Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP

Homenagem a Catarina Eufémia no 70.º aniversário do seu assassinato

Uma grande saudação a todos os que marcam presença nesta homenagem a Catarina Eufémia. 

Uma homenagem de sempre, nesta terra de resistência e de trabalho, para lembrar a vida, a luta e a coragem desta mulher e militante comunista que é um exemplo para todos quantos lutam por um mundo melhor.

Faz hoje precisamente 70 anos que Catarina Eufémia foi assassinada pela repressão fascista, quando tomava a frente da luta do heróico povo trabalhador de Baleizão, em greve por melhores salários e contra a exploração.

Uma homenagem actual como sempre foi.

Importa, hoje e sempre, relembrar Catarina e todas as mulheres e todos os homens  sujeitos à dureza de vida – falta de trabalho, trabalho de sol a sol, salários de miséria –, enquanto uma minoria concentrava a riqueza produzida, nunca se conformaram com as injustiças e se lançaram na luta pelos direitos e pela liberdade.

Importa, hoje e sempre, homenagearmos Catarina e todos os antifascistas, muitos que deram a própria vida, outros que foram presos, torturados ou perseguidos por lutarem pela libertação do nosso povo do odioso regime fascista, desse regime terrorista dos monopólios e dos latifundiários.

Importa, hoje e sempre, evocarmos Catarina e todos aqueles que lutaram pela liberdade, pela dignidade de quem trabalha, e todos aqueles que não desistem da luta pela transformação social, pelo aprofundamento da democracia, por um Portugal de progresso e de justiça, por uma sociedade liberta da exploração.

Importa, hoje e sempre, sublinhar o exemplo de Catarina Eufémia,  e o de todas as mulheres na luta pela sua emancipação, que ousaram dizer não às desigualdades e à total ausência de direitos a que o fascismo as procurou sujeitar e que nessa luta de emancipação contaram com o Partido Comunista Português.

Importa, hoje e sempre, conhecermos a História e não nos deixarmos levar pela corrente do anti-comunismo, da reescrita da História, da mentira em relação ao fascismo, à Revolução e à contra-revolução.

Por muito forte que seja esta ofensiva ideológica, ela não é mais poderosa que a verdade.

A verdade está no lado de todos os que se dedicam à luta na defesa dos interesses dos trabalhadores, à luta de todas as gerações de operários e operárias agrícolas alentejanos que tanto batalharam pela justiça social, pela democratização do acesso à terra, pela Reforma Agrária, pelo bem-estar do povo.

A verdade está na luta gravada na memória do nosso povo e que faz deste Alentejo terra de resistência e luta.

A verdade está nessa luta que oito anos após o assassinato de Catarina, irrompeu em toda a zona do latifúndio, incluindo aqui em Baleizão, essa onda de mobilização e coragem que conduziria à mais significativa vitória de sempre dos assalariados rurais durante a ditadura fascista: a conquista do horário das oito horas.

Uma conquista dos trabalhadores agrícolas, uma pesada derrota do fascismo.

Uma conquista do Partido Comunista Português, determinante que foi na unidade do proletariado agrícola e na organização dessa luta heróica.

Ensinamentos do passado para o presente e para o futuro que não esquecemos e não deixaremos que outros apaguem, deturpem ou falsifiquem.

Do céu só cai a chuva. O resto, só vai lá com a luta.

Essa luta que reflecte a difícil situação social em que nos encontramos, marcada pelos baixos salários, pelas baixas reformas, pelo acesso à saúde, à habitação, contra o encerramento de serviços públicos.

E aí está o Governo, pronto a não resolver nenhum destes problemas, mas profundamente empenhado, e o mais depressa possível, em levar por diante o seu programa ao serviço que está dos grupos económicos, desses que se continuam a encher à custa do trabalho e dos sacrifícios.

Esses como a banca, essa banca com 560 mil euros de lucros por hora.

O Governo aproveita os problemas que existem, não para os resolver em função das necessidades da maioria, mas para abrir novas oportunidades de negócio para uma pequena minoria.

Aproveita o drama da habitação para ampliar a especulação e servir os fundos imobiliários e a banca, aproveita as dificuldades na saúde para, mais cedo do que tarde, transferir ainda mais recursos públicos para os grupos económicos do negócio da doença, aproveita os baixos salários para reduzir impostos ao grande capital. 

