Muito boa tarde a todos e a todas.
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, o convite formulado. É para mim uma honra estar aqui presente neste dia a falar sobre um tema que é importante para todos nós e que é: a Humanidade. E já vamos perceber por que é importante para todos nós, e para mim, enquanto biólogo marinho, pois quando falamos em alterações climáticas não podemos esquecer os oceanos. Eles são o principal agente regulador do clima no nosso planeta.
Vou partilhar convosco algumas boas notícias e outras más notícias. Como certamente saberão, estamos num planeta que se chama Terra, que tem 4,5 mil milhões de anos de existência, no qual a humanidade marca presença há cerca de 300 mil anos. Ao longo da história do planeta Terra assistimos a ciclos pautados por alterações climáticas que conduziram ao desaparecimento de algumas espécies como os dinossauros, permitindo que os mamíferos explodissem em termos de diversidade biológica e atingíssemos o culminar da evolução biológica a espécie humana.
Portanto, a primeira boa notícia é que as alterações climáticas no passado foram benéficas para a Humanidade.
Há uma questão que é muitas vezes referida: a de que o planeta está em perigo. Eu tenho que discordar. E essa é a segunda boa notícia: não é o planeta que está em perigo, é o homem que está em perigo. É o planeta porque estamos a falar de um planeta que possui 4,5 mil milhões de anos e irá continuar a existir por mais uns milhares de milhões de anos.
O planeta vai continuar mas nós vamos desaparecer. Esta é a má notícia.
Quem está em perigo não é o planeta, somos nós! O capitalismo não é verde, e somos nós que somos postos em perigo. Enquanto não alterarmos a nossa sociedade, a relação entre povos e a relação com os recursos naturais, bem podemos mostrar gráficos sobre o aumento de temperatura que não iremos inverter tal tendência.
É de algum modo curioso perceber que o aumento significativo da temperatura e da concentração de carbono na atmosfera ocorre no pós-guerra, momentos marcados pelo crescimento global das ditas economias. Não é de estranhar. Houve necessidade de maior produção, maior consumo de recursos e consequente menor preocupação ambiental.
Não é por acaso que na década de 60/70 surgiram os primeiros movimentos ambientalistas. A primavera silenciosa já antecipava estas questões associadas à problemática ambiental, mas durante 50 anos, andámos de olhos fechados, a assobiar para o lado, à espera que nada acontecesse, mas está a acontecer.
Veja-se o caso dos eventos climáticos extremos que ainda há pouco tempo afectaram os EUA e outros países em desenvolvimento ou subdesenvolvimento. Mas parece que tudo é normal e não fazemos nada para alterar esta relação do homem com a natureza.
Mas se falarmos nos prejuízos brutais associados, de algum modo já conseguimos ter a atenção dos responsáveis para a problemática associada às alterações climáticas.
A Humanidade está em perigo, e temos de fazer algo para alterar a relação do homem, da sociedade com a natureza. Temos de encontrar ferramentas que permitam mitigar estas questões das alterações climáticas.
Cada vez é mais frequente a aparente preocupação de grandes empresas com temáticas ambientais, mas muitas das vezes não passa de um greenwashing. Assumem-se como grandes defensores da natureza, mas continuam a exercer elevados impactos no ambiente, não informando sobre todo o processo que leva à produção de um determinado produto que acabamos por consumir.
A nível nacional existe um problema grave associado aos fogos florestais e que decorre do aumento da temperatura, mas que se tem vindo a acentuar em virtude do afastamento do homem da natureza. Este afastamento reflecte-se em coisas simples, como o facto de não existirem rebanhos que possam fazer a limpeza natural das florestas. Se a actividade da pastorícia fosse mais intensa, existiria menos quantidade de biomassa disponível na floresta, tínhamos mais produção agrícola, tínhamos mais emprego, tínhamos mais inclusão social. Esta questão dos fogos florestais leva-nos claramente a reflectir na relação do homem com a natureza. No âmbito das Reservas da Biosfera da UNESCO pretende-se promover o equilíbrio entre a presença do homem, a conservação da natureza e o desenvolvimento sócio-económico. São estes os três pilares que temos de olhar em concreto e não tirar o homem da natureza.
Morre-se mais por doenças associadas ao consumo excessivo de alimentos (exemplo: diabetes e obesidade), do que por falta de alimentos. Então o que se passa? Ao nível da agricultura, em certos locais estamos a produzir em demasia, a produzir em locais em que o excesso de produção gera baixo rendimento para o agricultor, acabando, muitas das vezes, tal produção no lixo. O mais ridículo é que, por questões de normalização do produto, rejeitamos produção que não possua determinadas características. Temos aqui mais um exemplo daquilo que estamos a fazer mal em relação aos recursos e há soluções para ultrapassar essa fragilidade. Falamos cada vez mais de economia circular e de formas de fazermos o bom uso do recurso que existe no planeta Terra. Os ditos subprodutos não têm necessariamente de acabar no lixo, podendo ter uma segunda vida, uma terceira vida, uma quarta vida.
Cada vez mais é defendida uma produção local para consumo local. Nesse sentido, encontramos exemplos em que as questões de mercado levam a situações de desequilíbrio, com consequências graves para a qualidade ambiental. Não se consome amêijoas nacionais se se vir o preço da amêijoa vietnamita. Se chegam ao consumidor a um valor abaixo dos três euros é porque não estamos a pagar o recurso. Estamos a pagar o transporte e os combustíveis consumidos ao longo de milhares de quilómetros, com consequente aumento das emissões de carbono.
Temos por assumido que a natureza nos dá tudo, mas a humanidade não reconhece a importância da qualidade ambiental que sustenta o bom funcionamento dos ecossistemas naturais. Dependemos da Natureza para termos ar para respirar, dependemos da Natureza para termos água para beber, dependemos da Natureza para termos equilíbrios climáticos. O mau funcionamento dos serviços naturais, em consequência da acção do homem, acentua ainda mais a nossa vulnerabilidade. Não é o planeta que está em risco, somos nós!
Voltemos a centrar o problema nas pessoas! O que temos de fazer cada vez mais é sensibilizar para o impacto das alterações climáticas nas pessoas. Os jovens estão atentos, e não é por acaso que vamos assistindo a diversos movimentos em torno das alterações climáticas.
Enquanto biólogo tenho algumas dificuldades em compreender alguns conceitos económicos.
Como é possível falarmos em crescimento económico positivo, aumento contínuo de produção quando os recursos são limitados? Alguma coisa está mal neste sistema. Não podemos crescer indefinidamente, tem que haver limites. É que para alguns países crescerem em termos económicos, outros terão necessariamente de decrescer. É que para alguns países crescerem em termos económicos, terá de existir um aumento de consumo de recursos naturais que são limitados e cada vez mais escassos. A relação do Homem com a natureza tem de ser alterada e não será certamente com base em sistemas economicistas, mas sim num outro sistema que ponha o homem e a natureza no centro das políticas.