Intervenção de João Oliveira na Assembleia de República

"O governo comporta-se como um gestor de negócios das forças ocupantes"

No debate em torno das políticas da troika, João Oliveira afirmou que o governo sempre que fala de recuperação, associa-a aos juros da dívida e ao negócio da especulação, mas nunca se refere sobre recuperação de salários, de pensões, de tudo aquilo que foi roubado aos portugueses nos últimos 3 anos.
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Balanço do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), avaliação da ação da troica em Portugal e da transição para o período pós-troica
(interpelação n.º 15/XII/3.ª)

Sr.ª Presidente,
Sr. Vice-Primeiro-Ministro,
Os senhores passaram os últimos três anos a pedir aos portugueses que aceitassem a destruição das suas vidas, dos seus direitos e do seu País, em nome de uma salvação que nunca chegou e de uma recuperação que nunca se fará sentir nas suas vidas. E agora tentam convencer o povo português de que deve aceitar mais umas «pancadas», daquelas que o Primeiro-Ministro referia no congresso do PSD, em nome da mesma ilusão de recuperação e para que a troica não se zangue! E é curioso que o Sr. Vice-Primeiro-Ministro tenha associado, na sua intervenção, a recuperação aos juros da dívida e ao negócio da especulação, mas não tenha dito uma palavra sobre recuperação de salários, recuperação de pensões, recuperação de tudo aquilo que foi roubado aos portugueses nos últimos três anos.
Os senhores querem hoje convencer os portugueses de que se aguentarem mais uns cortes e mais uns assaltos aos seus rendimentos a troica vai-se embora e tudo muda. Mas o Sr. Vice-Primeiro-Ministro tem obrigação de explicar o que é que vai mudar, afinal de contas, depois do dia 18 de maio.
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro tem obrigação de explicar hoje aos portugueses como é que pode haver saída da troica se se mantém a mesma política, os mesmos cortes, os mesmos assaltos aos rendimentos. E até o Presidente da República afirma que a política da troica tem de manter-se, pelo menos até 2035.
O senhor tem obrigação de explicar hoje, aqui, aos pensionistas que medidas são essas que o Governo tem em preparação para perpetuar os cortes nas pensões, que até aqui eram feitos por via da CES (contribuição extraordinária de solidariedade) e como é que a perpetuação desses cortes aos pensionistas se conjuga com o discurso da saída da troica.
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro tem obrigação de explicar como é que a política que nos afundou nos pode recuperar, como é que a mesma política pode ter resultados diferentes daqueles que teve nos últimos anos.
Sr. Vice-Primeiro-Ministro, os senhores querem convencer-nos de que há uma saída da troica, quando não há, verdadeiramente, nenhuma saída. E não há saída da troica enquanto este Governo se mantiver e enquanto se mantiver esta política.
Os senhores repetem este discurso da saída da troica, mas apenas com um intuito: o de enganarem os portugueses relativamente aos vossos verdadeiros objetivos, mas enganá-los também com medo de sofrerem um desastre eleitoral, porque os senhores sabem que os portugueses têm nas suas mãos a possibilidade de contribuírem para a derrota deste Governo nas eleições do próximo dia 25 de maio.
A terminar, Sr. Vice-Primeiro-Ministro, deixo-lhe uma sugestão: retire dos seus discursos a referência ao patriotismo e à soberania do povo português, porque a sua assinatura está nos documentos que entregaram o País à ocupação estrangeira s do PSD e do CDS-PP.
… e o senhor comporta-se como o gestor de negócios das forças ocupantes: de cada vez que faz referência ao patriotismo e à soberania, o senhor está a pôr em causa a credibilidade desses conceitos.

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