Tudo serve para o negócio de uns poucos ao mesmo tempo que se multiplicam justificações para faltar aos compromissos assumidos como está a acontecer com vários sectores de trabalhadores da Administração Pública.

Não aceitamos que assim seja. 
Não aceitamos esta política que beneficia os grupos económicos e os monopólios, que a UE protege e favorece.

Não aceitamos esta política que prejudica o povo, os trabalhadores, os reformados, os jovens, as mulheres, os migrantes, as pessoas com deficiência, os produtores, os micro, pequenos e médios empresários. Razões para lutar não faltam.

Sim, há razões de sobra para que os trabalhadores lutem, por melhores salários, por melhores condições de trabalho e de vida, por contratos estáveis, horários regulados, pela revogação das normas gravosas da legislação laboral, para que voltem a ter nas suas mãos instrumentos importantes para defenderem os seus direitos.

Não é aceitável que grande parte do trabalho que esteja a ser criado seja à base de contratos precários. 

Não é aceitável que milhões continuem a receber menos de 1000 euros de salário bruto por mês, enquanto os mais ricos captam grande parte da riqueza criada no País.

Sim, há razões de sobra para que os reformados lutem, por melhores reformas, eles que trabalharam toda uma vida, que descontaram pelo menos durante 40 anos, merecem uma reforma sem penalizações, merecem uma reforma que lhes permita viver com qualidade de vida e conforto, sem abdicarem de bens essenciais.

Não é aceitável que mais de um milhão de reformados que trabalharam durante tantos anos, vivam no limiar da pobreza.

Sim, há razões de sobra para que os jovens lutem pelo direito a estudar, pelo direito ao trabalho com direitos, precisamente eles que se estão a tentar emancipar, sair de casa dos pais, constituir família, garantir sustento aos seus filhos.

Não é aceitável que tantos, demasiados, não encontrem no seu País as condições de vida e que as tenham de procurar lá fora, longe dos seus.

Sim, há razões de sobra para que as mulheres lutem, por igualdade no trabalho e na vida.

Não é aceitável que velhas concepções, caducas e bafientas, voltem a levantar a cabeça, quando o que se exige é avanço, é progresso, é mais direitos, e não um passo atrás que seja.

Sim, há razões de sobra para que os trabalhadores imigrantes lutem por melhores condições de vida, condições que não encontraram nos países onde nasceram e que procuram legitimamente no nosso País, da mesma forma que o fazem milhares de portugueses que procuram lá fora as condições que aqui não encontram.

Não menosprezamos os problemas e as dificuldades, mas rejeitamos em absoluto, o discurso do ódio, do racismo e da xenofobia.

Não aceitamos declarações racistas e xenófobas que promovem o ódio que querem branquear o colonialismo e o fascismo.

Não aceitamos que esses discursos sejam vulgarizados em nenhum lado muito menos na Assembleia da República, onde todos e cada um juraram cumprir a Constituição.
  
O Presidente da Assembleia da República esteve mal em aceitar e vulgarizar este tipo de declarações.

Cada metro que avança esse discurso é cada metro em que se acentua a exploração sobre quem trabalha.

Sim, há razões de sobra para que as pessoas com deficiência lutem, para que se responda às necessidades específicas de cada deficiência para que se cumpram os seus direitos.

Sim, há razões de sobra para que os micro, pequenos e médios empresários se mobilizem, aliviando despesas que só favorecem as grandes empresas e os grupos económicos da banca, da energia, da grande distribuição.

Sim, há razões de sobra para que todos os amantes da paz lutem.

Lutem contra a guerra, seja onde for, lutem contra a militarização, a corrida aos armamentos.

Lutem contra o genocídio do povo palestiniano.

Lutem pela Paz, pela solidariedade e a cooperação entre os povos.

Há quem nos queira empurrar para a guerra, nós queremos mobilizar para a Paz.

Há quem queira mobilizar os nossos filhos e netos para a morte, nós queremos que os filhos e netos de todos vivam em Paz.

Sim, há razões de sobra para que todos os democratas e patriotas, para todos os que cá vivem e trabalham, lutem pelo SNS, pela Escola Pública, pelo direito à habitação, pela produção nacional, pela soberania, lutem, para que se apliquem os direitos de Abril consagrados na Constituição.

