Assinalam-se hoje os 20 anos da guerra e ocupação do Iraque pelos Estados Unidos da América e os seus aliados. A “Guerra do Iraque” de 2003 constituiu uma aberta violação do direito internacional e da soberania daquele país, um crime desencadeado com base numa campanha de mentiras, ficando para a História a inqualificável encenação do então Secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU, apresentando um rol de falsidades quanto à existência de “armas de destruição maciça” no Iraque que, como se veio a comprovar, não existiam.
A agressão ao Iraque em 2003 e a espiral de guerra que desencadeou, na sequência da “Guerra do Golfo” de 1991 e de dez anos de imposição de criminosas sanções e ataques à soberania e integridade territorial do Iraque, traduziu-se em milhões de mortos e feridos e em muitos milhões de desalojados e refugiados. Um dos mais desenvolvidos países no Médio Oriente, que tinha ao longo de décadas consolidado um regime não confessional, viu as suas infraestruturas e a sua economia destruídas pela guerra e as sanções, com devastadoras consequências para toda a sua população.
Nenhum dos responsáveis pela destruição e ocupação do Iraque, ou por crimes associados como as ignóbeis torturas nas prisões dos EUA no Iraque – de que Abu Grahib foi o mais tenebroso exemplo – foi alguma vez chamado a responder pelos seus crimes de guerra e as suas mentiras, ou por declarações como a de Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado dos EUA, que afirmou em 1996 que a morte de meio milhão de crianças iraquianas como resultado das sanções, então em vigor, “valeu a pena”.
Pelo contrário, os subservientes e colaboracionistas com esta política de guerra e mentiras foram premiados. Durão Barroso que, enquanto primeiro-ministro dum Governo PSD-CDS, atrelou vergonhosamente Portugal à guerra e ocupação do Iraque, acolhendo no nosso território a famigerada Cimeira das Lajes, entre Bush, Blair e Aznar, a 16 de Março de 2003, foi promovido a Presidente da Comissão Europeia no ano seguinte.
Participaram na guerra contra o Iraque forças militares dos EUA, do Reino Unido, da Austrália e da Polónia. Vários outros países, incluindo Portugal, enviaram mais tarde contingentes militares para assegurar a ocupação. Ainda hoje, e não obstante a exigência pelo Parlamento iraquiano da total retirada de tropas estrangeiras, permanecem no Iraque mais de 2500 soldados norte-americanos, que alimentam a desestabilização no país e na região.
A guerra e ocupação do Iraque pelos EUA e seus aliados é apenas um dos muitos exemplos da estratégia de guerra e confrontação promovida pelo imperialismo norte-americano. No dia 24 de Março assinalam-se 24 anos do início dos bombardeamentos da NATO contra a Jugoslávia, na sequência do primeiro de vários alargamentos da NATO ao Leste da Europa. Ontem, dia 19 de Março, passaram 12 anos do início dos bombardeamentos da NATO contra a Líbia, num momento em que os EUA e seus aliados punham igualmente em marcha o plano de ingerência e agressão contra a Síria, armando e financiando organizações terroristas e abrindo o caminho para a guerra contra mais um país no Médio Oriente.
Aqueles que agora se assumem como imaculados defensores do direito internacional e da soberania e integridade territorial dos Estados, são os mesmo que decidiram, concretizaram ou apoiaram estas e muitas outras violações da Carta da ONU e dos direitos dos povos, deixando atrás de si um rasto de caos e destruição que permanece até aos nossos dias.
A guerra e ocupação do Iraque em 2003 representou um novo salto qualitativo na estratégia de impor pela força a hegemonia planetária do imperialismo norte-americano, após o desaparecimento da União Soviética. Tratou-se de um crime que deixou muito claro que a estratégia agressiva dos EUA e dos seus aliados visa todos os países que afirmem a sua soberania e independência, não obstante os seus sistemas sociais e económicos. É neste contexto que o imperialismo promove uma escalada de confrontação e guerra, nomeadamente na Ucrânia, em que se insere o cerco à Federação Russa e, de forma cada vez mais aberta, à República Popular da China, comportando o perigo real duma catástrofe mundial.
O capitalismo em profunda crise encontra sempre milhares de milhões para financiar a guerra e para enterrar no seu sistema financeiro mergulhado em crises sem fim. Mas para os povos deixa o aumento da exploração e o ataque aos direitos, o empobrecimento, a miséria, a destruição. Cabe aos povos resistir e lutar contra esta política de retrocesso, rapina e guerra que constitui um perigo para a própria sobrevivência da Humanidade, erguendo uma ampla frente anti-imperialista, pela paz, a soberania, a justiça e o progresso social.