Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

Os salários dos membros do Conselho de Administração da Entidade Reguladora da Aviação Civil (ANAC)

Sr. Presidente,
Sr. Deputado Heitor Sousa,
Quero começar por voltar à mesma Ata que lembrei há momentos.
O PCP, quando a Lei-Quadro, que tem sido citada, esteve a ser discutida no Plenário, afirmou, e continuará a afirmar quantas vezes for preciso, que «não aceitamos que estas entidades reguladoras sirvam como segundo governo, não responsabilizado perante os eleitores, com decisões em relação às quais o Governo nada diz, numa suposta neutralidade técnica. Não aceitamos que estas entidades funcionem como álibi, como bode expiatório das políticas e opções dos Governos, dos seus resultados e consequências».
E, continuando: «Atualmente, a situação que temos e que esta proposta de lei vem consagrar é que o Governo designa as administrações das entidades, coloca-as numa espécie de comando à distância e, depois, afasta-se formalmente da fiscalização e do controlo dos setores em causa». Não foi por falta de aviso, Srs. Deputados do PSD e do CDS!
Isto é extraordinário! O PSD não queria que isto fosse discutido no Plenário de hoje, estranhou trazer-se o assunto à baila! O CDS, agora, veio justificar estes aumentos escandalosos, invocando a lei que aprovou, com o PSD, na Assembleia da República!
O mesmo CDS, cujo Ministro da Economia participou diretamente e pessoalmente na nomeação da tal Comissão de Vencimentos que se saldou nestes aumentos escandalosos!
Como é que se compreende, Sr. Deputado, que o aumento tenha sido aplicado a estes administradores com retroativos?!
Isto, quando a lei proíbe expressamente estes retroativos?!
Como é que se compreende que estes administradores tenham estado convenientemente à espera, de junho até outubro, para receberem os vencimentos acumulados e retroativamente aumentados em 150%?!
Como é que se admite que haja uma Autoridade Nacional da Aviação Civil, responsável, por exemplo, pelas decisões sobre as taxas de aeroporto, que seja presidida por um ex-administrador da ANA — Aeroportos de Portugal, que, confrontado com o facto, aqui, na Assembleia da República, afirmou aos Deputados que não iria participar em decisões sobre tais matérias?!
Terminando, Sr. Presidente, como é que se admite que isto aconteça quando os outros dois administradores em funções são outro alto quadro da ANA — Aeroportos de Portugal, portanto, na mesma situação, e uma ex-assessora do então Secretário de Estado Sérgio Monteiro, nomeada por este, que passou para o INAC e lá foi ficando até hoje?!
A última pergunta, Sr. Presidente e Sr. Deputado, é a seguinte: como é que se compreende e aceita que os salários principescos, então decididos e aumentados em 150%, tenham ficado ilegalmente em segredo até à denúncia que agora foi feita?!

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