A maré cheia que tingiu o Rossio de vermelho, com mais de 50 mil militantes comunistas e outros democratas o fizeram transbordar numa poderosa demonstração do seu empenho na defesa da liberdade e da democracia, não foi apenas o reafirmar da vitalidade do PCP. Foi também a confirmação, sem margem para dúvidas, de que os valores de Abril estão vivos e de que os comunistas e os outros democratas portugueses estão dispostos a lutar para os defender e aprofundar.
A resposta foi dada pela impressionante massa humana que, compreendendo a importância vital da luta em defesa do regime democrático, respondeu ao apelo do PCP e pintou de vermelho as ruas de Lisboa, num desfile como Lisboa há muito não via.
Quando o início da manifestação entrou no Rossio, começando a tornar rubra a velha praça, ainda muitos estavam a arrancar do Príncipe Real. Ao longo dos anos, já muitas manifestações tiveram aquele local como ponto de passagem ou de chegada, mas nenhuma como esta o fez transbordar assim. Para onde quer que se olhasse, e até onde a vista alcançava, era o vermelho ondulante das bandeiras do PCP que dominava.
Ao longo do percurso – que se iniciou do Príncipe Real e desceu a Rua do Século em direcção ao Largo do Carmo, para em seguida rumar ao Rossio passando pela Praça da Figueira – ninguém ficava indiferente à passagem de tamanho cortejo. Uns, «conhecedores» do PCP apenas pelos meios de comunicação social e pelos generalizados preconceitos, surpreendiam-se com a dimensão da manifestação e o número de jovens (que eram «muitos, muitos mil para continuar Abril», como cantavam). Outros, entusiasmados com a sua vitalidade, não resistiam a saudar os manifestantes.
Em resposta, eram incentivados a integrar o cortejo, o que muitos fizeram. De algumas janelas agitavam-se lenços e camisolas vermelhos em fraternas saudações.