Sr. Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
O PSD e o CDS têm movido uma campanha contra o Orçamento do Estado diretamente e também a partir dos seus círculos de influência contra as medidas de natureza fiscal favoráveis aos trabalhadores e ao povo que já foram tomadas ou que estão inscritas no Orçamento do Estado.
Esta campanha procura atingir dois objetivos: esconder as opções que fizeram nos últimos quatro anos, esmagar os trabalhadores com impostos e ainda criar as maiores dificuldades possíveis à aprovação de medidas que invertam essas opções, favorecendo os trabalhadores, reduzindo ou eliminando impostos sobre os seus rendimentos.
PSD e CDS fazem isto, tratando tudo como aumento de carga fiscal, misturando os impostos sobre a banca com o IRS, confundindo o fim da isenção sobre fundos imobiliários com outros impostos, e fazem-no para criar uma cortina de fumo que esconda tudo aquilo que já foi ou será aprovado de sentido positivo para os trabalhadores e para o povo.
Não podemos esquecer que, em 2013, PSD e CDS impuseram um brutal aumento de impostos sobre os rendimentos do trabalho. Em consequência disso, em apenas um ano, de 2012 para 2013, a receita fiscal, em sede de IRS, aumentou 35%, mais de 3200 milhões de euros. Criaram, ainda, novos impostos, no ano da chamada «fiscalidade verde», e carregaram nos impostos especiais de consumo.
Ao mesmo tempo que esbulhavam os trabalhadores, PSD e CDS avançaram com uma reforma de IRC que permitia que os grupos económicos e as grandes empresas pagassem cada vez menos impostos.
Estas opções do PSD e do CDS são bem reveladoras das suas opções de classe: esmagar os trabalhadores com impostos para poderem continuar a favorecer o grande capital.
Sr. Primeiro-Ministro, é necessária uma profunda alteração da política fiscal. O Orçamento do Estado que hoje discutimos dá alguns passos na direção certa: reduz a sobretaxa de IRS, que desaparecerá completamente já no próximo ano; substitui o quociente familiar por deduções fixas; reduz o IVA da restauração, aliviando fiscalmente um sector de atividade que emprega centenas de milhares de trabalhadores; introduz a cláusula de salvaguarda do IMI, protegendo as famílias de aumentos bruscos deste imposto.
O Orçamento do Estado põe, ainda, fim à isenção de IMI para os fundos de investimento imobiliário, aumenta a contribuição do sector bancário e dá passos, embora tímidos, no sentido da tributação mais justa dos lucros das grandes empresas, designadamente por via da limitação de algumas isenções fiscais e da redução dos prazos para reporte de prejuízos.
Além destas medidas já consagradas no Orçamento do Estado, é preciso, ainda, assegurar, na especialidade, a introdução de outras medidas de natureza fiscal, como a redução da taxa máxima do IMI e o estímulo fiscal às micro, pequenas e médias empresas.
Estas são medidas positivas que o PCP valoriza.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, o PCP considera também que é preciso ir mais longe para assegurar uma política fiscal justa, é preciso aumentar o número de escalões do IRS, reduzir significativamente as taxas dos escalões mais baixos e intermédios e melhorar as deduções da saúde, educação, habitação e lares, pondo fim ao saque fiscal imposto pelo anterior Governo do PSD/CDS.
Ao mesmo tempo, é preciso garantir que os contribuintes de elevada capacidade patrimonial, os mais ricos entre os ricos, com rendimentos anuais de milhões de euros, paguem os impostos devidos. É preciso eliminar os múltiplos alçapões legais, usados pelos grupos económicos e grandes empresas para fugirem ao pagamento dos impostos, assim como é preciso eliminar os benefícios fiscais para o grande capital. É preciso tributar os patrimónios mobiliários mais elevados, assim como é preciso criar um imposto sobre as transações financeiras, há muito prometido, mas sempre adiado.
Sr. Primeiro-Ministro, não deixando de valorizar aquilo que já foi e será alcançado no imediato, estas são propostas pelas quais o PCP se tem batido e continuará a bater-se. Propostas para uma alteração profunda da política fiscal, que rompa com o escandaloso favorecimento dos grupos económicos, das grandes empresas e das grandes fortunas, e alivie a carga fiscal sobre os trabalhadores e também sobre as micro e pequenas empresas. Propostas que, assegurando uma maior justiça fiscal, permitam ao mesmo tempo que o Estado disponha dos recursos necessários para assegurar as suas funções e responsabilidades perante os trabalhadores e o povo.
Intervenção de Paulo Sá na Assembleia de República, Debate na Generalidade OE 2016
"É necessária uma profunda alteração da política fiscal"
Debate na Generalidade OE 2016
Um Orçamento com sinais de inversão no caminho de regressão social e civilizacional que estava em curso - Debate na Generalidade
22 Fevereiro 2016
- «Tudo faremos para encontrar respostas às aspirações e à luta dos portugueses»
- "É o primeiro Orçamento em cinco anos sem o cutelo das inconstitucionalidades"
- "É necessária uma profunda alteração da política fiscal"
- "A luta dos trabalhadores, dos reformados e do povo não permitiu que PSD e CDS continuassem no Governo"
- Romper com as imposições externas para garantir o prosseguimento da recuperação de direitos e rendimentos