Intervenção de Andrea Araújo, Dirigente da CGTP-IN, Sessão Pública «Mais Força aos Trabalhadores»

A riqueza é criada pelos trabalhadores. A riqueza tem que ser melhor distribuída por quem a produz!

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Os trabalhadores e as populações atravessam uma situação muito difícil, com o aumento do custo de vida e a contínua escalada dos preços dos bens e serviços essenciais.
Para muitas famílias é uma realidade cada vez mais presente  a da escolha entre pagar as contas, a renda ou o empréstimo da casa e pôr comida na mesa até ao fim do mês.
Os baixos salários e pensões desaparecem muito antes do fim do mês.

Isto, ao mesmo tempo que os lucros batem recordes e em muitas empresas e sectores mais que duplicam.

Os números falam por si: Nos grupos Sonae e Jerónimo Martins os lucros aumentaram mais de 30% nos primeiros noves meses de 2022; Os 5 maiores bancos no País (Novo Banco, Santander, CGD, BPI, BCP) fecharam 2022 com um dos melhores resultados dos últimos anos: quase 2,6 mil milhões de euros, um aumento de 71% face ao ano anterior; a Galp teve lucros de 881 milhões de euros; Na EDP Renováveis, os lucros ultrapassaram os 680 milhões de euros.

Dizem-nos que é a guerra, que é a “espiral inflacionista”, que foi a covid, e que antes foi a crise, podem arranjar mil desculpas para justificar o injustificável.

A riqueza é criada pelos trabalhadores. A riqueza tem que ser melhor distribuída por quem a produz!

Não se combatem as desigualdades aumentando os rendimentos do capital e esmagando os salários e as pensões.

Os lucros obscenos que, nas últimas semanas têm sido anunciados, que assentaram em larga medida na especulação, na cartelização, e beneficiaram da acção contemplativa do Governo, e da acção cúmplice dos partidos da política de direita, PS, PSD, CDS, IL e Chega, que, qual orquestra sob a batuta do grande capital e de Bruxelas amarram o país à dependência, empurra os trabalhadores e as suas famílias para o empobrecimento.

Entretanto, já nos habituámos a ver o Governo sempre assertivo quando se trata de impor a perda de poder compra dos salários e pensões mas sempre tão passivo quanto ao escândalo dos colossais resultados dos grandes grupos económicos e financeiros, para não tocar nos seus lucros e privilégios

Dizem que “temos de deixar o mercado funcionar”, dizem que “não podemos controlar preços”, mesmo quando não sobram denúncias que o tal mercado é uma patranha, que há concertação de preços, que há uma clara especulação, quando uns poucos enriquecem muito com a miséria de tantos.

Parece que querem fazer de nós parvos, e certamente haverá quem se preste a elaborar um belo estudo que confirme que tudo vai bem e que isto é mesmo assim… toda uma nova versão do “aguenta, aguenta mais austeridade”, que já derrotámos e que vamos voltar a derrotar!

Uma gigantesca ofensiva ideológica que é justificação para a brutal ofensiva patronal com o objectivo de cortar no salário real, de não cumprir direitos, de aumentar ao máximo a exploração.

Uma ofensiva montada em cima de alterações à legislação laboral que deixam intocados todos os instrumentos que o grande capital tem ao seu dispor, que mantém a caducidade, que não reduz o tempo de trabalho. Tanto discurso que se faz sobre a Revolução Tecnológica, a Indústria 4.0, as ditas novas formas de produção, avanços que são fruto do trabalho, mas que apenas são colocados ao serviço da acumulação de lucros pelo capital.

Uma legislação laboral que desequilibra as relações laborais fragiliza ainda mais os trabalhadores e favorece ainda mais o patronato, contra a qual todos os dias lutamos, afirmando que há direitos que são intocáveis e outros que, até estarem consagrados, nos farão agir, reivindicar, esclarecer e mobilizar cada vez mais trabalhadores para a luta.

Desenganem-se os que pensam que podem limitar a liberdade sindical ou o direito à greve. Cá estaremos para os afirmar e exercer como já fizemos no passado e continuaremos a fazer.

