A libertação de Nelson Mandela, anunciada para hoje, constitui um acontecimento que enche de alegria os comunistas portugueses e que será seguramente saudado em todo o mundo por todos os cidadãos amantes da liberdade, da justiça e do progresso social.
Grande figura da luta e da resistência do povo da África do Sul, há 27 anos prisioneiro político do regime do apartheid, Nelson Mandela é um extraordinário exemplo e símbolo de firmeza, combatividade, dignidade e dedicação aos interesses e à causa do seu povo, em luta prolongada e marcada por imensos sacrifícios contra um regime de discriminação, terror e opressão cuja sobrevivência era - e ainda é - uma terrível mancha negra no mundo contemporâneo.
A libertação de Nelson Mandela - provavelmente o mais antigo prisioneiro político do mundo - é, essencialmente o resultado vitorioso da luta do seu próprio povo, dirigida pelo ANC, e de um vasto e diversificado movimento de solidariedade internacional no qual os comunistas dos mais diversos países se orgulham de, como era seu dever e imperativo de consciência, ter participado de forma particularmente activa e persistente.
Na feliz hora em que Nelson Mandela conquista a liberdade para prosseguir com o ANC e com o seu povo a luta pelo inalienável direito de decidir do seu próprio destino, é necessário lembrar que durante décadas nem a prolongada prisão de Mandela e de centenas de companheiros de luta, nem numerosos massacres e atrocidades, nem a existência de um violentíssimo, sistema de opressão social e política, nem a mais brutal liquidação das liberdades e direitos dos cidadãos, nem os aspectos mais ignominiosos e repugnantes da discriminação racial constituíram motivo bastante para que governos de numerosos países capitalistas desenvolvidos - que hoje, cinicamente, se afadigam em discursos sobre a liberdade noutras latitudes - deixassem de manter cordiais relações com o regime de Pretória e de lhe prestar preciosos apoios económicos, militares e diplomáticos, ou para que os grandes monopólios transnacionais tivessem deixado de fazer chorudos negócios com tal regime à custa da pilhagem das riquezas que em rigor são pertença de todo o povo da África do Sul.
Num período em que se multiplicam as pressões ideológicas para decretar a morte de grandes ideais de progresso e transformação social que animaram e animam milhões de homens e mulheres em todo o mundo, a libertação de Nelson Mandela e os avanços da luta do povo da África do Sul aí estão a colocar em evidência que o futuro pertence aos que não abdicam dos seus ideais, convicções, esperanças e projecto libertador.