É uma grande honra para mim trazer ao vosso Congresso as saudações fraternais e os melhores votos de bom trabalho, da parte do Partido da Refundação Comunista italiano.
O nosso Partido encontra-se hoje, após um grande êxito eleitoral, numa situação política nova e muito exigente. Em 21 de Abril deste ano, uma coligação democrática englobando o nosso Partido e todas as forças de centro-esquerda derrotou, por escassa margem, a coligação das direitas, na qual desempenha um papel decisivo a Aliança Nacional, ou seja, a formação política surgida a partir do velho partido fascista. Esta vitória da coligação democrática levou à formação do Governo presidido por Romano Prodi. O Partido da Refundação Comunista faz parte da maioria que apoia este Governo, embora não esteja no Governo, por opção própria. Mas os nossos votos são decisivos, no Parlamento, para a existência deste Governo.Trata-se, portanto, duma situação inédita e para nós muito exigente. Hoje, o nosso esforço visa condicionar, na medida do possível e de forma coerente e rigorosa, a política do Governo. É bom que sejamos claros. O Governo Prodi não é, nem pode ser, o nosso Governo, o Governo dos comunistas: o seu programa é muito, é demasiado distante do nosso. Mas é o primeiro Governo em Itália, desde há pelo menos quinze anos, que encetou uma política económica de saneamento das contas públicas sem golpear o Estado Social e as camadas mais débeis da população. Isto é mérito da nossa acção política, do facto de que fazemos pesar os nossos votos determinantes para a sobrevivência do próprio Governo. E continuaremos a apoiar esta experiência inédita apenas enquanto fôrmos capazes de continuar a condicioná-lo, a defender no concreto os interesses dos trabalhadores.
No plano internacional, o nosso Partido está, como sabem, empenhado numa acção positiva e concertada para desenvolver as relações entre todos os Partidos da esquerda antagonista europeia. Penso, aliás, que o processo de intensificação das relações, da colaboração recíproca, do intercâmbio de informações e de discussão, de acção política internacional comum entre todos os Partidos antagonistas, a nível europeu, é hoje uma necessidade objectiva. A nossa opinião é, de facto, que cada Partido a nível nacional não pode, hoje, senão assumir também uma dimensão europeia da própria acção política: e esta dimensão pode e deve ser cimentada por uma intensificação das relações entre nós, entre os nossos Partidos. Uma esquerda antagonista a nível continental é a única – em nossa opinião – capaz de contrariar os processos em curso conduzidos pelo grande capital europeu, a única capaz de lutar pelos objectivos comuns de salvaguardar as conquistas democráticas e sociais, a única capaz de defender com eficácia e de relançar os interesses de classe que hoje são postos em causa de forma tão severa. Apenas uma tal unidade entre os Partidos comunistas e antagonistas europeus pode, finalmente, dialogar de forma eficaz com a esquerda antagonista a nível mundial, com os Partidos e movimentos de libertação da África, da Ásia e da America Latina, a começar pelo Fórum de São Paulo. Não se pode deixar esta dimensão planetária nas mãos da Internacional Socialista: é indispensável, portanto, que precisamente a partir da esquerda antagonista europeia se relance uma ideia de unidade, de diálogo e de acção política comum entre todas as forças anti-capitalistas e anti-imperialistas do mundo.
Os nossos dois Partidos, italiano e português, que mantêm desde há muitos anos relações fecundas de colaboração recíproca, podem desempenhar, em conjunto, um papel decisivo nestes processos. A nossa presença aqui, pretende testemunhar estas relações e os laços de fraternidade existentes entre nós, e representa um compromisso para o presente e para o futuro.
Agradeço-vos e desejo-vos bom trabalho: cada vosso êxito é também um êxito dos comunistas italianos.