Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

"A pátria da direita é a dos banqueiros, a nossa é o bem-estar do nosso povo, a sua vida e os seus direitos"

Balanço do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), avaliação da ação da troica em Portugal e da transição para o período pós-troica
(interpelação n.º 15/XII/3.ª)

Sr. Presidente,
Srs. Deputados:
Quase três anos depois da assinatura do pacto das troicas surgem as fantasias, as mentiras e as ilusões.
As fantasias que dizem que o País está numa fase de reviravolta, de retoma, que é agora que vem aí o milagre económico da recuperação.
As mentiras que nos dizem que existe algo chamado pós-troica, quando todos sabemos que a troica ficará enquanto continuarem as políticas de direita e de submissão. A catástrofe social, a miséria, o empobrecimento e o desemprego galopantes, a condenação do País ao atraso e a entrega da riqueza nacional a meia dúzia de grupos económicos e financeiros são a moeda em que Portugal continuará a pagar os juros de uma dívida que não para de crescer.
As ilusões de que existe uma alternativa entre as três cabeças da mesma hidra, as três cabeças, PS, PSD e CDS, de um corpo de uma hidra que são os grandes grupos económicos e o poder económico que manipula os títeres políticos, ensaiando uma farsa em que fingem diferenças para que o povo dos portugueses não faça diferença nenhuma.
O que é importante que fique claro neste debate é que não há pós-troica enquanto PS, PSD e CDS aplicarem as políticas que aplicam, que não há saída limpa se não a de romper comos interesses do capital que fazem da miséria dos povos a fonte da riqueza e da opulência de uns poucos.
O Governo tem de esclarecer aqui e neste debate as informações que passou aos jornalistas e que, agora, se recusa a assumir sobre os cortes definitivos nas pensões que está a preparar.
Os senhores do Governo, nomeadamente o Sr. Vice-Primeiro-Ministro, não podem falar da saída da troica e preparar às escondidas medidas para tornar permanentes os ataques aos reformados e aos pensionistas.
Srs. Deputados, há três anos, o PCP afirmou a renegociação da dívida nos seus prazos, juros e montantes como alternativa ao pacto de agressão e submissão e a situação em que o País se encontra poderia ter sido evitada.
Hoje dizemos que quanto mais tarde de realizar essa renegociação pior serão as suas condições e mais pesados serão os custos da destruição que prossegue.
A cada dia que passa a nossa vida anda para trás e quantos mais dias sem a renegociação mais será o caminho perdido.
Srs. Deputados, 40 anos depois de Abril, os grandes grupos económicos e os monopólios estão mais perto de obter de volta os privilégios à custa da destruição dos direitos que foram conquistados com a Revolução.
Se em condições mais duras os conquistámos, não será agora que desistiremos de os defender.
No trabalho e na luta, os portugueses procuram reerguer o País da miséria e da recessão, enquanto o Governo e os grupos económicos não lhes tiram o pé de cima. Mas é com trabalho e luta que os portugueses estão a criar, passo a passo, a alternativa política que o PCP afirma como necessária, que ponha fim à submissão, liberte o País da dependência, valorize o trabalho e as pessoas e que, por isso, é uma alternativa patriótica e de esquerda. A Pátria da direita, Sr. Vice-Primeiro-Ministro, é a dos banqueiros, agiotas e mercados financeiros; a nossa é a do bem-estar do nosso povo, a sua vida e os seus direitos.

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