Não é aceitável que metade do orçamento da saúde continue a ir para os grupos económicos do negócio da doença.

Não é aceitável que se continuem a deixar intocáveis os lucros da banca, e que se mantenham elevadas prestações e rendas, enquanto tantas e tantas famílias, tantas e tantas micro, pequenas e médias empresas enfrentam tantas e tantas dificuldades.

Não é aceitável que se continuem a cometer crimes económicos, como é exemplo a privatização da ANA que querem alargar para a TAP.

E quanto à construção do novo aeroporto que agora foi decidida, o que se exige é mesmo que avance com rapidez a construção faseada do Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, que à sombra do anúncio não se prepare nova negociata com a multinacional Vinci, e que ao mesmo tempo, se aproveite as capacidades instaladas, nomeadamente as do Aeroporto de Beja com todas as potencialidades que comporta.

A todos vós, a quem sobram razões de luta, saibam que no PCP e na CDU encontram a alternativa e as propostas para dar resposta aos vossos problemas.

Estamos a três semanas das eleições para o Parlamento Europeu.

Dia 9 de Junho vão ser eleitos 21 deputados.

Este é o momento para construir o resultado da CDU.
Conversa a conversa, contacto a contacto, rua a rua, empresa a empresa, monte a monte, canto a canto.

Construir o resultado, ganhar voto a voto, eleger deputado a deputado pela CDU.

Deputados do PCP e do PEV que fazem falta em Bruxelas para defender o País, o povo e os trabalhadores.

O que precisamos é do voto na CDU, de deputados do PCP e do PEV, gente corajosa, determinada para enfrentar os que se acham donos disto tudo.

Sabemos que os tempos não estão fáceis, mas a direita o seu projecto, os grupos económicos, não têm as mãos livres para impor o seu programa.

Cá estamos, cá estão os trabalhadores e o povo, a lhes fazer frente.

O povo exigiu mudança, mas a mudança para melhor nas suas vidas nunca virá de PSD, CDS, Chega e IL, tal como não veio do PS.

A alternativa virá com o reforço dos que com coragem e determinação defendem Abril, a Constituição e o povo.

Este povo que com as suas mãos e muitas vezes com a sua própria vida, resistiu, lutou e levou por diante a revolução de Abril e construiu cada uma das suas conquistas e sublinhou cada um dos seus valores.

Este povo que saiu à rua no passado dia 25 de Abril, numa afirmação histórica da revolução, de que o povo está com Abril e é em Abril que está o caminho que é preciso retomar.

Esse Abril que se reafirmou na grande jornada de luta do 1º Maio, promovida pela CGTP.

Ali esteve Abril, os direitos, a exigência de salários, fim da precariedade, ali esteve a exigência de uma vida melhor a que os trabalhadores têm direito.

Ali esteve a determinação e a força para a luta que continua.

É com esta luta, é com esta determinação, é  com a juventude, com os que cá vivem e trabalham, com a CDU e com este povo, que isto vai, mas vai mesmo, andar para a frente.

Aqui estamos a prestar homenagem a Catarina, aqui estamos a prestar homenagem a esse nosso povo.

Uma homenagem com os olhos postos no futuro, nesse futuro que se constrói todos os dias com a luta pela vida melhor a que temos direito.

Aqui está o Partido Comunista Português, o Partido de Catarina, nesta “Terra de Baleizão onde morreu uma camponesa só porque queria ganhar o pão para os filhos”.

Cá estamos a transformar o sonho em vida por uma terra sem amos. 

Cá estamos, este Partido que os trabalhadores, o povo e o País precisam que seja mais forte e mais influente.

Este Partido com mais de 100 anos de vida e luta com um percurso de acção, coragem e coerência que o povo reconhece em quem confia. Este Partido necessário, indispensável e insubstituível aos trabalhadores, ao povo e ao País.

Cá estamos com o nosso ideal e projecto de construção de uma sociedade nova, liberta da exploração e da opressão, o socialismo e o comunismo.

Cá estamos com a experiência e o valor do seu passado e da sua vigorosa acção presente, afirmando-nos como partido do futuro.

Com confiança, com determinação.

Pelo progresso, pelos valores de Abril, pelo socialismo, pelo comunismo.

Viva o 25 de Abril
Viva a JCP
Viva o PCP

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