Em primeiro lugar , pernitam-me que vous enderece a saudação fratenal do Partido Comunista Francês.
Com alguns meses de intervalo, os nossos dois partidos celebraram o 75º aniversário da sua fundação. Esta já longa história é feita de numerosos combates comuns. Ela testemunha a ligação dos nossos dois partidos com outros, na Europa e através do mundo, nos valores de libertação humana. Estes valores constituem o conteúdo moderno do que nós chamamos comunismo. Eles são portadores da aspiração a uma sociedade mais justa, uma sociedade de homens e de mulheres livres associados e iguais.
É forçoso constatar que estas exigências se chocam em todo o mundo neste fim de milénio com a brutalidade da lógica capitalista, uma lógica que quer orientar todos os recursos das nações para engordar os lucros financeiros.
E hoje, é em nome destas escolhas e desta lógica que os poderes instalados na Europa se entregam a uma verdadeira agressão contra os povos. É assim com as privatizações, com o desmantelamento dos serviços públicos, dos direitos sociais, do emprego digno e estável, da igualdade perante a cultura, a saúde, a velhice, a morte.
Aqui em Portugal, como em França e em todos os países da União europeia, este outono está marcado pela vontade de passar, em marcha forçada, à "moeda única", quer dizer a um sistema político não internacional mas supranacional, um sistema tendo por eixo, por alma, por espírito, as exigências dos mercados financeiros.
Nós queremos que a palavra "Europa" deixe de ser sinónimo, para os trabalhadores, de " livre circulação de capitais", de austeridade e de "golpadas". Nós queremos, ao contrário, que a Europa venha a ser para os povos de cada um dos nossos países um motivo de esperança. Para isso é necessário, segundo nós, atacar de maneira determinada a lógica ultraliberal do "mercado único" e do Tratado de Maastricht. À medida que se concretizam os prazos desta União Monetária, ela aparece mais claramente como um sistema visando explicitamente o enquadramento de maneira irreversível das economias e das políticas sociais dos Estados-membros, segundo os critérios impostos pelas instâncias financeiras internacionais, e na ocorrência pelo Bundesbank. Isto tudo desapossando as representações nacionais da sua soberania em matéria monetária, orçamental e social.
As consequências da escolha da moeda única serão muito graves para a França. É por esta razão que nós pensamos ser legítimo que os cidadãos e as cidadãs sejam consultados por referendo sobre uma questão tão importante.
Os comunistas franceses não são todavia partidários do fechar-se sobre si. Nós queremos mudar resolutamente a natureza desta Europa; mas estamos ao mesmo tempo ligados à realização da construção europeia , uma Europa onde os povos cooperem verdadeiramente e possam unir os seus esforços para afrontar o flagelo devastador do desemprego e elaborar grandes projectos industriais para o amanhã; uma Europa do diálogo criativo entre culturas, uma Europa dotada de instituições democráticas, uma Europa de paz, uma Europa de nações livres associadas e soberanas.
Grandes lutas estão actualmente em curso em numerosas nações da União Europeia. A inquietação aumenta também entre os governos e o patronato. Eles receiam ver os povos irem para além do simples protesto contra as consequências sociais da sua política, e empenharem-se na recusa da lógica desta construção europeia.
Esta investida dos trabalhadores e dos povos no terreno da contestação à actual construção europeia pode, segundo nós, contribuir para dar a esta toda a sua dimensão política ; ela pode também enriquecer a reflexão comum que prosseguem as forças comunistas e progressistas no que se refere à construção de uma alternativa de progresso.
O comício sobre o emprego de 11 de Maio que reuniu 15 partidos de esquerda e progressistas da Europa, foi prolongado pelos recentes encontros de Madrid e de Berlim. Tudo isto criou as condições de uma nova dinâmica de diálogo, de esforços comuns e de convergência na acção.
Todo o progresso nesta direcção pode contribuir no fim de contas para pôr em causa a Europa de Maastricht e abrir a via a uma construção europeia mais conforme aos interesses dos povos.
Comunistas franceses e portugueses podem ter um papel decisivo neste sentido e contribuir para dar forma a uma tal perspectiva, portadora de futuro para os nossos dois povos e, para o conjunto dos povos europeus.
Reafirmando mais uma vez os laços de solidariedade e de amizade que unem os nossos dois partidos, desejo, queridos caçaradas, frutuosos trabalhos ao vosso 15º congresso.