Os ventos podem mudar de direcção, na Europa. Vivemos meses muito importantes para os jovens, as mulheres, os desempregados, os trabalhadores, os reformados, para diferentes camadas sociais, para as massas populares da Europa. Vivemos meses importantes porque a ofensiva contra a sua condição pode vir a enfrentar novas resistências e porque, a partir deste conflito, podem surgir formas de luta mais adequadas, em torno de objectivos que ganhem nova força, credibilidade e vigor.
Os ventos podem mudar.
Vivemos meses importantes para as esquerdas, para as forças antagónicas, para os comunistas europeus. Vivemos meses importantes porque podem vir a cair exclusões e vetos anti-comunistas, porque podem vir a afirmar-se novos – embora difíceis – caminhos de unidade na luta entre forças diversas.
Os ventos podem mudar, na Europa.
Cabe-nos a nós, em primeiro lugar, fazê-los mudar. Mas hoje este objectivo começa a ser possível. As políticas neoliberais são, e serão cada vez mais, agressivas. Visam reduzir o trabalho e os trabalhadores a meras mercadorias, que se podem usar e deitar fora quando deixam de servir. Visam destruir as conquistas sociais de meio século de lutas. Visam destruir o Estado Social. Os interesses e as forças que promovem as políticas neoliberais são fortes. Mas já não conseguem esconder a sua crise. A Europa de Maastricht e das políticas neoliberais é um continente rico. Mas no seu seio aumentam dramaticamente a pobreza e as exclusões. Aumenta o número de pobres e a miséria volta a afectar mesmo aqueles que já se haviam libertado dela através de grandes lutas. Mas a condenação mais irrevogável da Europa de Maastricht é o desemprego: um desemprego duro, pesado como uma rocha, um desemprego em massa que esmaga a civilização europeia, que corrói as suas bases e mina a coesão social. Não existe civilização, não existe civilização europeia, lá onde existe desemprego em massa.
As próprias economias nacionais marcam passo. A própria perspectiva da moeda única europeia torna-se incerta. A Europa dos bancos e das empresas esmaga a política, corrói a democracia e enche-nos de desempregados. Para não ter de enfrentar a crise das políticas liberais, agora as classes dominantes e os eurocratas, ou seja, os adversários da Europa dos povos, partem ao assalto do Estado Social, ou seja, da base material da Europa. Sem o Estado Social, a Europa torna-se uma província dos Estados Unidos da América. Sem o Estado Social a Europa transforma-se num território dominado pelas leis da globalização capitalista, um território sem qualidade. A ofensiva liberal contra o Estado Social deve e pode ser travada. A luta pela reforma do Estado Social pode ser o ponto de partida para uma contra-ofensiva de classe, democrática, das mulheres e dos homens da Europa.
Novos sujeitos sociais podem vir a ser mobilizados; novas culturas críticas podem crescer; um novo bloco social pode começar a delinear-se; as esquerdas antagónicas podem pôr na defensiva as social-democráticas e moderadas.
Os ventos na Europa podem mudar.
Em todos os países crescem lutas importantes, que infelizmente não se têm encontrado ao nível europeu. Há que lutar para unificá-las. A greve europeia dos trabalhadores da Renault indica uma perspectiva de trabalho. Os patrões estão unidos em torno das políticas de globalização. Nós também temos de saber fazê-lo.
Os trabalhadores têm muitas razões de descontentamento e de protesto, mas os sindicatos não os têm organizado com objectivos avançados e em lutas unificadoras. Temos de empurrar o movimento sindical onde quer que hoje não ocupe as posições que devia ocupar, à cabeça dos trabalhadores com empregos estáveis e precários, dos desempregados, dos trabalhadores que estão nos seus próprios países e dos trabalhadores imigrados, a fim de construir uma nova unidade na luta.
Os patrões pretendem até aumentar a idade de reforma dos trabalhadores. Querem menos trabalhadores, mas que trabalhem mais. Seria um desastre para a Europa. Acabaria por não sobreviver nem o Estado Social, nem a democracia. A fim de reformar o Estado Social, a fim de alargar a democracia, a Europa tem de mudar de rumo, tem de optar pela via da alternativa. É preciso trabalhar menos, e que trabalhem todas e todos. Comecemos este novo curso ligando a defesa e a reforma do Estado Social à construção dum movimento, em todos os países europeus, pela redução do horário de trabalho sem redução de salários.
Em Itália, onde derrotámos a direita, ainda não conquistámos uma política de reformas. Mas foi travada a exigência dos patrões e da direita de cortar as pensões e a saúde.
Blair não representa uma política alternativa, mas os conservadores foram derrotados na Grã-Bretanha. Se, como desejamos, as esquerdas vencerem em França, muitas coisas mudarão em toda a Europa.
Sim, os ventos podem mudar na Europa.
Mas, em última análise, só mudarão se novas lutas sociais surgirem, se se tornar visível uma alternativa a Maastricht, se a esquerda anticapitalista se tornar protagonista dum renascimento mais amplo de todas as esquerdas, se começar a nascer uma outra Europa, a nossa Europa, a Europa dum novo modelo social, do modelo social do pleno emprego, de um trabalho digno para todas e para todos. Apenas nós estamos em condições de empreender este novo rumo. Façamo-lo!
Os ventos podem mudar!