Intervenção de Francisco Almeida, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

Os professores, o sindicalismo de classe e o combate ao divisionismo

Os professores, o sindicalismo de classe e o combate ao divisionismo

Camaradas,

Creio que no setor dos professores podemos considerar a existência de três categorias no que respeita ao divisionismo sindical – o que remonta ao período posterior ao 25 de Abril, com a criação da UGT; as movimentações mais recentes e que se iniciaram no tempo da ministra Lurdes Rodrigues, no governo PS/Sócrates; e as posições que aqui e ali, sem sucesso, tentam por fim à natureza de classe do movimento sindical unitário.

No primeiro grupo incluímos as organizações da UGT que assumem posições e propostas que não correspondem às posições dos professores não apenas em matérias socioprofissionais, mas também em áreas estruturantes para o funcionamento das escolas. Podemos registar apenas como exemplo a direção e gestão das escolas e a municipalização da educação. Essas organizações defendem o atual modelo antidemocrático de governação das escolas e convivem bem com o processo de municipalização da educação iniciado com o governo do PSD/CDS e, agora, aprofundado pelo governo minoritário do PS.

Nestes dois exemplos registamos que assumem posições que os professores quase unanimemente recusam. Podemos dizer que se trata do divisionismo clássico, que há muitos anos contribui para tirar força à ação e à luta dos professores. Em momentos diversos estiveram do lado errado. Entre outros, nos tempos de Roberto Carneiro, Manuela Ferreira Leite ou Nuno Crato – ministros que conduziram políticas de vários governos contra os professores e a escola pública. Assumem posições e propostas que não vingariam se confrontadas com as opiniões dos professores e educadores.

Uma outra categoria no divisionismo sindical são as “coisas” [uso esta designação de forma deliberada] que foram aparecendo, sobretudo desde o consulado de Maria de Lurdes Rodrigues/José Sócrates, cuja expressão reside quase exclusivamente nuns blogs, numas páginas de facebook e nas boleias que a comunicação social lhes proporciona. Sobre as importantes questões que importam aos professores e às escolas não se lhe conhecem propostas estruturadas e muito menos discutidas com os professores. Não se trata de organizações. Trata-se de “coisas” que correm atrás dos acontecimentos e, de quando em vez, escrevem nas redes sociais. Nalguns casos estamos perante aquela piada que diz “não sei do que se trata, mas sou contra”.

Na terceira categoria registamos posições que tentam transformar os sindicatos e as lutas que desenvolvem em movimentos de cidadãos.

Cito Álvaro Cunhal, no Ciclo de Debates, do 25º aniversário da CGTP – “ Como se já não houvesse explorados e exploradores no mundo. Como se já não houvesse governos ao serviço do capital. (…) Partindo daí apontam ( e não se lhes pode neste aspeto negar coerência) que o movimento sindical tem de ser completamente “refundado”.

A expressão mais recente deste tipo de posições fica expressa na ideia de que, neste tempo de pandemia, “estamos todos no mesmo barco”. Ora, a questão é que não estamos …

Na refundação que apontam tratava-se de o movimento sindical unitário abandonar o seu caráter de classe, unitário e de massas. Talvez um movimento sindical fofinho sentado na concertação, com o objetivo de fazer um ou outro conserto no sistema capitalista.

Devemos interrogar-nos sobre como é possível combater de forma eficaz qualquer destas três categorias do divisionismo sindical.

Creio que, neste domínio, está tudo inventado. Precisamos de continuar a construir propostas para as reivindicações dos professores assentes na discussão com os profissionais de educação. Exatamente aquilo que outros não fazem. Exatamente aquilo a que alguns tentam escapar. A ação e a luta terão sempre maior expressão quanto maior for o envolvimento dos professores. A presença permanente nas escolas é igualmente remédio para dar combate a todas as formas de divisionismo. De igual forma, a construção de uma rede de delegados sindicais que assegure ligação constante às escolas, é contributo essencial para continuar a travar esse combate com sucesso.

Do que se trata é de garantir uma ligação permanente às escolas e aos professores. Ligação aos problemas e aspirações dos profissionais e contacto regular assegurado com reuniões e pequenos encontros nas salas de professores. Neste momento é mais difícil, mas a vida não acaba agora e tudo teremos que fazer para que as reuniões em videoconferência não venham a constituir-se como a prática comum.

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