Foi um grande comício este nosso Comício Internacional de Lisboa. Pela importância e oportunidade política do seu tema central. Pelo amplo leque e alto nível das forças políticas participantes. Pelo seu carácter de massas, em que é justo sublinhar a grande e aguerrida mancha de juventude e o esclarecido e combativo calor de solidariedade internacionalista que percorreu todo o comício. E mesmo, apesar das mudanças de última hora impostas por condições climatéricas hostis, pela beleza do cenário que a onda de bandeiras vermelhas realçava.
No Campo Pequeno todos os oradores disseram em diferentes línguas duas coisas fundamentais. O desemprego e a regressão social não são uma fatalidade com que os trabalhadores e os povos tenham de conformar-se. O fortalecimento da cooperação e da solidariedade internacionalista, o desenvolvimento de acções comuns ou convergentes, é uma exigência fundamental da hora presente. Neste sentido o Comício Internacional de Lisboa constitui sem dúvida um novo e importante marco no processo de aproximação e cooperação dos comunistas e de outras forças de esquerda e progressistas que, para ser consistente, se quer profundamente vinculado com a classe operária e as massas populares, enraizado nos seus problemas concretos e inseparável das suas lutas.
Sim, há solução para o gravíssimo problema do desemprego que afecta duramente todos os países da União Europeia e é hoje um dos grandes flagelos da Humanidade. As extraordinárias conquistas da ciência e da técnica tornam hoje possível que todos trabalhem trabalhando menos tempo. Se sucede precisamente o contrário, se milhões de seres humanos são brutalmente colocados à margem do processo produtivo, e reduzidos à condição de meros "excedentes", é porque o grande capital se apropriou e utiliza em proveito próprio essas extraordinárias conquistas da inteligência e da criatividade humana. E em lugar de factor material decisivo do progresso social e da emancipação humana, o progresso científico torna-se, nas condições do capitalismo contemporâneo e da acentuação do seu carácter explorador, injusto e desumano, um factor de opressão e regressão civilizacional.
A solução desta violenta contradição engendrada pelo capitalismo não está obviamente num novo tipo de "ludismo" desesperado e destruidor, mas no desenvolvimento da luta contra a ofensiva neoliberal e por profundas transformações económicas e sociais de natureza anticapitalista. A dinâmica da luta pelo direito ao emprego e pelo pleno emprego com direitos situa-se objectivamente na corrente da luta pela reestruturação revolucionária da sociedade, na perspectiva do socialismo.
Esta reflexão vai obviamente muito para além do âmbito em que se situou o nosso Comício e significa apenas que na nossa acção em torno de objectivos concretos e imediatos não perdemos de vista a perspectiva revolucionária mais ampla em que inserimos a nossa luta. Como também não perdemos de vista que, tendo sido o nosso Comício Internacional necessária e muito justamente limitado às forças que cooperam no âmbito do grupo da EUE/EVN do Parlamento Europeu, a exigência de cooperação dos comunistas e outras forças de esquerda e progressistas nem se esgota no espaço da União Europeia nem se contrapõe a uma mais ampla cooperação no plano europeu e mundial. A problemática que esteve no centro do comício de 24 de Maio é universal, como universal é hoje o sistema de exploração e opressão capitalista que a gera.
Entretanto, atentos e intervenientes no vigoroso movimento de resistência e lutas populares que se desenvolve por toda a Europa, estimulados pelo grande êxito do Comício Internacional de Lisboa, prosseguiremos com renovada confiança os esforços para unir todas as forças de esquerda e do progresso social na luta para fazer frente à "construção europeia" de Maastricht e por uma Europa de progresso social, paz e cooperação. Como foi veementemente sublinhado no Campo Pequeno "A luta continua!" e, quaisquer que sejam as interdições impostas pelo poder dominante, acabarão sempre por ser os povos a decidir do seu próprio futuro.