A Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros do
Parlamento Europeu aprovou, ontem à tarde, por unanimidade, o relatório
da Deputada do PCP, Ilda Figueiredo, sobre o papel das mulheres na
indústria e os seus direitos.
O objectivo central do relatório é sublinhar o papel das mulheres na
indústria e encorajar a sua promoção no respeito da igualdade de
salários, das condições de trabalho, das oportunidades de carreira, da
formação profissional e da maternidade e paternidade como valores
sociais fundamentais.
Continuam a existir múltiplas causas subjacentes, em cada uma das fases
da progressão na carreira, da existência de um clima hostil para as
mulheres que trabalham na indústria, como as práticas de recrutamento e
contratação que criam barreiras de facto à entrada de mulheres, o
assédio sexual, a vigência de padrões diferentes para as mulheres e
para os homens, as disparidades na distribuição de tarefas
profissionais de qualidade superior e as diferenças de remuneração
entre homens e mulheres. Propõe-se, por conseguinte, que cada uma
destas causas subjacentes seja tratada por políticas específicas
elaboradas pela Comissão e pelos Estados-Membros.
Dos pontos importantes do relatório agora aprovado, destacam-se
- o apelo à adopção de todas as medidas necessárias para combater
eficazmente a exploração das mulheres no trabalho, que se verifica
sobretudo em certos sectores como o dos têxteis, a fim de que os
direitos dos trabalhadores e, em especial, os das mulheres, sejam
respeitados e o dumping social impedido; - a criação de uma metodologia de análise de funções, capaz de
garantir os direitos em matéria de igualdade de remuneração entre
homens e mulheres, que valorize as pessoas e as profissões e,
simultaneamente, dignifique o trabalho enquanto elemento estruturante
para o aumento da produtividade, da competitividade e da qualidade das
empresas e para a melhoria da vida dos trabalhadores e das
trabalhadoras; - a necessidade de incentivar iniciativas que contribuam para
desenvolver e implementar nas empresas acções positivas e políticas de
recursos humanos que promovam a igualdade entre homens e mulheres,
valorizando também práticas de sensibilização e formação que permitam a
promoção, transferência e incorporação de práticas bem sucedidas nas
organizações e nas empresas; - sublinhar o facto de que os longos horários de trabalho colocam
os trabalhadores sob uma pressão enorme e desencadeiam impactos
negativos na sua saúde, no seu bem estar e no seu grau de satisfação
com a vida; neste contexto, exorta a Comissão a proceder, quer a uma
investigação exaustiva sobre o modo como os horários de trabalho longos
afectam a vida familiar e a saúde dos trabalhadores com filhos, quer a
uma análise comparativa entre os Estados-Membros acerca das
consequências desse tipo de horários nos planos
familiar/social/sanitário; - a importância da negociação e da contratação colectiva no combate
à discriminação das mulheres, nomeadamente em matéria de acesso ao
emprego, salários, condições de trabalho, progressão na carreira e
formação profissional; - sublinhar o facto de a maioria dos estudos sobre os trabalhadores
pobres demonstrar que os agregados familiares em que só um dos cônjuges
dispõe de rendimentos de trabalho, nomeadamente nos casos em que são as
mulheres a ter um salário, são particularmente afectados pelo fenómeno
da pobreza; salienta que a erradicação de pobreza e da exclusão social
deve continuar a ser uma das prioridades políticas da União Europeia;
insta a Comissão e os Estados-Membros a especificar e a concretizar um
objectivo ambicioso de redução do número dos trabalhadores pobres na
Europa; - exortar os Estados-Membros e a Comissão a desenvolverem e a
aplicarem estratégias de abordagem, quer das discrepâncias existentes
no ambiente de trabalho, quer da progressão na carreira das mulheres
que trabalham nos domínios da Ciência e da tecnologia; - solicitar que não sejam concedidos apoios comunitários às
empresas que, após deles terem beneficiado num Estado-Membro,
transfiram as suas actividades produtivas para outro país sem cumprirem
integralmente os contratos celebrados com o Estado-Membro em causa; - considerar que, nas medidas a tomar pela Comissão, designadamente
no âmbito das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), é
necessário ter em conta o contexto e as características específicas de
cada sector, as oportunidades e os desafios com que cada sector se
depara e as dificuldades que cada Estado-Membro enfrenta,
designadamente quanto ao emprego das mulheres e aos seus direitos.
O relatório será votado em plenário numa das primeiras sessões de 2008.