Intervenção de Alfredo Maia na Assembleia de República, Debate com o governo

A UE continua a impor sacrifícios aos povos e a prosseguir a escalada de confrontação que anima os Estados Unidos e a NATO

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Senhor Presidente,
Senhores membros do Governo,
Senhores deputados,

O discurso sobre o estado da União Europeia proferido pela presidente da Comissão é uma chocante peça de oratória, pelo tom ostensivamente belicoso e pela altivez com que expõe a sua ideia de ordem mundial – obedientemente seguidista das ordens de Washington.

Dedicando boa parte da intervenção à guerra na Ucrânia e à Federação Russa, Ursula von der Leyen não concedeu espaço, entre as 5 814 palavras que proferiu, a uma única que traduza um desejo de paz, ou sequer de diálogo.

Pelo contrário, deixou muito clara a intenção de prosseguir a escalada de confrontação que anima os Estados Unidos, a NATO e a União Europeia.

São da senhora Von der Leyen estas palavras lapidares: 

“Não é o momento de apaziguamentos, mas sim de dar provas de determinação.”

Embora reconheça o efeito devastador das sanções, a senhora Von der Leyen defende-as fazendo a apologia da guerra, que não deveria ter começado, mas que justifica todos os sacrifícios impostos aos povos. 

Perante as dificuldades de micro, pequenas e medias empresas e das famílias, tenta estabelecer um paralelismo entre a crise presente e a gerada há meio século pelo choque petrolífero. 

Mas omite que, nos anos 1970, durante o surto inflacionário, os salários reais cresceram, ao passo que agora diminuem, e de forma acelerada.

A presidente da Comissão reconhece a existência dos "super-lucros” no sector da energia (a expressão é sua e confirma que afinal alguém ganha com as sanções e a guerra), e até sugere uma tributação - temporária e limitada, bem se vê...

Mas não põe em causa as regras de funcionamento do mercado liberalizado que os viabiliza - desde sempre, e não só agora. E nada adianta sobre os igualmente super-lucros da grande distribuição alimentar e outros sectores que sempre medram com as crises.

Assim como não questiona a política do Banco Central Europeu, mantendo silêncio quanto à galopante subida das taxas de juros, profundamente lesiva da vida das famílias, das micro, pequenas e medias empresas e das economias e estados periféricos do Sul como Portugal, particularmente no que respeita aos encargos com a dívida.

A presidente da Comissão enfatiza o desígnio do “investimento”. Mas, contrariando a expectativa numa reforma do Pacto de Estabilidade, limita-se no essencial a secundar a posição alemã: Não esperemos flexibilidade nas regras orçamentais. 

É patente a ideia de maior fixação no critério da despesa. Por outro lado, a política monetária do BCE, injustificável e perigosa, representa um obstáculo ao investimento.

Por fim, assinale-se a preocupante caça às bruxas, a teoria do inimigo externo pelos vistos instalado entre nós, a “influência estrangeira escondida”, como que entreabrindo portas a novos ataques a direitos, liberdades e garantias e, por conseguinte, à democracia. 

A concretizarem-se, não deixarão de ter a necessária resposta.

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