Declaração de Ângelo Alves, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP

76 anos após Hiroshima e Nagasaki - «A importância da luta pela paz e o desarmamento»

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Há datas que, pela sua importância na marcha da Humanidade, não podem cair no esquecimento, antes devem ser assinaladas com respeito pela verdade histórica, projectando para a actualidade os ensinamentos que comportam.

Tal é o caso de 6 e 9 de Agosto de 1945, os dois dias em que a Força Aérea dos Estados Unidos da América lançou sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki duas bombas atómicas, consumando um dos mais hediondos crimes que a História regista e fazendo dos EUA o único País que, até aos dias de hoje, usou a arma nuclear.

Este monstruoso crime, que arrasou completamente as duas cidades, provocou centenas de milhar de mortos e deixou um medonho rasto de sofrimentos provocados pelas radiações atómicas que ainda hoje persistem, não pode ser esquecido.

Nem esquecidos devem ser os reais objectivos que ditaram tão desumana exibição de poder militar. É necessário recordar que a II Guerra Mundial estava a chegar ao fim com a vitória na frente ocidental sobre o nazi-fascismo graças à decisiva contribuição da União Soviética, e que o militarismo japonês se encontrava praticamente derrotado, estando em curso várias negociações para a sua rendição.

O bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki, além de um crime contra a Humanidade, constituiu um acto gratuito do ponto de vista militar só compreensível à luz da política de “contenção do comunismo” do imperialismo norte-americano e do seu propósito de impor ao mundo o seu domínio hegemónico.

Ao evocar mais uma vez a tragédia de 6 e 9 de Agosto de há 76 anos, o PCP afirma a sua determinação em fazer tudo ao seu alcance para que jamais a arma nuclear volte a ser utilizada.

Tal compromisso é tão mais importante quanto se verificam inquietantes desenvolvimentos na situação internacional, em que a política agressiva do imperialismo e as pretensões hegemónicas dos EUA continuam a alimentar e a gerar perigosas situações de instabilidade e confrontação que podem evoluir para conflitos militares de catastróficas proporções. Tal é o caso das linhas de crescente conflitualidade dos EUA para com grandes países como a Federação Russa ou a República Popular da China, visando conter o seu desenvolvimento soberano numa estratégia que a administração Biden tende a acentuar, ou ainda a persistência em estratégias de desestabilização, ingerência e conflito como no Médio Oriente, em África e na América Latina.

O PCP considera necessário e urgente deter e inverter a demencial corrida aos armamentos impulsionada em primeiro lugar pelos EUA e restantes membros da NATO.
É inaceitável que, quando o Mundo está confrontado com as consequências da pandemia da Covid-19, com uma crise económica e social de grande dimensão e com uma situação de insuportáveis desigualdades a nível mundial, patente nas gigantescas discrepâncias no acesso à vacina, os EUA, a NATO e a União Europeia insistam em estratégias de militarização e imponham a todos os Estados membros o aumento das suas despesas militares.

Igualmente inaceitável é a canalização de gigantescos recursos para o constante desenvolvimento e aperfeiçoamento de armamento, ao mesmo tempo que a Administração Biden continua a pôr em causa importantes acordos sobre desarmamento e a incluir nas suas prioridades estratégicas o desenvolvimento de novo armamento e continuação da militarização do Espaço.

O PCP considera que a luta pelo desarmamento e em primeiro lugar pelo desarmamento nuclear, deve constituir uma direcção incontornável e prioritária da luta pela paz, pelo progresso social e pela própria preservação da vida sobre a Terra.

Condenando as sistemáticas violações dos princípios constantes da Carta da ONU pelas principais potências imperialistas, nomeadamente os EUA, o PCP sublinha que o respeito pelo Direito Internacional, e em especial pela soberania dos Estados e pelo direito de cada povo a escolher, sem ingerências externas, o seu próprio destino e caminho de desenvolvimento, é fundamental para a construção de relações de cooperação, paz e amizade entre todos os povos do mundo.

Nesse sentido o PCP expressa a sua solidariedade para com os povos vítimas das ingerências e agressões do imperialismo, vários deles sujeitos a desumanos bloqueios económicos, como são os casos de Cuba e da Venezuela e aos povos que vêem negados os seus direitos nacionais como é exemplo o Povo da Palestina.

Num período em que se acumulam novos perigos, e emergem forças profundamente reaccionárias e fascizantes, o PCP considera necessário combater firmemente as linhas de propaganda que branqueiam, relativizam e justificam crimes cometidos no passado, como o Nazi-fascismo ou o bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki.

O PCP condena as teses das forças mais reaccionárias e agressivas do imperialismo que consideram os crimes cometidos naquelas duas cidades japonesas como “necessários” para derrotar o militarismo nipónico e que chegam mesmo a advogar a utilização da arma nuclear.

Tais teses, bem como a sua propagação, são inseparáveis da opção de sectores imperialistas de apostar no fascismo e na guerra como “saída” para o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo.

O PCP considera que cabe ao Governo português cumprir com o espírito e a letra da Constituição da República Portuguesa, dando dessa forma uma importante contribuição para fazer recuar a política agressiva do imperialismo e afastar definitivamente o espectro do holocausto nuclear.

O artigo 7º da Constituição explicita uma política externa de defesa da soberania e a independência nacional. É pois o próprio imperativo constitucional que aponta a necessidade de romper com décadas de uma política de enfeudamento aos interesses de potências imperialistas e da NATO.
E é a própria situação nacional e internacional que exige a adopção de uma política de defesa da independência e soberania nacionais, de paz e amizade com todos os povos, que concretize a alternativa patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português.

O PCP valoriza as importantes acções unitárias de solidariedade internacionalista e de luta pela paz que, mesmo nas condições de surto epidémico, têm sido realizadas em Portugal e confirma o seu empenho em contribuir para o fortalecimento desta importante frente da luta popular.

O PCP tudo continuará a fazer para que Hiroshima e Nagasaki nunca mais aconteçam.

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