Os recentes acontecimentos no Afeganistão, incluindo a entrada dos Talibã em Cabul, independentemente da sua evolução futura, constituem uma clara e humilhante derrota para os EUA, a NATO e todos quantos participaram e foram cúmplices com a sua estratégia de guerra e ocupação, incluindo sucessivos governos portugueses – guerra e ocupação que o PCP oportunamente denunciou e condenou.
Recorde-se que mais de 40 anos de ingerência e agressão dos EUA e seus aliados no Afeganistão, dos quais 20 anos de invasão e ocupação, são responsáveis por centenas de milhar de mortos, destruição, milhões de deslocados e refugiados, pela instauração de um regime sem legitimidade e minado pela corrupção, pela transformação do Afeganistão no maior centro de produção de ópio ao nível mundial – aspectos que são indissociáveis do rápido desfecho dos últimos dias.
Perante as falsas e cínicas preocupações sobre o respeito de direitos, recorde-se que foram os EUA e os seus aliados que promoveram e apoiaram as forças mais retrógradas e obscurantistas e a sua violenta acção contra a República Democrática do Afeganistão, instaurada com a Revolução popular de 28 de Abril de 1978, e as forças progressistas afegãs.
Recorde-se ainda o papel dos EUA e dos seus aliados na criação, fomento e apoio a grupos que se caracterizam pela sua acção terrorista, incluindo no Afeganistão, e à cínica invocação da denominada ‘guerra contra o terrorismo’ para justificar e concretizar a sua estratégia de domínio.
Face aos novos riscos e perigos que se colocam ao Afeganistão, aos direitos do seu povo, assim como à região da Ásia Central, o PCP chama a atenção que compete ao povo afegão – como a cada povo – resolver sem ingerências externas os seus problemas e optar pelo seu próprio caminho de desenvolvimento, contribuindo para que o Afeganistão deixe de ser instrumentalizado para promover a instabilidade na região.
Os recentes acontecimentos no Afeganistão reforçam a exigência do fim da ingerência e agressão levada a cabo pelos EUA, com o apoio e a cumplicidade dos seus aliados, nomeadamente da NATO, contra a Síria, o Iraque ou o Iémen, mas também da sua política de confrontação nas relações internacionais, incluindo o fim da ilegal e criminosa política de sanções e bloqueios económicos contra países e povos.
Os recentes acontecimentos no Afeganistão reforçam igualmente a exigência que a política externa portuguesa deixe de estar subordinada à política belicista dos EUA, da NATO e da UE, e que se paute pelo respeito da Constituição da República Portuguesa, da Carta das Nações Unidas e do direito internacional.