A resolução aprovada pela maioria no Parlamento Europeu sobre a situação na Síria, e o debate que a precedeu, constituem uma cínica expressão do papel da União Europeia no longo e brutal processo de ingerência e agressão que conduziu à instalação de um poder reaccionário e obscurantista neste país do Médio Oriente.
Entre outros negativos aspectos, a resolução omite a invasão e a ocupação de territórios sírios por parte dos EUA, de Israel e da Turquia, o saque dos seus recursos naturais, o apoio a grupos armados que promoveram a acção terrorista.
Como omisso ficou o desumano bloqueio económico e financeiro imposto à Síria, com trágicas consequências para o seu povo.
A resolução acompanha ainda o hipócrita exercício de 'lavar de cara' aos grupos armados que tomaram o poder, e finge esquecer-se da tão proclamada exigência de democracia e eleições livres, anuindo ao referido anúncio do “presidente interino” para “a realização de eleições dentro de quatro a cinco anos”.
Exercício que não deixou de ter expressão na resolução do Grupo político que integramos e da qual também nos distanciamos.
A resolução do Parlamento Europeu integra ainda um inaceitável libelo persecutório e intimidatório de todos quantos, no Parlamento Europeu ou fora dele, rejeitem e denunciem a legitimação da agressão à Síria que a UE promove desde 2011.
Foi pela iniciativa e propostas de alteração apresentadas pelo PCP que se denunciou:
- os 14 anos de interferência e agressão à Síria pelos Estados Unidos da América, por Israel e outros países membros da NATO, como o Reino Unido e a Turquia, e o activo envolvimento de países que integram a União Europeia;
- a ilegalização e perseguição das forças democráticas e seculares sírias às quais foi negada a liberdade de reunião e de expressão;
- a atual discriminação e perseguição dos cidadãos sírios com base nas suas convicções políticas e crenças religiosas, bem como a situação de violência que prevalece sob o novo poder reaccionário e obscurantista na Síria;
- a gravidade e firme condenação dos massacres perpetrados pelos grupos armados do novo poder sírio contra as populações, nomeadamente cristãos e alauitas, bem como contra defensores de uma República Árabe Síria soberana, democrática e secular.
Denúncias rejeitadas pela maioria no Parlamento Europeu, para a qual contribuíram os votos dos deputados do PS, PSD, CDS, CH e IL.
Entre outras, estas considerações só permitem considerar o voto contra a resolução.
(sobre a resolução do Parlamento Europeu "sobre a necessidade de apoio da UE para uma transição justa e a reconstrução na Síria")