Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Defender os interesses nacionais perante a imposição das tarifas e a agenda imperialista e reaccionária dos EUA

1. A decisão da Administração Trump de impor uma subida agravada das tarifas aduaneiras, constitui uma acção sem precedentes de coerção económica sobre o resto do mundo.  

Uma decisão que não decorre de uma qualquer análise ignorante ou precipitada, antes se insere na tentativa de garantir o domínio e de travar e fazer retroceder o declínio económico relativo dos EUA, num quadro internacional em profunda alteração da relação de forças. Tirando partido do domínio das instituições financeiras internacionais e do seu poderio militar, os EUA procuram alterar as regras que os próprios determinaram, tentando impor os seus interesses, numa atitude para que os EUA assumam, nas palavras de Trump, o «lugar de condutor» do mundo, mesmo que para isso não poupem aliados e se exponham a riscos. Uma decisão que traduz as crescentes dificuldades que enfrenta a economia norte-americana, nomeadamente quanto ao crescimento exponencial da sua dívida, e que é inseparável da estratégia de confrontação que está em marcha e que tem como alvo preferencial a República Popular da China.

2. A dimensão do que foi decidido e as suas implicações, assim como das contra-medidas já anunciadas, e de outras que  se podem seguir, tornam imprevisíveis os desenvolvimentos futuros. O que não significa que não se possam antecipar impactos consideráveis, sobretudo em países mais expostos ao comércio com os EUA: retracção e recessão de economias; interrupções nas cadeias de valor de muitas mercadorias; surtos inflaccionistas; encerramento de empresas. Impactos que dependerão também do posicionamento mais ou menos assertivo de cada um dos países em defesa dos seus interesses  e de não cedência à pressão dos EUA.

3. Confirma-se uma vez mais que a política de direita, a política de sucessivos governos do PS e PSD-CDS de submissão às imposições do EUA e da UE, de desvalorização da capacidade produtiva e dependência externa, não só aumenta a vulnerabilidade do País, como é incapaz de responder a situações como esta. 

Num contexto em que os EUA são o quarto destino das nossas exportações – vinhos, cortiça, medicamentos, combustíveis, papel, máquinas, etc – , e em que outros países, com os quais Portugal se relaciona, são também atingidos, impõe-se, como há muito o PCP defende, a diversificação das relações comerciais do País, numa base mutuamente vantajosa. É necessária uma política de substituição de importações por produção nacional – alimentos, medicamentos, equipamentos, etc – e de valorização do mercado interno, o que exige a melhoria dos salários, o aumento do poder de compra e o apoio às MPME. A recuperação do controlo público de sectores estratégicos, como é o caso da energia ou da banca, ganha neste contexto, uma redobrada actualidade, tal como o objectivo de assegurar a soberania alimentar e energética do País.

Portugal deve ainda intervir na União Europeia e noutros fóruns internacionais, para que se ponha fim à vassalagem aos EUA, à política de confrontação e sanções que se tem vindo a alargar. É fundamental  garantir que a UE responda aos problemas dos países membros, e que não seja conduzida pelos interesses das grandes potências, como a Alemanha e a França, revertendo desde já a deriva militarista e o desvio de recursos para a corrida aos armamentos.

4. Mais do que nunca, perante a evolução do mundo e a necessidade de defender os interesses dos trabalhadores e do povo português, o País precisa de uma política que, num quadro de cooperação com outros países, coloque no centro da sua acção o desenvolvimento, a soberania e a independência nacional. 

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