O ataque aos direitos e salários faz-se ainda à boleia das opções do Governo para os trabalhadores da Administração Pública. Décadas de perda de poder de compra, de sangria de recursos, de desinvestimento crónico, fazem com que funções sociais do Estado, que são em si o garante de direitos para toda a população, estejam hoje degradadas e em alguns casos ameaçados.

A falta de respostas, na saúde e na educação, na protecção social e na habitação são o resultado da opção política, da primazia ao mercado em detrimento da intervenção do Estado.

Na habitação, com rendas insuportáveis, juros que sobem a galope, a falta de soluções e de habitação pública é hoje uma evidência que nem o Governo esconde. Faltam casas porque PS, PSD e CDS se recusaram sempre a que houvesse uma resposta pública, apostaram sempre no negócio e na especulação.

É por tudo isto que afirmamos que  é tempo de dizer basta!

Queremos o que é nosso por direito.

Exigimos o aumento geral dos salários, um aumento real, que vá além da inflação que reponha e reforce o poder de compra, que nos permita viver!

Queremos o aumento dos salários e das pensões, elevar o poder de compra, impulsionar o consumo que resulta da satisfação de necessidades que hoje são negadas e, assim, dinamizar a economia, a produção e com ela o emprego com direitos.

Reclamamos o aumento os salários em 10% com um mínimo de 100€, para a nossa vida melhorar e o País avançar. É uma questão de opção, aumentar os salários e aplicar as medidas que travem o brutal aumento dos lucros.

Reclamamos o direito à negociação e contratação colectiva, valorizando carreiras e profissões, fixando no nosso país todos os que aqui querem viver e trabalhar.

Dizem aos sete ventos que falta mão de obra, quando aquilo que falta são salários e direitos!

Efectivem os direitos, melhorem os salários e não faltarão trabalhadores. Garanta-se a todos, tenham ou não nascido no nosso país, os direitos e os salários, e assim se acabará com as situações infames que vão de Odemira à Mouraria, que estão presentes em todo o país e atingem cada vez mais camadas da população.

É tempo de abrir um novo caminho, em Portugal, na Europa e no Mundo, onde milhões de trabalhadores lutam contra o aumento custo vida e contra a exploração.

Uma luta dos trabalhadores em muitos países da Europa que daqui saudamos e com a qual nos solidarizamos, que se desenvolvem a partir dos problemas concretos em cada país e que reforçam o caudal da luta dos povos em defesa dos seus direitos e pelo progresso social.

Luta que se desenvolve também em Portugal e que teve, no passado dia 18 de Março na grandiosa manifestação Nacional convocada pela CGTP-IN, um mar de gente que veio ocupar o centro de Lisboa gritando que não aceita a exploração, que não desiste dos seus direitos, e que quer e é possível uma vida melhor, mas também a luta de todos os dias realizada pelos trabalhadores do sector privado, da agricultura e das pescas, das IPSS’s e Misericórdias, da indústria transformadora e extractiva, da distribuição, do comércio e serviços, da hotelaria e restauração, dos transportes, das comunicações, da energia,  da construção civil, da banca, bem como do sector empresarial do Estado.dos trabalhadores da Administração Pública e da Administração Local, dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, dos trabalhadores não docentes, dos assistentes técnicos e operacionais, e restantes profissionais.

Luta que, tendo contado com uma importante contribuição dos jovens trabalhadores nas Manifestações em Lisboa e no Porto na passada terça feira,.

Luta que, enfrentando a repressão em muitas empresas e locais de trabalho e rechaçando as tentativas de impedir o direito à greve, conseguiu, ainda assim, alcançar vitórias, ao nível do aumento dos salários, de horários mais dignos, de garantia de vínculos efectivos, mostrando que lutar vale a pena.

E a luta vai continuar nas empresas e nas ruas, nas comemorações da Revolução de Abril e que  terá no próximo 1º de Maio uma jornada maior da acção reivindicativa dos trabalhadores no nosso país, em que vamos trazer à rua os problemas do dia-a-dia e as soluções, em que vamos elevar a exigência de “Mais salário, mais direitos, melhores pensões! Lutar Contra o aumento do custo de vida e assim combater a exploração”.
VIVA A LUTA DOS TRABALHADORES!

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