Cabe-me ser portadora da saudação fraternal que o Partido Comunista de Cuba, em nome do nosso povo, envia a este congresso ao qual desejamos os maiores êxitos. Agrada-nos compartilhar uma trincheira comum com este partido amigo e sempre solidário com Cuba, que consagrou os seus 75 anos de frutífera existência à luta pelos legítimos interesses do povo português.
O cenário mundial a que assistimos aponta para um destino cada vez mais triste para a imensa maioria da humanidade. Com o desaparecimento da URSS e do campo socialista europeu, rompe-se o equilíbrio estratégico de forças alcançado após a segunda guerra mundial e a hegemonia imperialista, encabeçado pelos Estados Unidos, actua como proprietário do planeta. A globalização e o neoliberalismo asseguram a distribuição cada vez mais desigual da riqueza a favor dos centros do poder mundial. A dívida externa arruina o Terceiro Mundo e continua crescendo. A produção de alimentos estagna, cresce a fome, a insalubridade e a morte.
No actual contexto internacional Cuba continua defendendo o seu direito à diferença, a dizer NÃO, a defender o nosso direito à vida, não à vida de poucos mas de todos, a forjar o homem íntegro e igual que postulou José Martí naquela frase magnífica que encabeça a nossa Constituição: "Eu quero que a primeira lei da nossa República seja o culto dos cubanos pela plena dignidade do Homem".
Um pacto económico e comercial sofrido por Cuba nestes anos não tem precedentes neste século. A nossa estratégia para o enfrentar baseia-se na unidade maioritária do povo, apoiando-se nas suas próprias forças, na inteligência e é o que a Revolução mais semeou, nas indústrias que construímos, nas herdades e cooperativas emergidas nos nossos campos. As mudanças económicas introduzidas nestes anos são só um complemento indispensável para nos conciliar com um mundo que não escolhemos.
A nossa estratégia fundamenta-se em não renunciar ao Socialismo. Permanece intacto o enorme sector social desenvolvido em Cuba em matéria de educação, saúde, cultura, desporto, assistência e segurança social. Em Cuba não se aplicaram terapias de choque do fundo monetário.
Padecemos de carências, mas compartilhamos por igual os recursos de que dispomos embora aflorem diferenças devidas aos mecanismos de mercado introduzidos. Com esta política a nossa economia começa a recuperar do abaixamento sofrido. E contra todos os prognósticos, a Revolução continua de pé e prosseguirá porque defendemos a verdade e a justiça.
Contra Cuba dirige-se o mais brutal e prolongado bloqueio agravado com a chamada lei Helms-Burton, que pretende fazer-nos desaparecer como nação. O colossal aparato subversivo e de diversão dos Estados Unidos, empregue antes contra a comunidade socialista, concentra-se agora contra a nossa pequena ilha. Em Guantânamo continua ocupado uma parcela de terra cubana por uma base naval contra a vontade do nosso povo.
Se o próprio Pentágono reconheceu que Cuba não constitui uma ameaça para os Estados Unidos? O que temem? Evidentemente, o exemplo. Não podem conceber que um pequeno país, à sua própria porta seja livre, independente e socialista. Não se resignam à admiração que desperta a heróica resistência do povo cubano. Na sua paranóia o governo norte americano ficou refém da sua política sobre Cuba, de uma pandilha terrorista que representa a extrema direita de origem cubana assente em Miami. Agora deram novo corpo a um velho expediente: procuram governos aliados para o trabalho sujo.
Cuba não pode permanecer impassível perante certos factos. A soberania conquistada com heróica luta de cinco gerações que passaram de mão em mão a catana e a espingarda não pode ser entregue nem negociada. Ao retirar-lhe a aprovação ao embaixador do governo de Espanha recentemente designado (Sr. José Coderch), perante um total desconhecimento das mais elementares normas éticas e do Direito Internacional, o nosso Governo reiterou ao espanhol a sua vontade de trabalhar para manter e desenvolver as relações com base do mais elementar respeito mútuo.
Os revolucionários cubanos estão conscientes dos perigos e desafios. Sabemos que o valor da Revolução e do Socialismo em Cuba reside na capacidade de preservar as suas conquistas. A vitória será o maior tributo ao povo, que bem o merece, e à Humanidade progressista: Hoje devemos praticar o internacionalismo, sobretudo, dentro das nossas fronteiras.
A gigantesca obra da Revolução realizada num pequeno país de escassos recursos, hostilizado, agredido, caluniado e perseguido durante mais de 35 anos, é algo difícil de compreender para quem a não conhece. Cada vez são mais as vozes que se levantam em defesa dessa realidade e esperança. Entre as mais firmes e claras, destaca-se a dos comunistas portugueses. Esse apoio jamais o esqueceremos.
Muito obrigada.