José Saramago nasceu em Azinhaga (Golegã) em 16 de Novembro de 1922, numa família de pequenos agricultores. Em Lisboa, frequentou um curso técnico e teve o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico. Autodidacta, satisfazia a sua paixão pelos livros passando as noites na Biblioteca Municipal Central de Lisboa.
Em 1947 publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado. Nos anos seguintes dedicou-se à crítica literária na Seara Nova, à realização de traduções (de Tolstoi, Hegel, Baudelaire, Nazim Hikmet), à poesia, tendo publicado Os Poemas Possíveis (1966), Provavelmente Alegria (1970), O Ano de 1993 (1975), e ao jornalismo, tendo dirigido o Suplemento Cultural do Diário de Lisboa e exercido as funções de Director-adjunto do Diário de Notícias em 1975. Da sua actividade como jornalista resultaram os livros de crónicas Deste Mundo e do Outro (1971), A Bagagem do Viajante (1973), As Opiniões que o DL Teve (1974) e Apontamentos (1976).
O regresso de José Saramago ao romance, a partir de 1977, com Manual de Pintura e Caligrafia, viria a marcar decisivamente a sua obra e a literatura portuguesa. Em 1980 publicou Levantado do Chão. Em 1982 publicou aquele que é porventura o mais celebrado dos seus romances, Memorial do Convento e publicou sucessivamente O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), a História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio Sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), A Caverna (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), As Intermitências da Morte (2005), A Viagem do Elefante (2008), e Caim (2009).
Da obra literária de José Saramago constam ainda livros de contos, literatura de viagens, peças de teatro e vários volumes de diários e memórias.
Ao longo da sua carreira, José Saramago recebeu 18 prémios literários. Ao ser distinguido em 1998 com o Prémio Nobel da Literatura, o único atribuído até hoje a um autor de língua portuguesa, Saramago conferiu uma dimensão mundial sem precedentes à literatura, à língua e à cultura portuguesas e tornou-se o mais universal dos escritores portugueses, traduzido e editado em 27 países. Foi condecorado em Portugal em 1985 com a Ordem Militar de Santiago de Espada e em França em 1991 com a Ordem das Artes e das Letras Francesas. Recebeu o Grau de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim, Sevilha e Manchester.
A obra de José Saramago projectou-se igualmente na música, no teatro e no cinema. Muitos dos seus poemas foram musicados e interpretados por cantores como Manuel Freire, Luís Cília, Carlos do Carmo, Mísia ou Pedro Barroso. O compositor italiano Azhio Corghi levou à cena a Ópera Blimunda, baseada no Memorial do Convento, dramas líricos baseados nas peças teatrais In Nomine Dei e Don Giovanni e compôs sinfonias baseadas em vários textos de José Saramago. Os romances Jangada de Pedra e Ensaio sobre a Cegueira foram adaptados ao cinema com grande sucesso nacional e internacional.
José Saramago destacou-se também por uma intensa acção cívica e política. Em 1948 apoiou activamente a candidatura presidencial de Norton de Matos. Em 1969 aderiu ao Partido Comunista Português, partido de que foi militante até ao fim da sua vida. Em 1969 e 1973 desenvolveu intensa actividade nas candidaturas da oposição democrática (CDE). Em 1989 integrou as listas da Coligação Por Lisboa,indicado pelo PCP e foi eleito Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. Foi candidato a Deputado à Assembleia da República em diversas eleições pelo círculo de Lisboa e integrou as listas da CDU ao Parlamento Europeu em todas as eleições, desde 1987 a 2009.
Com uma obra intensamente ligada às mais profundas aspirações de progresso da Humanidade, a dimensão intelectual, artística, humana e cívica que José Saramago assumiu, fazem dele uma figura maior da cultura portuguesa e um vulto incontornável da literatura universal. A morte de José Saramago constitui uma perda irreparável para Portugal, para o povo português, para a cultura portuguesa.
A Assembleia da República, reunida em plenário, manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento de José Saramago e expressa aos seus familiares, e em especial a sua mulher, Pilar del Rio, e a sua filha Violante Saramago, as mais sinceras condolências.
Palácio de São Bento, 23 de Junho de 2010