensões da obra, da vida e da intervenção de José Saramago.

A música de Scarlatti, os poemas de Saramago musicados, a leitura dos seus textos, foram parte integrante desta Conferência, uma outra forma de exprimir e de trazer para a actualidade uma obra que a todos nos enriquece e torna mais humanos. Um agradecimento especial a Fernando Tavares Marques, Cátia Terrinca, Edite Queirós, Mafalda Njmeddine, Paulo Vaz de Carvalho e Pedro Marques.

Por esta Conferência passaram os poemas, as peças teatrais, as obras mais emblemáticas de José Saramago, do “Memorial do Convento” ao “Levantado do Chão”, da “História do Cerco de Lisboa” à “Jangada de Pedra”, do “Ano da Morte de Ricardo Reis” à “Caverna” e ao “Evangelho segundo Jesus Cristo”, entre tantas outras – com o olhar dos dias de hoje, a leitura dos trabalhadores e do povo, o contributo da reflexão académica, científica e literária, o compromisso de quem quer, como Saramago, empurrar a roda da História no sentido do progresso.

Por aqui passou o José Saramago que os grandes poderes combateram enquanto foi vivo e tentam, de novo, agora, ocultar: a criança de família de pobres, o jovem que foi trabalhar cedo demais, o resistente antifascista, o jornalista comprometido com o seu povo, o escritor que empenhou todas as suas forças, capacidades e prestígio para denunciar o capitalismo e defender o progresso social e a paz, o militante do Partido Comunista Português.

Aqui estiveram presentes os grandes problemas da actualidade: a exploração, a desumanização das sociedades, as desigualdades e discriminações, o obscurantismo, a manipulação de consciências, o fascismo, a guerra. Abordámo-los a partir de livros escritos, alguns há 40 anos, por um homem que faria este ano 100. Aqui nos debruçámos sobre as mais diversas épocas históricas, algumas de há centenas ou mesmo milhares de anos. E no entanto, creio que nos acompanham na consideração de que esta Conferência não podia ter sido mais actual, mais ligada à vida, ao quotidiano, aos problemas dos trabalhadores, do povo e do País e às suas aspirações nos dias de hoje.

Pode dizer-se que as obras dos grandes artistas são imortais. E são. Sobretudo obras como a de José Saramago, onde estão presentes valores universais: a liberdade, a democracia, a emancipação, a igualdade, a soberania dos povos, a paz, o respeito pela Natureza, a afirmação da humanidade, a esperança e a confiança nos povos, nos trabalhadores, na sua luta. A cultura, como sabemos, é também terreno da luta de classes e, nos dias que correm, bem intensa. É bom sentirmos que quem luta por tudo o que há de mais progressista e humano tem ao seu lado escritores que na sua obra espelham isso mesmo: a dimensão de beleza que emana desta marcha milenar contra a exploração, com os seus avanços e recuos, vitórias e derrotas, forças e contradições, uma marcha com sobressaltos mas imparável, que se reflecte nesta obra universal, que dá voz aos seus protagonistas, os verdadeiros construtores da história, os trabalhadores e os povos.

Esta Conferência pôr em evidência o papel da cultura como elemento de liberdade e de progresso social, na emancipação da humanidade. Deu expressão ao que o PCP entende por democracia cultural, indissociável das dimensões política, económica e social do seu projecto de uma Democracia Avançada para Portugal.

Quando o PCP apresentou o programa das comemorações do centenário de José Saramago, em Outubro de 2021, numa grande sessão pública no Fórum Lisboa, colocou como objectivo “contribuir para a divulgação e para o debate em torno da sua obra, para a democratização da cultura, com especial preocupação com as novas gerações, bem como para o conhecimento do seu papel na luta contra o fascismo, pelas conquistas de Abril, como militante comunista.”

Olhando para este ano, em que o PCP continuou a intervir para dar resposta aos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo e aos problemas nacionais, a lutar pela paz, a apresentar as suas propostas, podemos olhar com justo orgulho para o contributo dado a estas comemorações.

Promovemos largas dezenas de iniciativas em todo o país, de debates e sessões em torno das suas obras – em Mafra, Guimarães, no Funchal, em Lisboa, Faro, Vila Real de Santo António, Beja, Coimbra, Póvoa de Varzim, Leiria, Aveiro e Lagos – a outras iniciativas previstas para as próximas semanas em Almada, Coimbra, Silves e Montemor-o-Novo, bem como a realização de um acto que assinalará este centenário no Parlamento Europeu, por iniciativa dos deputados do PCP.

Realizaram-se também sessões e ciclos de cinema em Viseu, Coimbra, Santarém e Vila Real. Exposições de artes plásticas na Póvoa de Varzim e no Funchal e sessões culturais em Setúbal e no Seixal. Promoveram-se roteiros literários nas cidades de Lisboa e Évora. Teve lugar uma sessão a assinalar o aniversário da atribuição do prémio Nobel, no Centro de Trabalho Vitória do PCP, em Lisboa, no passado dia 8.

Ocorreu ainda uma emocionante sessão pública, na Azinhaga, concelho da Golegã, terra que viu nascer José Saramago a 16 de Novembro de 1922, com a participação de centenas de pessoas, a assinalar o seu centenário. Terra por onde andou até aos 2 anos, onde haveria de voltar e ficar até aos primeiros anos da adolescência e que tanto o marcou.

Demos à estampa a publicação do livro “José Saramago – um escritor com o seu povo”, apresentado na Feira do Livro de Lisboa, que “destaca a dimensão política da vida do escritor, através de depoimentos e textos diversos, da sua autoria e de outros, que ao longo dos anos foram publicados no Avante! e em outras publicações do PCP” – que podem encontrar lá fora, na banca, e que é um contributo indispensável a quem queira verdadeiramente conhecer e estudar a obra e a vida de José Saramago.

Na Festa do Avante! deste ano incorporámos elementos de valorização deste centenário, desde logo pela realização do grande concerto sinfónico “Música na Palavra de Saramago”, mas também no concerto de Paula Oliveira, nos debates realizados e no lançamento do livro, já atrás referido.

Um destaque especial para o programa próprio – e com o timbre de sonho e de projecto, de alegria e de confiança tão característico da juventude - que a JCP levou a cabo, com debates, sessões e roteiros literários, bem como com a promoção do concurso literário dirigido a jovens com o tema “Que seria de nós se não sonhássemos?”.

Camaradas e amigos,

O PCP realiza nos próximos dias 12 e 13 de Novembro a Conferência Nacional “Tomar a iniciativa, reforçar o Partido, responder às novas exigências”. No projecto de resolução que está em discussão na organização do Partido, referimos a necessidade de “tomar a iniciativa em defesa da cultura enquanto factor de realização e emancipação humana. Dinamizar a luta contra as tentativas de limitar a liberdade e diversidade culturais, o desinvestimento, a desvalorização, o condicionamento e segregação de artistas e outros profissionais, aspectos que são inseparáveis da mercantilização e instrumentalização da cultura. Impõe-se a dinamização da luta pela assumpção da cultura enquanto factor de desenvolvimento (...)”

Estamos certos que a conferência de hoje deu um contributo inestimável a esse objectivo. Saímos hoje daqui mais enriquecidos e fortalecidos para a luta que continua.

Uma luta que contará com o papel insubstituível do PCP, mas que não dispensa os contributos e a participação de tantos outros democratas e patriotas, portugueses preocupados com o presente e o futuro do País, que nos queiram acompanhar nesta marcha por um mundo melhor, por um Portugal com futuro.

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