Intervenção de Evangelos Katsiavas, Representante do Partido Comunista da Grécia, Seminário "A crise na União Europeia e a ofensiva contra os direitos, a liberdade e a democracia"

Crise na UE

Caros Camaradas,

Queremos agradecer ao Partido Comunista Português pelo vosso convite para participarmos nesta vossa importante iniciativa.
Gostaria de vos transmitir as saudações de camaradagem dos quadros, membros e amigos do PCG e a solidariedade dos comunistas gregos à luta do vosso partido, às lutas da classe operária portuguesa, que amanhã vai crescer, com uma grande manifestação contra o bárbaro ataque do capital.
Permitam-me que vos traga o espírito militante da grande greve geral e das manifestações massivas de 26 de Setembro na Grécia, cujo êxito constitui uma mensagem de esperança na escalada da luta popular.

Caros Camaradas,

1.A crise capitalista na zona euro e na UE continua a agravar-se. Não há, nesta fase, sinais visíveis de recuperação no futuro próximo. A crise capitalista atinge países no centro da zona euro, a Espanha, a Itália, havendo riscos acrescidos para a Holanda, a França e mesmo para a Grã-Bretanha, enquanto se agudizam as contradições inter-imperialistas e se reforçam as tendências centrífugas na UE. Esta crise, conjugada com os sinais de lento crescimento nos EUA, Japão e China, levantam novas preocupações à burguesia e aos seus serventuários políticos, em relação a uma nova crise capitalista mundial e simultânea.
Desde o primeiro momento da manifestação da crise económica, que o PCG transmitiu à classe operária que se trata de uma crise do sistema capitalista. É uma crise de sobreprodução e de sobreacumulação do capital que não consegue encontrar uma saída lucrativa nos mercados capitalistas.
É uma mentira que a crise capitalista na Grécia, Portugal e em toda a UE seja uma crise da dívida. A dívida não é a causa mas antes o resultado da política anti-popular da plutocracia.
Na Grécia, o governo de coligação ND- PASOK- Esquerda Democrática utiliza todos os meios para salvar os interesses dos armadores navais, dos patrões da indústria e dos banqueiros. O governo de coligação tem pressa em promover novas medidas anti-trabalhadores e anti-populares, no valor de 20 mil milhões de euros. As medidas significam novos cortes – pela quarta vez em 2 anos – nos salários e nas pensões, novos cortes na despesa com a saúde, protecção social, medicamentos e estruturas da administração local; e tudo isto num momento em que o desemprego oficial, registado em Julho, foi de 24%- 55% entre os jovens. .
Nenhuma proposta de gestão capitalista responde aos problemas dos trabalhadores e das camadas populares, dado integrarem-se na estratégia que favorece os monopólios e a UE.
O PCG abriu uma ampla discussão no seio dos trabalhadores e dos estratos populares, independentemente das suas escolhas nas recentes eleições, avançando com a organização da luta comum contra as medidas anti-populares.

Caros Camaradas,

2.Tudo nos demonstra que a ofensiva anti-popular dos monopólios, da UE e dos governos burgueses se intensificará fortemente no futuro imediato, à medida que a crise capitalista se aprofunda e se torna mais complexa. O que liga a UE, o capital e os partidos burgueses é a sua opção estratégica de fazer os trabalhadores pagar a crise, reduzindo o custo do trabalho ao mais baixo valor possível. É por isso que a escalada da ofensiva anti-popular atinge todos os estados membros da UE, indo além dos défices orçamentais e das dívidas de certos países. O verdadeiro objectivo é garantir a competitividade, não só contra os EUA, mas também contra as potências emergentes como a China, Rússia, Índia e outras, onde a força de trabalho é mais barata.
É por isso que a UE se militariza e se orienta para intervenções militares através da PESDC. O Conselho Europeu já aprovou novas missões, com forças a intervirem no Níger, Somália e Sudão do Sul. Realizou-se um exercício militar com helicópteros, no passado dia 4 de Julho, em Portugal, conduzido pela Agência Europeia de Defesa.
A crise económica está a agravar as contradições entre os estados; provoca conflitos no seio da UE, reforça as relações desiguais de interdependência. Provoca uma nova onda de contradições imperialistas em torno do controlo e redistribuição de mercados, territórios, da energia e de outros recursos. Por isso, inclui a guerra e intervenções imperialistas. Fermentam-se problemas em África, no Médio Oriente e em muitas outras regiões. A guerra imperialista e a paz imperialista que lhe sucede são questões essenciais para os povos da Europa.A Grécia é membro da UE e da NATO; tem bases militares da UE-EUA-NATO e a sua posição geoestratégica é de grande importância para as guerras imperialistas. É por isso que a resistência dos povos contra as novas guerras e contra novas intervenções preparadas pelos imperialistas da UE-EUA-NATO, como contra a Síria e o Irão, é de grande importância, bem como a intensificação da luta anti-imperialista, para que o nosso país não participe nas guerras sujas do imperialismo em preparação, pela saída do nosso país de todas as alianças e organizações, da UE e da NATO.

