As gigantescas manifestações de quinta-feira em França trouxeram aos títulos e editoriais dos jornais europeus, além do mal-estar e das dificuldades, uma realidade que não se verifica exclusivamente naquele país paralelamente com o aumento exponencial dos lucros, a tendência dos grandes grupos económicos para não reinvestirem e fazerem distribuições milionárias de dividendos.
Os sindicatos franceses denunciam que mais de 60 mil milhões de euros de lucros serão este ano distribuídos aos accionistas, enquanto patina o investimento produtivo e gerador de novos postos de trabalho.
Situação semelhante se passa na Alemanha, mas, em dimensões inquietantes, nos Estados Unidos. A política fiscal da Administração Bush proporcionou aos grandes conglomerados lucros gigantescos e favorece a sua distribuição aos accionistas e dirigentes, que por sua vez os destinam maioritariamente a aplicações financeiras. A generalização da atribuição aos altos quadros das empresas de remunerações sob a forma de acções tem agravado uma espiral especulativa em que os lucros são investidos na compra de novas acções assim valorizadas em bolsa e gerando um efeito multiplicador de mais-valias sem qualquer base ou reflexo no tecido produtivo.
Acresce ainda que tal prática incentiva os gestores de topo a privilegiarem os resultados a curto prazo, de que directa e imediatamente beneficiam, em prejuízo do médio e longo prazo, o que sempre se reflecte ainda no esmagamento da massa salarial e despedimentos.
Esta situação das economias desenvolvidas (agravada pelo fluxo de investimento para novas zonas de baixos salários) faz, segundo numerosos economistas, correr o risco de os efeitos dos avanços tecnológicos da década de 90 começarem a abrandar (na verdade, isso já se passa) e a desactualização de técnicas, equipamentos e mão-de-obra não ser compensada por tão necessários quanto inexistentes investimentos.
A História, manifestamente, ainda não acabou.