Talvez não esteja generalizada a consciência da real importância da Amazónia para o nosso planeta. A Amazónia corresponde a 5% da superfície terrestre, 40% da América do Sul, sendo repartida por nove países, com destaque para o Brasil. A Amazónia possui 20% da água potável do planeta, 8% das terras propícias para a agricultura, é uma das maiores reservas mundiais de minério, tem importantes reservas de gás natural e petróleo e uma imensidão de produtos e espécies naturais cada vez mais utilizadas na indústria alimentar, farmacêutica ou biotecnológica. Estima-se que esteja na Amazónia 10% da biodiversidade do nosso planeta.
Recentemente aconteceram dois factos aparentemente desligados mas que caracterizam a situação criada naquele importante território. Há poucos dias organismos oficiais brasileiros deram conta de um aumento de 40% em 2002 do desmatamento da floresta amazónica. Alguns meses antes foi registado por uma multinacional japonesa, na União Europeia, Estados Unidos da América e Japão, o nome “cupuaçu”, que é, nem mais nem menos, um fruto proveniente da Amazónia e utilizado abundantemente pelos povos daquela região.
O que une estes dois factos é que eles são a consequência de uma extraordinária pressão para uma exploração desenfreada e abusiva dos recursos da Amazónia à custa de toda a humanidade das populações que aí habitam. Desde sempre as grandes potências se posicionaram para tirar partido destas extraordinárias riquezas muitas vezes aliados a interesses e poderes dos países que têm território amazónico. Já hoje várias empresas internacionais (por exemplo a BP) têm posições dominantes na exploração dos recursos amazónicos.
A grande ofensiva passa contudo, nos últimos anos, pela ideia de que as nações cujo território inclui parte da Amazónia, designadamente o Brasil, devem ver a sua soberania limitada, entregando a Amazónia a uma “tutela internacional”. Até a Sra. Albright disse, nos seus tempos de Secretária de Estado, que “quando as questões são de meio ambiente não existem fronteiras”.
Por detrás destas aparentemente ingénuas preocupações ambientais, posicionam-se muitos interesses económicos, que vêem na “internacionalização” do controle daquele território o meio para assaltarem as riquezas ali existentes. A isso não será alheia a cada vez maior presença militar dos EUA na América do Sul, em várias bases e intensas actividades de espionagem.
Aliás a tese de que as riquezas da Amazónia deveriam ser tituladas por uma entidade internacional, não está muito distante do que se teorizou e está a acontecer com o petróleo do Iraque.
Um outro caminho é possível. Um caminho que conjugue a soberania dos países e os legítimos interesses das suas populações, com a importância da Amazónia para toda a humanidade. Que aproveite os seus recursos sem a mutilar. Que recuse submeter a natureza a patentes de multinacionais. Que preserve a floresta amazónica e acautele a sua regeneração. Que ganhe consciência de que é possível um desenvolvimento sustentado na Amazónia, que traga mais riqueza para as populações que aí habitam.