Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário Geral do PCP, Visita à Feira de Agosto

Vivemos num momento de contradição entre a propaganda e a vida dura e real das pessoas

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Uma saudação a todos os que aqui estão connosco, nesta grande Feira de Grândola. 

Uma saudação à militância, ao esforço e dedicação dos camaradas que garantiram que fosse possível esta iniciativa.

Uma saudação aos amigos que aqui estão, são todos bem vindos.

Tal como acontecerá daqui a uma semana, quando a nossa Festa do Avante! abrir portas.

Aí estaremos com muitos milhares, de diferentes convicções e sensibilidades, que ali se sentem bem e em casa.

A poucos dias da Festa, podemos achar que já só falta uma semana ou considerar que ainda falta uma semana.

Se me permitem, julgo que ainda falta uma semana, ainda há tempo para ir à conversa com muita gente, para divulgar, para vender mais Eps.

Há milhares que estão neste momento a decidir da sua ida à Festa. 

Ainda há tempo para ajudar os que já foram e que por esta ou aquela razão deixaram de ir e, em particular, ajudar os que nunca foram e dessa forma deslumbrarem-se por aqueles três dias mágicos que constituem a Festa.

Esse momento de afirmação do Partido e da nossa iniciativa, como estamos aqui hoje a fazer e como fazemos em todas as oportunidades.

E como a actividade está a ser intensa neste verão aqui no Litoral Alentejano, um trabalho que é de valorizar e que é preciso prosseguir e intensificar.

Vivemos num momento de contradição entre a propaganda e a vida dura e real das pessoas.

A contradição e o confronto entre os que alimentam a actual situação e os que, como nós, não se conformam com a injustiça e a desigualdade.
A pretexto do veto ao pacote da habitação, fui questionado sobre se achava se havia ou não um conflito entre o Presidente da República e o Governo.

De facto nós estamos confrontados com grandes e intensos conflitos, mas nenhum é institucional, são sim sociais e económicos.

O conflito entre os 2 milhões de pobres, 345 mil dos quais são crianças, e os 5% mais ricos que têm nas mãos 42% da riqueza do País.

O conflito diário, duro e muitas vezes desesperado, entre os que, face ao aumento dos juros das prestações e do valor das rendas, tudo fazem, de tudo se privam para aguentar o seu maior bem, o seu lar, a sua casa, ao mesmo tempo que a banca encaixa por dia 11 milhões de euros de lucros.

O conflito entre os milhões e milhões de lucros dos grupos económicos e os mil euros de salário bruto que auferem 3 milhões de trabalhadores.

É mesmo uma emergência nacional o aumento dos salários, o aumento real, o aumento que as pessoas sintam de facto. Não podemos continuar com salários tão baixos, uma realidade que é transversal mas que se sente de forma muito crua aqui na região, na agricultura, na restauração ou no turismo.

O conflito da falta de médicos, como este concelho bem sente, vendo profissionais a irem embora ou para a reforma sem serem substituídos, o conflito do desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, a falta de respeito pelos profissionais, e os 6 mil milhões transferidos do Orçamento do Estado direitinhos para o negócio da doença.

O conflito entre os interesses nacionais e a nossa soberania, e as decisões, imposições e opções da União Europeia.

O conflito entre a produção nacional, o défice alimentar e a incapacidade de lhe dar resposta.

Ainda há dias o INE deu nota que a produção de cereais, neste ano, foi a pior de sempre.

Rapidamente vieram culpar a seca.

A seca é de facto em si mesmo um problema que não se quer enfrentar e tem as costas largas.

Mas a verdade é que a área semeada, isso sim, foi uma das menores de sempre.

Os agricultores não semearam, não foi por causa da seca, foi, isso sim, pelos elevadíssimos custos de produção, dos combustíveis, dos adubos, dos pesticidas, foi, isso sim, pela incapacidade do Governo de definir apoios claros e preços justos à produção.

O conflito diário dos 400 mil idosos com reformas até 551 euros, os milhares de trabalhadores que estão na precariedade e os 700 milhões de euros de benefícios fiscais só em IRC.

O conflito dos 2 milhões de trabalhadores em trabalho nocturno, por turnos, sábados, domingos, feriados, sem tempo para a vida e sem tempo para os filhos.

O conflito dos défices estruturais do País e as decisões da União Europeia que condicionam os nossos caminhos soberanos, os crimes económicos das privatizações e a corrupção que lhes está associada, para além da abdicação dos nossos recursos como a Galp é bem exemplo aqui na região, canalizando mais investimento para o estrangeiro e esquecendo a Refinaria de Sines.

O conflito entre os aumentos dos preços dos bens essenciais, em particular dos alimentos, a opção para milhares de comer menos porque não têm dinheiro e os lucros históricos da grande distribuição.

O conflito que milhares de famílias estão neste momento a travar, por falta de vaga em creches.

Estes sim, são os conflitos que se travam e os problemas que é preciso solucionar.

Solução é aumentar salários e pensões, de forma significativa.

Solução é garantir direitos laborais, contratos efectivos e horários regulados.

Solução é fixar os preços de bens essenciais, nomeadamente dos alimentos.

Solução é proteger a habitação, aumentar a oferta pública, criar uma moratória, por um período de dois anos, tal como existiu e bem durante a epidemia, fixar um spread de 0,25% pela CGD.

Solução é pôr os lucros da banca a suportar os aumentos das taxas de juro.

Solução é aumentar o investimento nos serviços públicos, nomeadamente na saúde e na educação e responder às justíssimas reivindicações dos seus profissionais que tanto fazem pela causa pública.

Solução é reduzir o IRS para os trabalhadores e reformados, baixar o IVA da electricidade, do gás e das telecomunicações, é tributar os lucros dos grupos económicos.

Solução é pôr o País a produzir, decidir de forma soberana sobre os recursos e o controlo público dos sectores estratégicos.  É valorizar o aparelho produtivo nacional e investir, nomeadamente, na Refinaria de Sines.

Solução é valorizar e reforçar o Poder Local Democrático, é avançar de uma vez por todas com a regionalização.

Aqui estão as soluções que não servem aos grupos económicos nem aos seus instrumentos políticos de serviço, mas que servem aos trabalhadores, ao povo e ao País.

Perante uma questão central que hoje é muito evidente, de forma alargada e para cada vez mais gente, quando o PCP avança e se reforça a todos os níveis, a vida de cada um avança e anda para a frente, quando o PCP por esta ou aquela razão, diminui a sua força, a vida, os direitos e o País andam para trás.

Se assim é, e é, então é do interesse dos trabalhadores, das populações, dos democratas, o reforço do PCP, o reforço da CDU, porque isso significa o seu próprio reforço, o reforço das suas vidas, das suas condições.

Com o nosso reforço, com a luta de massas e o envolvimento dos democratas vamos, mais cedo ou mais tarde, mas é que vamos mesmo, pôr o País e a nossa vida a andar para a frente.

Com determinação, com alegria, com confiança na nossa história, no nosso projecto, no nosso ideal e na razão que temos, vamos para a frente e pôr o País a andar para a frente.
 

  • aumento dos salários
  • direito à habitação
  • reforço do SNS