Quero em nome do Partido Comunista Português começar por saudar todos os participantes e muito especialmente os nossos convidados estrangeiros neste Comício Internacional, cuja realização é, só por si, uma significativa manifestação de esperança e confiança no futuro, e um contributo para o reforço da cooperação entre forças da esquerda e progressistas.
De forças que independentemente das diferenças e dos distintos percursos, aqui quiseram demonstrar a sua luta comum e oposição à ofensiva do grande capital contra o emprego com direitos, os salários reais e o desmantelamento dos sistemas de segurança social.
A sua luta comum pela transformação da vida e por uma outra Europa.
De forças que recusam o credo neoliberal e os dogmas do pensamento das classes dominantes, o chamado "pensamento único", mostrando que há alternativas, outras propostas, outras medidas e outros projectos.
Pela nossa parte pensamos que perante a Europa de Maastricht e a ofensiva global contra as conquistas dos trabalhadores e dos povos e a complexidade das questões que temos pela frente, mais necessário se torna a nossa reflexão conjunta, a solidariedade, as intervenções e as lutas comuns, complementares ou convergentes.
Tendo naturalmente em conta as especificidades de cada país há muitos objectivos que podem congregar os nossos esforços comuns, como sejam: a luta para que sejam os povos a decidir do futuro da Europa, a luta pela redução do horário de trabalho sem perda de salários, pelo emprego com direitos, pela taxação dos movimentos de capitais especulativos e parasitários que alimentam a economia de casino. Bem assim como, o combate pela harmonização progressiva e por cima das conquistas sociais, e por uma integração europeia que tenha por objectivos centrais não a acumulação do capital financeiro e a dominação, mas a convergência real das economias, o diálogo das culturas, a paz e o desenvolvimento com a sua dimensão social e ambiental. E manifestando-nos por uma Europa de paz, há também a convergência da luta contra o reforço e o alargamento geográfico da NATO.
Às forças do grande capital é necessário opor o reforço da luta e da solidariedade dos trabalhadores e dos povos.
Pela nossa parte rejeitamos e combatemos as "milongas" e os fundamentalismos dos que pretendem condicionar as consciências procurando fazer crer às populações de que não há alternativa ao capitalismo e ao desemprego, que os jovens de hoje, e os trabalhadores do amanhã, têm que se habituar, em nome da modernidade, a terem por vezes trabalho mas a não terem emprego, como se este fosse um privilégio e não um direito. A procurarem fazer crer em nome da modernidade, que o pleno emprego é uma utopia, que a acentuação das desigualdades, a pobreza, a exploração e a polarização da riqueza pertencem à ordem natural das coisas...
Entendemos que o caminho não é o da "adaptação", não é a abdicação da luta para se ter a respeitabilidade do grande capital, nem é ter-se uma prática de direita e um discurso hipócrita com a afirmação da "sensibilidade social", mas sim, o da coerência entre as palavras e os actos, o do combate firme pelo emprego, pelos salários e pelos direitos, o da luta pelo aprofundamento da democracia em todas as suas vertentes.
Os povos resistem e lutam. No nosso País a dimensão das comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio, a luta pelas 40 horas e, entre outras, as lutas dos ferroviários, dos professores e estudantes, dos trabalhadores do STAL, da Siderurgia, do Sector Naval e da Grundig — que daqui saudamos — aí estão a comprová-lo.
Nós dizemos não à Europa de Maastricht, aos seus critérios, à sua União Económica e Monetária e ao seu Banco Central sem qualquer controlo democrático.
O caminho da modernidade e do progresso, não é entrar no século XXI com o cortejo das chagas sociais e com as conquistas e direitos dos trabalhadores ao nível do princípio do século, mas sim lutar por avanços de civilização, pela construção de uma nova sociedade num projecto humanista, enriquecido e renovado que acolha o melhor do património já conquistado pelo movimento popular e que esteja aberto para as necessidades que o devir histórico seguramente trará.
Aos nossos amigos, aos nossos convidados, às forças de esquerda queremos aqui reafirmar que continuaremos a lutar por uma União Europeia de emprego, de "coesão económica e social", de paz e cooperação. Queremos aqui reafirmar que podem contar sempre e sempre com a solidariedade activa do Partido Comunista Português. De um Partido, que não esquece que a grande causa a que consagra a sua luta é também uma grande causa universal, que não esquece a contribuição e o apoio que decorre para a sua própria luta, das experiências, das reflexões, dos êxitos e dos avanços das forças progressistas de outros países. A luta continua!
Viva a cooperação entre as forças da esquerda e progressistas !
Viva a solidariedade e a unidade da classe operária e de todos os trabalhadores !