O caminho mais seguro para a conquista de uma alternativa de esquerda é os democratas, os homens e as mulheres de esquerda perceberem que são as suas aspirações de uma nova política e não apenas de outro governo e as suas escolhas, também eleitorais, que mais podem assegurar um novo e esperançoso rumo para a política nacional.
Haverá certamente democratas que pensam que todas as dificuldades se resolveriam com diálogo e alguma simpatia entre dirigentes dos partidos à esquerda do actual governo. A vida há muito que confirmou que não é assim e por isso continuamos a pensar que os democratas, os homens e as mulheres de esquerda não podem ser meros espectadores, deste processo.
A situação de crise profunda que o país atravessa, com graves consequências no plano económico e social, que são o resultado em primeiro lugar das políticas de direita que ao longo de trinta anos depauperaram o aparelho produtivo nacional, violaram sistematicamente os direitos mais elementares dos trabalhadores e que têm levado ao empobrecimento do próprio regime democrático, releva para primeiro plano o objectivo de fazer convergir em torno da exigência de uma política alternativa e de uma alternativa política de esquerda, todos aqueles que aspiram a uma verdadeira alternativa de esquerda, aquela em que pesam e em que contam decisivamente as propostas do PCP.
É neste quadro de profundo descontentamento social que atinge não apenas os sectores mais fragilizados da sociedade portuguesa, mas também sectores da pequena e média burguesia e que provoca sinais contraditórios - por um lado revolta, e por outro o “deixar cair os braços” - que o trabalho político unitário assume particular importância. Um trabalho a exigir de todo o Partido uma empenhada intervenção no sentido de fazer convergir para a luta todos aqueles que estão dispostos, que estão disponíveis a lutar pela concretização da mudança.
O desânimo, a descrença, a falta de esperança, a abstenção, a desistência das escolhas políticas e eleitorais que melhor podem defender os interesses do povo da política de direita, só ajudariam à continuação da política de direita contra os trabalhadores.
Emerge assim com redobrada actualidade o que está inscrito no programa do Partido e passo a citar «A luta permanente e quotidiana em defesa dos interesses do povo e do País, o combate firme e persistente à política de direita, o reforço da unidade da classe operária, o empenho na formação de uma vasta frente social de luta, os progressos na convergência e unidade dos democratas e patriotas, a conjugação da luta eleitoral e institucional com as lutas de massas – factor determinante na evolução da vida nacional – e a concretização de soluções políticas progressistas fazem parte e inserem-se na luta por uma democracia avançada no limiar do século XXI.»
Há por isso que, com determinação e confiança, transformar o enorme descontentamento em formas concretas de intervenção, combatendo voluntarismos, mas, sobretudo, combatendo as hesitações e os atentismos que enfraquecem e paralisam a luta, assumindo o trabalho político unitário como uma tarefa de todo o Partido, desde logo na atenção que temos de dar ao envolvimento dos membros do Partido nas organizações sociais de massas, particularmente as representativas dos trabalhadores.
É que para o PCP os trabalhadores portugueses são, e têm de ser ainda mais, uma força essencial para a concretização da mudança de rumo na política nacional a que aspiram, uma mudança que ofereça uma nova esperança para os portugueses e para o Portugal de Abril.
Há quem pense que o agravamento continuado dos problemas e sofrimento dos portugueses é sobretudo um bom terreno de capitalização eleitoral, negando, de acordo com a sua natureza social democratizante, o papel central da luta dos trabalhadores e da classe operária.
Hoje, como no passado, o primeiro dever do Partido é estar presente com todo o seu empenhamento e determinação em todas as batalhas, estimulando e ajudando a organizar o protesto, a resistência e a luta que visem derrotar esta ofensiva contra os direitos, interesses e condições de vida dos trabalhadores e do povo.
Propomo-nos trabalhar decididamente para ampliar ainda mais a contribuição dos comunistas para o desenvolvimento dos movimentos e lutas sociais e para afirmação na sociedade portuguesa de um vasto e actuante movimento de opinião unido em torno dos grandes valores e propostas de uma política de esquerda.
O trabalho político unitário não se esgota nas eleições, ele é e será sempre um instrumento para o alargamento da unidade em torno de objectivos muito concretos.
Unidade que não se forma e se desenvolve apenas pela simpatia manifestada em torno de um ou mais objectivos, desta ou daquela ideia, mas que se forja na luta. A situação de crise que se vive no país fruto de 30 anos de política de direita, agravada com a crise geral do capitalismo, colocou na ordem do dia a necessidade de trazer para a luta pela ruptura com a política de direita todos aqueles, incluindo muitos dos que estiveram na base de apoio eleitoral do PS nas últimas eleições.
É neste contexto que 2009 assume uma relevância extraordinária se tivermos em conta que, para além da luta pela interrupção da política de direita no quadro da luta por uma alternativa política de esquerda, se realizar, separados por apenas quatro meses, três actos eleitorais cujos resultados vão influenciar a política nacional nos próximos anos.
O alargamento da base social e política de apoio à CDU, transformou-se por isso, num importante objectivo para 2009.
A CDU, para além das forças políticas que a integram, é também um espaço de participação e intervenção de milhares de independentes, aberto à convergência e participação de todos aqueles que sendo atingidos pela política de direita do PS reclamam uma vida melhor e estão empenhados na ruptura com a política de direita.
Mas a CDU afirma-se também, com redobrada actualidade, como um grande e reforçado espaço de convergência democrática e de alternativa política, de todos aqueles que afrontados pela política de direita, hoje exigem a ruptura com essa política e uma inequívoca e consistente política de esquerda.
É neste quadro que chamamos a atenção para três questões que consideramos centrais:
Desde logo porque o alargamento da CDU deve ser entendido como uma preocupação de todo o Partido e não apenas dos organismos de direcção centrais e regionais, pelo que a discussão e preparação desta tarefa deve percorrer toda a estrutura partidária;
Uma segunda que resulta do facto das movimentações com origem no BE e em Manuel Alegre destinadas a polarizar apoios de sectores democráticos desiludidos com o governo e a sua política, colocarem como tarefa prioritária a dinamização e afirmação da CDU;
Por fim o intenso trabalho político e de reforço orgânico do Partido durante este ano, simultaneamente com três eleições, exige desde já a nível de cada uma das organizações regionais um plano de trabalho para o ano de 2009 que integre a atribuição de responsabilidades, metodologias, calendários específicos e o controlo regular de execução, considerando que nesta fase a prioridade deve ser a elaboração de listas de pessoas a contactar e a definição de quem é o responsável pelo contacto.
É que ao contrário de outros que não escondem uma indisfarçável ambição de hegemonização da esquerda, mas que na sua actividade mergulham em cheio na política espectáculo, na demagogia a qualquer preço escondendo dessa forma as suas reais posições, nós mergulhamos, e queremos mergulhar mais, mas é na substância dos problemas e aspirações populares, no calor da luta que forma, informa e ajuda a determinar as causas, as responsabilidades e as novas soluções.