Camaradas, amigos:
Este é um momento de profunda tristeza. O nosso querido camarada José Vitoriano deixa-nos para sempre, deixa-nos por força da lei da vida, cabendo-nos a nós acolher o seu elevado exemplo e um fascinante testemunho da força do ideal, das convicções e coerência da luta, da indiscutível ligação ao povo dos comunistas portugueses.
Lembrando a vida de José Vitoriano (em que a biografia não comporta toda a riqueza dessa vivência) é oportuno e justo suscitar uma reflexão:
Que razões podem determinar a sua entrada de muito jovem no Partido Comunista Português? e tenha desde então consagrado a sua vida aos trabalhadores e à luta do nosso Partido; tenha tido tanta coragem e carácter para resistir aos esbirros que o prenderam, maltrataram e torturaram sem claudicar perante os torturadores; tenha passado 17 anos nas prisões sem que o seu ânimo desfalecesse voltasse sempre para junto dos seus companheiros a encetar a luta contra a ditadura, nunca tenha tido uma palavra de ódios ou vindicta contra os seus torturadores depois de Abril; tenha continuado a luta com o mesmo entusiasmo revolucionário dando activa contribuição para as grandes transformações democráticas, nomeadamente no plano dos direitos dos trabalhadores e da liberdade sindical; tenha assumido responsabilidades institucionais como deputado e presidido muitas vezes à Assembleia da República na sua qualidade de vice-Presidente onde apesar das suas limitações técnico-jurídicas foi altamente respeitado por todas as bancadas parlamentares? O que dá aos militantes comunistas a força para uma tal coerência é qualquer coisa de muito profundo que distingue os comunistas e distingue a intervenção do PCP na vida nacional.
José Vitoriano era um exemplo nobre do comunista que não o era para satisfazer ambições nem interesses pessoais, nem proventos ou privilégios, antes o comunista com um ideal libertador, com uma conduta revolucionária que sempre considerou até ao fim da vida a acção política como uma forma de servir os trabalhadores, servir o povo, servir o país.
Toda esta determinação e coragem não apagava a sua dimensão humanista.
Dizia ele, porque não tinha inimigos pessoais, que não sabia se isso era uma qualidade ou um defeito. Mas era uma qualidade ímpar. O camarada Álvaro Cunhal no momento da comemoração do octagésimo aniversário do nosso José Vitoriano afirmou que se desejasse ser parecido com alguém desejaria ser como José Vitoriano.
Queremos afirmar, com um sentido de homenagem, que se este Partido, ao qual o camarada José Vitoriano consagrou a sua vida, é uma grande força política nacional, se tem como tem tão profundas raízes no povo, se se mantem com os pés firmes na terra apesar de fustigado pelos vendavais políticos no nosso país e no mundo, deve-se à luta, à dedicação, à conduta revolucionária de gerações e gerações de comunistas integrando nas suas fileiras militantes como José Vitoriano.
Creio poder afirmar com uma enorme confiança que o Partido Comunista Português será sempre digno daqueles que por ele e com ele lutaram ao longo dos anos e lutam no presente.
As leis da vida levam-nos militantes. Mas também a vida e a luta nos trazem novos militantes que tomam o testemunho nas suas mãos. E se o nosso Partido se renova pelas leis da vida do ser humano também se renova pela necessidade de dar novas respostas às novas situações, às novas realidades, às novas experiências, como deu no nosso XVII Congresso, como dará no futuro.
E temos a certeza que aquilo que José Vitoriano gostaria que dissessemos e fizessemos é e será que podem os trabalhadores portugueses estar certos, pode o povo português estar seguro de que o Partido Comunista Português continuará a ser o Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, um Partido dedicado ao povo e ao país, um Partido cuja criação, cuja luta, cuja razão de ser se justifica pelo seu ideal de luta contra a exploração e opressão do homem pelo homem, da eliminação das desigualdades e injustiças sociais, do seu permanente combate pela construção duma nova sociedade em que tenha como intrínsecas a democracia política, a democracia económica, a democracia social e a democracia cultural, um Partido patriótico que não desiste de Portugal, um Partido internacionalista que age e se solidariza com os trabalhadores e os povos na persistente procura e construção dum mundo mais justo e mais seguro!
José Vitoriano deixou-nos no momento em que dobrámos com êxito algumas batalhas eleitorais, numa situação de grande complexidade e exigência com perigos e ameaças mas com potencialidades de afirmação do Partido. Mal de saúde ainda quis fazer um último esforço para ir votar.
Prosseguir a nossa luta, reforçar o seu Partido de sempre era o que animava sempre o Zé Vitoriano.
À sua família, à sua companheira de sempre Diamantina e ao filho Carlos as nossas sentidas condolências por esta perda.
O exemplo e o testemunho vivo do Zé Vitoriano há-de perdurar na nossa memória, mas talvez não menos importante do que isso há-de integrar o nosso projecto na construção do futuro.