Queria dirigir uma palavra aos profissionais de comunicação social que acompanham o nosso Congresso a trabalhar. São trabalhadores que à semelhança de todos os outros, têm visto os horários de trabalho aumentar e o salário a diminuir. Viram a precariedade alastrar no sector e foram vítimas do desemprego que resultou do encerramento de títulos e do emagrecimento das redacções. Assistiram à desvalorização, ao ataque e aos cortes no financiamento do serviço público.
Quem sobrou, para lá da incerteza e da ameaça constante de desemprego, faz hoje o trabalho de 2, 3 jornalistas, a uma velocidade alucinante, faz o texto do papel, do digital, a fotografia e o vídeo, sem tempo para enquadrar, pesquisar, criticar, contraditar. Perdem os trabalhadores do sector, perdem a qualidade e o rigor da informação, perde a democracia.
A todos apelamos para que defendam os seus interesses e tomem partido contra a sua exploração. Sim, mesmo quando as notícias desvalorizam e caricaturam quem luta, quem as escreve é também explorado. Nesta batalha, não há neutralidade.
Se o digital e as chamadas redes sociais são hoje veículos privilegiados de acesso à informação, não quer dizer que haja mais pluralismo, ou que a classe dominante deixou de determinar os seus conteúdos. Os formatos não alteram, por si, a relação de forças, nem iludem o domínio ideológico exercido pelo grande capital em que se insere a concentração da propriedade dos órgãos de comunicação social: em Portugal, 5 grupos detêm mais de 50 espaços de informação, com uma crescente presença de capital estrangeiro e da banca privada na estrutura accionista. Tal concentração, contraria a CRP, põe em causa o pluralismo, a liberdade de expressão e de acesso à informação, empobrece o regime democrático.
A comunicação social é um negócio para os seus proprietários, mas sobretudo constitui um instrumento de influência e de poder político, social, económico e ideológico. Também por isso, precisamos, ao contrário do que tem acontecido, de um serviço público que disponha dos meios para cumprir a obrigação constitucional de salvaguardar a sua independência perante o poder político e o poder económico, e capaz de «assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião».
Bem revelador do apurado sentido de controlo e orientação dos principais grupos dominantes, é a inconformação de grande parte dos órgãos de comunicação com a actual solução política, particularmente com o papel do PCP, acentuando-se o silenciamento, a discriminação, e mesmo o ataque ostensivo.
Somam-se os demais aspectos marcantes da informação actual: o imediatismo, o efémero, a contaminação da notícia pelo sensacionalismo, o entretenimento, a confusão deliberada entre publicidade e espaço de informação. O recurso sistemático à opinião e ao comentário, dominantemente protagonizado por responsáveis e impulsionadores da política de direita, o recurso à interpretação para desvirtuar ou destruir mensagens e posicionamentos políticos. Verdadeiros truques da imprensa portuguesa.
O Programa que o PCP propõe ao povo português preconiza uma comunicação social pluralista, democrática e responsável, como essencial a um regime de liberdade, cito: «É indispensável à formação, em condições de real liberdade, da opinião dos cidadãos e ao estímulo à sua participação cívica, à transparência da vida política, ao controlo democrático da acção dos órgãos de poder, à expressão genuína da vontade popular através do sufrágio, ao conhecimento das realidades e ao esforço colectivo para a solução dos problemas nacionais, à elevação do nível cultural da população e à aproximação, amizade e compreensão entre os povos». É também por isto que lutamos.