Perante o voto de Pesar e Condenação pelo genocídio de cristãos e outras minorias religiosas em África e no Médio Oriente apresentado pelo CDS, e tendo em conta os pressupostos enunciados no texto que, entre outros negativos aspectos, instrumentalizam a religião para ocultar os responsáveis pela dramática situação em países do Médio Oriente e de África, o Grupo Parlamentar do PCP absteve-se tendo apresentado a seguinte declaração de voto:
Voto de Condenação pelo genocídio de cristãos e outras minorias religiosas em África e no Médio Oriente
Este voto é elucidativo da forma como o CDS vê o Mundo. Nele podemos encontrar alguns dos elementos que serviram de propaganda a violentas guerras e agressões contra povos inteiros.
O PCP demarca-se dos pressupostos apresentados no texto do voto. Fazemo-lo para defender e proteger os católicos, os cristãos, os muçulmanos, os cristãos ortodoxos, e todas as outras confissões religiosas do Mundo. Isto porque este voto não protege ninguém, bem pelo contrário.
Ao dividir o Mundo entre Ocidente e Islão, ao aplicar o termo Genocídio, com toda a responsabilidade que isso implica, a grupos propositadamente identificados com base na sua confissão religiosa, quando bem sabemos, infelizmente a abrangência das vítimas destes e de outros crimes, o CDS/PP entra numa lógica que recusamos e que oculta as verdadeiras razões do terrorismo e de outros crimes.
Aliás, o CDS/PP está um pouco desfasado no tempo. O discurso do choque de civilizações teve o seu auge há duas décadas, era então Presidente dos EUA, George W. Bush. Os resultados estão à vista. E a lógica da luta contra os infiéis também já tem, neste caso, uns largos séculos.
O PCP demarca-se deste voto porque sob uma capa de justa condenação de hediondos crimes contra povos das regiões de África e do Médio Oriente, no fundo alimenta a lógica da divisão, do sectarismo religioso, e do fundamentalismo religioso.
Condenamos o terrorismo, todas as formas de terrorismo, incluindo o terrorismo de Estado. Não usamos irresponsavelmente o termo genocídio para efeitos de propaganda de guerra. Estamos na primeira linha da luta pela paz, pelo respeito da soberania dos povos, da sua convivência pacífica, nomeadamente entre confissões religiosas, defendemos intransigentemente todas as liberdades, incluindo a liberdade religiosa.
E é exatamente por isso que nos demarcamos num voto que em vez de apelar à tolerância, instiga ao ódio religioso; que em vez de apelar à união contra os criminosos, divide as suas vítimas; que em vez de assumir o combate às causas destes crimes, abre campo à violência reafirmando o lastro ideológico que está na origem da guerra, dos conflitos e dos hediondos crimes do Daesh, do Boko Haram e do Al-shabaab.
Organizações aliás com ligações diretas e indiretas aos Estados Unidos, às grandes potências militares da NATO e da União Europeia, às milionárias ditaduras do Golfo e à Turquia cujo acordo com a UE os senhores apoiam. Convenhamos que estes vossos aliados não são propriamente os melhores exemplos de liberdade e tolerância religiosa
Por solidariedade com os Cristãos e com todos os outros seguidores de outras confissões religiosas em todo o Mundo. Pela Condenação do fanatismo religioso e do fundamentalismo. Por solidariedade com todos os povos do Mundo que são vítimas de guerras de agressão e de terríveis crimes alimentados pela lógica que perpassa neste voto.
Demarcamo-nos dele.