3.Quanto mais se desenvolve e aprofunda a crise capitalista na zona euro e na UE, mais violenta se torna a ofensiva da UE e dos governos burgueses contra os trabalhadores e as camadas populares, de forma a aumentarem a exploração e a preservarem os lucros do capital em todos os estados membros. As reacções populares na UE estão a aumentar e constituem um motivo de preocupação para o capital e para o sistema político burguês. Daí o aumento dos esforços da UE e dos governos para protegerem o capital, enquanto tentam manipular a consciência popular, de forma a assimilarem a resistência e a reforçar a opressão.
O Programa de Estocolmo serve estes ojectivos, continuando a aprofundar os dois anteriores programas de Tampere e Haia. Pretende reforçar ainda mais a chamada Área Europeia de Liberdade, Segurança e Justiça. Através de medidas específicas:

Melhora a eficácia, coordenação e cooperação dos mecanismos repressivos e dos serviços secretos dos estados membros, entre si e com os serviços respectivos de outras forças imperialistas, principalmente dos EUA.
Reforça a eficácia da fichagem dos trabalhadores na UE, criando simultaneamente um “Modelo de Informações Europeu”, assegurando a plena funcionalidade das enormes bases de dados electrónicas SIS II e VIS, “a criação de uma nova arquitectutra de um sistema de informações”.
Reforça os mecanismos repressivos da UE (Europol – Eurojust - FRONTEX) e a sua interligação e cooperação, de modo a atacar as lutas do movimento operário e atacar os povos dos países terceiros. Promove a criação de um centro piloto da cooperação policial e alfandegária “ que poderá ser útil nos eventos desportivos ou em grandes reuniões públicas e acontecimentos fronteiriços, para análise dos riscos de crime”; nomeadamente para o controlo e repressão de manifestações. Atribui competências reforçadas à Europol, bem como um maior papel às várias missões imperialistas de intervenção da UE.
Também está em curso uma política contra a “radicalização” “que afirmam dar lugar ao terrorismo” e que inclui as “ideologias extremistas e violentas”, constituindo uma nova dimensão da “política anti-terrorista da UE”. Esta nova “dimensão” será ainda mais explorada para criminalizar as acções políticas e sociais radicais e anti-capitalistas dos trabalhadores. Para além disso, não é coincidência nenhuma que a Comunicação da Comissão Europeia considere as prisões e institutos de educação locais onde essa radicalização se desenvolve!!!
Estas medidas visam proteger o sistema político e o domínio dos monopólios. Visam atacar directamente o movimento operário e popular, constituindo uma pré condição necessária à realização do bárbaro ataque do capital aos direitos sociais dos trabalhadores e das camadas populares.

4.A intensificação da repressão, o ataque aos direitos democráticos e liberdades populares presupõem o anti-comunismo cru e flagrante, que se tornou a ideologia dominante da UE. A inaceitável decisão do Conselho de Ministros da Justiça e Assuntos Internos da UE, de 9-10 Junho de 2011, “sobre a memória dos crimes cometidos por regimes totalitários na Europa”, demonstra que o anti-comunismo vai a par das bárbaras medidas tomadas contra os povos. Estabelece um “Dia Europeu da memória das vítimas dos regimes totalitários (23 Agosto)”, que grosseiramente compara o nazismo ao comunismo. Financia, através de um enorme pacote fornecido por entidades financeiras, instituições e actividades de propaganda anti-comunista e prepara um “instrumento legal adicional” para criminalizar a ideologia comunista.A UE está a criar os pré requisitos e as respectivas condições políticas para que os governos burgueses lancem probições, perseguições e medidas repressivas contra a ideologia comunista e os Partidos Comunistas Marxistas-Leninistas, como acontece já nalguns estados membros da UE, com cada vez maior intensidade.

