A segunda volta das eleições legislativas em França fica marcada por um nível de abstenção histórico, de cerca de 57%, uma percentagem que, somada a votos brancos e nulos, se eleva a cerca de 61%, um elemento que, somado a um profundo descontentamento face às repetidas e falsas promessas de mudança em França e na União Europeia pelos partidos que se têm revesado no governo, traduz um profundo descrédito num sistema eleitoral anti-democrático que distorce gravemente a expressão da vontade popular. Um perverso sistema eleitoral que possibilita que, com apenas 32% dos votos expressos na primeira volta, as forças reunidas em torno do projecto político protagonizado por Emmanuel Macron totalizem cerca de 60% dos 577 lugares do parlamento.
Neste quadro e entre outros resultados, o Partido Socialista, do ex-presidente François Hollande, sofre uma derrota, passando de 280 deputados para 29, a UMP, partido tradicional de direita, embora reconfigurado em Os Republicanos, sofre igualmente um significativo recuo, passando de 194 deputados para 113, a Frente Nacional totaliza 8 deputados, o Partido Comunista Francês alcança 10 deputados e a França Insubmissa, cerca de 17 deputados.
Os resultados das eleições, embora não deixando de reflectir uma derrota para as forças políticas que protagonizaram a política de ataque aos direitos democráticos dos trabalhadores e do povo francês, nomeadamente durante os governos de Hollande e Sarkozy, significam a continuidade e mesmo o agravamento da política de intensificaçao da exploração e de retrocesso social, agora protagonizada por Macron, representante dos interesses do grande capital, que anuncia novos e mais gravosos ataques aos direitos laborais e sociais, aos serviços públicos, às liberdades, direitos e garantias fundamentais dos cidadãos impondo um «estado de excepção» permanente. Uma política que procura assegurar, em parceria com a Alemanha, um novo aprofundamento na política neoliberal, federalista e militarista da União Europeia contra os interesses, os direitos e as aspirações dos trabalhadores e dos povos da Europa.
O PCP, acompanhando com grande preocupação a evolução da situação política em França e as suas repercussões na Europa, expressa a sua confiança em que os trabalhadores e as forças progressistas francesas lutarão contra a instauração neste País de um poder autoritário ao serviço do grande capital francês e europeu, e defenderão os direitos e interesses dos trabalhadores e do povo francês no caminho da soberania, do progresso social e da paz.