(interpelação n.º 18/XII/4.ª)
Sr.ª Presidente,
Sr. Ministro,
O senhor teve o descaramento de falar aqui de ética social na austeridade, quando uma das expressões mais chocantes e dramáticas dos tempos que vivemos é a pobreza infantil. A pobreza infantil não é obra do acaso, tão-pouco é apenas resultado do desemprego, e o Sr. Ministro sabe disso.
A pobreza infantil é o resultado direto das opções do Governo PSD/CDS, da precariedade, dos baixos salários e do corte nos apoios sociais.
A fome e as carências alimentares são hoje uma realidade com que muitas famílias vivem. Há mais de 14 000 crianças que tomam a sua única refeição quente na escola; 30% das crianças encontram-se numa situação dramática de privação material. A pobreza infantil é um sinal de retrocesso civilizacional e de degradação da democracia.
Diga-nos aqui, Sr. Ministro, se o combate à pobreza infantil se faz cortando o rendimento social de inserção a mais de 40 000 crianças desde 2010 — há 40 000 crianças que, desde 2010, perderam o rendimento social de inserção — ou se faz, pelo contrário, com a solução que o PCP tem apresentado, garantindo os apoios sociais a todas as crianças e famílias que efetivamente precisam.
Diga-nos se o combate à pobreza infantil se faz mantendo o corte no abono de família que vem do anterior Governo, do Partido Socialista, e agravando esse corte a mais de 200 000 crianças ou se faz, como o PCP propõe, assegurando a universalidade e o aumento do valor do abono de família para todas as crianças.
Diga-nos se o combate à pobreza infantil se faz cortando 36 milhões de euros na educação especial e recusando pagar o subsídio de educação especial a milhares de crianças, criando uma situação de desespero a milhares de famílias neste País, ou se faz, pelo contrário, assegurando os meios técnicos e pedagógicos que garantem a inclusão efetiva destas crianças e dos cidadãos com deficiência.
Diga-nos se a proteção à infância se faz despedindo, ameaçando e enviando para a requalificação, que é a antecâmara do despedimento, a Presidente da CPCJ de Santigo do Cacém. É assim que se concretiza o programa de apoio à infância, despedindo e desmantelando as comissões de proteção, que têm falta de meios e que «não sabem para que lado se virar» com trabalho? Não é efetivamente assim, Sr. Ministro.
Por isso, é que nós entendemos que a pobreza é o resultado da política do seu Governo, com muitas medidas iniciadas pelo anterior Governo do Partido Socialista mas que colocam, hoje, em causa a dignidade na vida das crianças deste País. O Governo é responsável pela discriminação e pela negação de direitos fundamentais às crianças deste País. Nós entendemos que é preciso um outro caminho, um caminho de progresso e de justiça social, e cá estaremos para a derrota do Governo e desta política.