Intervenção de Rui Braga, membro do Secretariado do Comité Central, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

O Partido e o movimento operário e sindical - 100 anos de luta

O Partido e o movimento operário e sindical - 100 anos de luta

Camaradas;

A história do movimento operário e sindical é indissociável do papel, da acção e intervenção dos comunistas. Assim é em Portugal desde a criação do nosso Partido - O Partido Comunista Português.

Em 1919, o operariado português olhava para Revolução de Outubro e tomava conhecimento dos seus feitos com expectativa e esperança. Nesse mesmo ano, um conjunto de sindicalistas revolucionários criam a Federação Maximalista e o seu jornal - Bandeira Vermelha -, onde divulgam as ideias vindas de Leste e defendem os ideais e o projecto comunista de transformação da sociedade, do fim da exploração do Homem pelo Homem, iniciados com a Revolução de Outubro.

A fundação do PCP em 6 de Março de 1921, por um conjunto de militantes, quase todos oriundos das fileiras do sindicalismo revolucionário, que contrariamente ao que acontecia por toda a Europa, não nascia de cisões nos partidos sociais-democratas, ira influenciar decisivamente toda a história subsequente do movimento operário e sindical e da vida nacional.

Praticamente após a fundação do Partido surgem núcleos de comunistas nos sindicatos. Entre os activistas operários é visível a percepção das diferenças ideológicas e das práticas entre o marxismo-leninismo e o anarquismo, ao mesmo tempo em que se acentuam as divergências e a conflitualidade.

Ao longo de toda a década dos anos 20 do século passado, coexistem na CGT correntes político-ideológicas revolucionárias, anarquistas e comunistas. Com a reorganização do PCP em 1929, ocorre também uma importante reorganização do movimento sindical cujos resultados de maior êxito foram a formação de uma federação unitária dos transportes marítimos e terrestres e a criação do sindicato dos operários vidreiros, com sede na Marinha Grande.

Ao mesmo tempo crescem na Europa forças fascistas e em 28 de Maio de 1926 dá-se o golpe militar que criaria as condições para a instauração do regime fascista em Portugal.

O regime procura desde logo atacar o Partido e os sindicatos lançando contra estes uma enorme ofensiva com a publicação do Estatuto do Trabalho Nacional, em 1933. Com a dissolução dos sindicatos livres o Partido avançou com a orientação para a criação de sindicatos clandestinos.

Tais medidas, aliadas a um longo processo de luta social e sindical pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores levam a que no dia 18 de Janeiro de 1934 ocorra uma greve geral, que teve na Marinha Grande a sua máxima expressão.

A repressão desencadeada pelo regime foi de enorme violência. Grevistas por todo o País foram despedidos. Centenas de activistas sindicais foram presos e muitos foram enviados para a Fortaleza de Angra do Heroísmo e, posteriormente, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde viriam a morrer, entre tantos outros, Mário Castelhano, Secretário-Geral da CGT e Bento Gonçalves, Secretário-Geral do PCP.

Em 1935 o Partido corrige a orientação traçada e aponta para a integração nos sindicatos nacionais, procurando «estar onde estão as massas!».
Com a reorganização de 1940/41, efectiva-se a orientação e o Partido promove e apoia Comissões Sindicais nos sindicatos corporativos, com o objectivo de os pressionar a defender os interesses dos trabalhadores, possibilitando assim importantes lutas, objectivamente inseridas na luta política antifascista.

Com o fim da II Guerra Mundial, as grandes manifestações que por todo o País festejam a vitória sobre o nazi-fascismo provocam um abanão na ditadura, que possibilitam aos trabalhadores a conquista de cerca de 50 direcções da sua confiança, nas eleições sindicais de 1945.

No IV Congresso do PCP, em 1946, José Gregório, no relatório sobre o trabalho sindical aponta a necessidade de no plano sindical se «criar um amplo movimento unificado à escala nacional». A 1 de Outubro de 1970, após um longo percurso de greves, lutas, conquistas, nasce a Intersindical.

Tal como em 1945, com o fim da II Guerra Mundial, o regime ensaiou, no início da década de 70 um simulacro de democracia. Contudo, tal ensaio foi «sol de pouca dura». Aquela que ficou conhecida como a Primavera Marcelista rapidamente foi substituída por forte repressão.

Sindicatos encerrados e dirigentes sindicais - a maioria militantes do PCP - presos. A Intersindical foi proibida. Contudo tal repressão não conseguiu os seus intentos e mesmo debaixo da feroz mão do regime a actividade sindical continuou e intensificou-se e a uma semana do 25 de Abril, a Intersindical reunia para preparar o 1 de Maio de 1974.

Com a Revolução de Abril, a Intersindical assume importante papel na luta pela defesa dos interesses dos trabalhadores e na defesa e aprofundamento da democracia.

Camaradas;

Ao longo destes anos, a CGTP-Intersindical Nacional manteve-se fiel aos seus princípios, independentemente das várias pressões e tentativas para a destruir e deturpar os seus ideais fundadores.

Perante um movimento sindical de classe, unitário, forte e unido, o capital e seus representantes no plano político - PS, PSD e CDS - encetaram vários ataques à grande central sindical dos trabalhadores portugueses, como a designava o camarada Álvaro Cunhal.

Seja pelo aparecimento, quando não o ressurgimento de velhas e estafadas teses para a reorganização sindical, seja por recorrentes campanhas provenientes de diferentes sectores e com diversos contornos, mas todos elas com o objectivo único de isolar o movimento sindical unitário, apresentando-o como uma qualquer agremiação de profissionais da agitação sem respaldo na generalidade dos trabalhadores, seja ainda pelo divisionismo entre os trabalhadores e a criação, artificial, da UGT em 1979, para “Partir a espinha à Intersindical”, tudo tem servido de pretexto para condicionar e tentar enfraquecer o Movimento Sindical Unitário e aquela que é a legitima herdeira das gloriosas tradições de organização e de luta da classe operária e dos trabalhadores portugueses.

Linhas de ataque que se fazem sentir também quanto à influência dos comunistas no movimento sindical com as já, elas também, velhas e estafadas acusações de imposições ou ingerências.
Camaradas;

Os tempos que vivemos, tornam mais claro que os novos e velhos problemas que os trabalhadores enfrentam não resultam da influência dos comunistas no Movimento Sindical Unitário. Eles são, antes de mais, inerentes ao próprio sistema de exploração capitalista e das opções da política de direita de sucessivos governos do PS, PSD e CDS.

São tempos que confirmam também que é com este Partido - que se prepara para comemorar o seu Centenário - com a participação e influência dos comunistas que esta cultura e prática sindical, que alia a luta reivindicativa económica e por direitos laborais à luta política por direitos fundamentais, continuará a ser uma marca distintiva do Movimento Sindical Unitário português.

Tempos que confirmam também que este é um combate que continuaremos a travar. Um combate que nos comprometemos a prosseguir, na linha do que gerações de comunistas fizeram ao longo dos anos, no respeito pelos princípios de funcionamento do Movimento Sindical unitário.

A classe operária, os trabalhadores e o movimento sindical de classe - com o contributo empenhado dos comunistas - estarão à altura das suas responsabilidades históricas, assumirão o seu papel dinamizador da transformação social, inserindo as reivindicações imediatas na luta pelos valores de Abril no futuro de Portugal, pela emancipação dos trabalhadores e a construção de uma sociedade sem classes, uma sociedade nova livre da exploração do Homem pelo Homem, pelo socialismo, pelo comunismo.

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