5.O aprofundamento da integração dos estados membros na UE, esta aliança imperialista transnacional, contribui para o reforço da UE enquanto centro imperialista, na sua competição com os outros centros imperialistas. Estas tendências alimentam-se da tentativa dos monopólios da UE de conseguir construir uma estratégia comum através de alguns passos: O Tratado de Lisboa, a Estratégia 2020, a Governação Económica Reforçada, o Mecanismo Europeu de Ajuda, o Pacto Euro Mais, o Serviço Europeu de Acção Externa, o Compacto Fiscal, a União Bancária Europeia. Ao mesmo tempo, esta tendência coexiste com a concorrência extremamente forte no seio da UE, para melhorar a posição dos grupos monopolistas, assim evitando as consequências da crise, etc.
Com base nesta estratégia comum contra os trabalhadores, põe-se a questão da perda e limitação dos direitos soberanos dos estados membros da UE, especialmente daqueles que se encontram numa posição intermédia nos sistemas imperialistas, dos países que já entraram ou se viram para o mecanismo de apoio da UE-FMI-BCE, etc. Por isso, existem várias opiniões de que a participação do FMI no mecanismo de apoio da UE constitui uma violação dos Tratados da UE e de que a Grécia está “sob ocupação estrangeira”.
A primeira questão que temos de registar é de que a causa para a limitação dos direitos soberanos dos estados membros da UE reside no tratado fundador da UE, o Tratado de Maastricht. Este tratado foi acolhido favoravelmente e votado no Parlamento grego por todos os partidos políticos (incluindo os que hoje aperecem como estando contra o memorando) excepto o PCG. O Tratado de Maastricht esteve na base da perda dos direitos soberanos, perda que foi posteriormente ainda maior e mais profunda. Esta cedência de direitos soberanos constitui a primeira e fundamental condição da fundação e existência da própria UE.
A segunda questão, que é clara para nós comunistas, é de que nenhum governo burguês faz estas ou outras escolhas contra a sua vontade, no seio da UE. A integração nesta aliança imperialista constitui uma opção estratégica de todas as burguesias em todos os estados membros, para protegerem o seu domínio político e económico e perpetuarem o sistema capitalista explorador. Por isso, o facto de forças burguesas e oportunistas fazerem juras em nome de “um caminho unico da UE”, aparentando protestar contra a sua opção política fundamental, não passa de um gozo provocador contra o povo.

Caros Camaradas,

O desenvolvimento da crise aprofunda extremamente as características reaccionárias da UE. Torna-a ainda mais agressiva contra os trabalhadores e as camadas populares e os povos dos países terceiros. Hoje, as forças operárias e populares têm mais do que a prova de que a UE é uma inimiga dos trabalhadores, uma união inter-estatal dos monopólios; de que não pode ter nenhum desenvolvimento e futuro favorável aos trabalhadores, sem uma ruptura, sem uma confrontação e sem o derrube do próprio edifício da UE.
O futuro da Europa está indissoluvelmente ligado ao futuro do movimento em cada estado membro. É uma questão definidora que o movimento popular em cada país avance em direcção a alterações a nível do poder, em clara e absoluta oposição aos interesses dos monopólios e do imperialismo. A saída da UE pode constituir um objectivo da luta de todos os povos e movimentos europeus. A concentração de forças nesta direcção ajudará a criar uma poderosa oposição ao capital monopolista, criando assim as condições para que o poder mude de mãos, passando da burguesia para a classe operária e seus aliados.
Uma outra Europa de paz, de amizade entre os povos, de cooperação entre iguais, de prosperidade dos povos e de socialismo só pode e tem de emergir das ruínas do edifício reaccionário da UE, só através da sua dissolução.
Por muito que tente, o capital e os seus serventuários políticos da UE não conseguirão evitar ter de levar em conta o povo. A história não é escrita pelos mecanismos do capital – por muito poderoso que pareça ser hoje. A história será escrita pela luta organizada do povo trabalhador, pelo movimento de classe dos trabalhadores e pelo movimento popular e pela sua vanguarda política em cada país e em toda a Europa, contra a barbárie capitalista, pelo derrube do sistema capitalista explorador e dos seus mecanismos.

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