Mensagem lida por Francis Wurtz
Permitam que antes do mais vos diga quanto lamento não poder estar convosco hoje. Mas, vós sabeis: vota-se amanhã em França. Obrigações incontornáveis retêm-me em Paris. Estou certo que compreendem. Dirijo a todas e a todos as mais fraternais saudações do Partido Comunista Francês!
Obrigado e parabéns ao Partido Comunista Português por ter tomado a iniciativa de uma tão impressionante concentração! Este grande comício repercute um movimento profundo que se sente crescer na Europa. Um movimento de protesto e de cólera. E, simultaneamente, um movimento de conquista e de construção, que põe cada vez mais largamente na ordem do dia esta exigência de grande alcance: é preciso mudar a Europa!
As nossas instituições comuns devem permitir que nos entreajudemos a promover o emprego, as capacidades humanas e o progresso social; a favorecer os intercâmbios humanos e o cruzamento das culturas; a consolidar a paz no continente; a contribuir para a solução dos grandes problemas contemporâneos: o desenvolvimento, o desarmamento, o meio ambiente.
Mudar a Europa nesta direcção exige lutar, cada um de nós nos seus países respectivos, e juntos na Europa. É preciso acabar com os negócios escandalosos como os da Renault-Setúbal e da Renault-Vilvorde! É preciso libertarmo-nos do garrote dos "critérios de convergência" e do "Pacto de estabilidade"! É preciso banir a teoria dominadora do "núcleo duro" germano-francês contra a Europa do Sul! É preciso sair do impasse duma Europa "otanisada". É preciso recusar a fatalidade da actual "mundialização" em nome da qual os grandes grupos capitalistas querem pôr-nos todos em concorrência, para fazer a felicidade dos mais poderosos com a infelicidade da grande maioria!
Naturalmente, não mudaremos a Europa a partir do topo, mas a partir de cada uma das nossas sociedades singulares. Assim, na campanha eleitoral em curso, os comunistas franceses esforçam-se por mobilizar os cidadãos a partir das suas aspirações próprias, sobre uma concepção da Europa alternativa à Europa do mercado único e do Tratado de Maastricht. Nós dizemos: o aumento dos pequenos e médios salários, é necessário! A redução imediata da duração do trabalho para 35 horas semanais, sem perda de poder de compra, é necessária! Para melhorar a vida das pessoas. Para criar empregos. E para dar uma chicotada na própria economia, hoje asfixiada pela marcha forçada para a moeda única.
É claro que para empreender esta política, é preciso obter os meios. Por um lado, uma outra utilização do dinheiro: com um sistema fiscal e créditos que favoreçam o emprego e a vertente social, e penalizem os investimentos financeiros. Por outro lado, novos direitos permitindo aos assalariados e aos cidadãos pesar na escolha das empresas e do país. Enfim, uma reorientação em profundidade da construção europeia e das relações internacionais.
Há meses que estamos a discutir estas propostas com os nossos concidadãos e que recolhemos assinaturas, às centenas de milhar, pedindo a organização de um referendo sobre a passagem ou não à moeda única. Também multiplicámos as iniciativas susceptíveis de relançar uma dinâmica unitária à esquerda, para uma mudança real.
Dia 29 de Abril último, numa declaração comum, o Partido Comunista Francês e o Partido Socialista, conjuntamente, sem esconderem as suas diferenças, nomeadamente sobre Maastricht, comprometeram-se, em caso de vitória, a contestar os ditames de uma Europa ultraliberal, a recusar sacrificar a nação e a sua soberania, e a agir para reorientar em consequência a construção europeia.
Assim, se amanhã e no próximo domingo conseguirmos que a esquerda ganhe em França, quanto a nós, proporemos que o novo governo tenha sobre a questão crucial da moeda única a posição seguinte: constatemos conjuntamente que é impossível aplicar as disposições previstas pela marcha para a moeda única em condições suportáveis para os povos; propunhamos desde então aos nossos parceiros europeus reabrir negociações para um novo tratado; enfim, submetamos este tratado reorientado aos nossos concidadãos pela via do referendo.
A escolha não é, a nosso ver, entre o euro e o enconchamento nacional. Avançamos a ideia de manter moedas nacionais e, além disso, um novo "ecu", baseado nelas, melhor dizendo, uma moeda comum e não única, um verdadeiro instrumento de cooperação monetária para partilhar despesas; financiar coproduções criadoras de empregos; realizar em comum projectos de desenvolvimento das regiões ou dos países que sofrem graves desigualdades; solidarizarmo-nos contra os especuladores. Numa palavra: construir realmente a Europa, tal como a desejam os Europeus!
Sem dúvida que se a França se empenhasse numa tal via, teria de fazer face a fortes resistências da aliança dos poderosos. Mas estou igualmente certo que ela poderia contar com uma grande corrente de solidariedade por parte dos outros povos da Europa, pois é do interesse de todos nós empreender resolutamente esta contra-ofensiva progressista. Todos contribuímos, uns e outros, para fazer amadurecer esta corrente. Foi assim em Paris, no encontro europeu de 11 de Maio de 1996. Depois, sob as formas mais diversas, em Madrid, em Berlim e hoje nesta magnífica concentração de Lisboa. Muito em breve vamos reencontrar-nos com outros em Amsterdão, depois de novo em Madrid. E, naturalmente, cooperamos estreitamente no Parlamento Europeu.
Impulsionemos com audácia este entendimento pluralista entre progressistas, ecologistas, homens e mulheres ligados aos valores de esquerda e que querem trabalhar juntos para uma mudança real! Em cada um dos nossos países, na Europa e no mundo.