Intervenção de João Barreiros, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

A dimensão internacionalista da CGTP-IN

A dimensão internacionalista da CGTP-IN

Camaradas,

Desde sempre o capital tem procurado dividir os trabalhadores. Assente numa profunda ofensiva ideológica, procura, desde as empresas e locais de trabalho até à escala supranacional, criar divisões artificiais no seio dos trabalhadores, movendo mundos e fundos para concretizar tais objectivos.

A isto soma-se a repressão e criminalização da luta, às quais o capital junta a ideia que a luta de classes é uma ideia estafada, enterrada no passado.

Nascem as teorias de que ao capitalismo e ao neoliberalismo deve exigir-se um capitalismo de rosto humano, onde as organizações dos trabalhadores podem, e devem, ter um papel colaborante para a paz social. É a velha tese de que é possível conciliar os interesses do capital com os interesses dos trabalhadores. Como se a luta de classes não continuasse a existir no chão da fábrica, nas portas das empresas e dos serviços, no campo e no mar.

Ao aproveitamento dos avanços tecnológicos para a melhoria da vida dos trabalhadores, o nosso inimigo contrapõe as inevitabilidades de um avanço imparável, a que os trabalhadores se devem adaptar e os sindicatos negociar, sem que alguma vez se toque no lucro e na riqueza acumulada ou na posse dos meios de produção.

Sucedem-se as teorias de que só uma organização global poderá responder aos problemas globais. Crescem as ideias de contratação colectiva a nível internacional, geridos por sindicatos de largo espectro territorial, procura-se atestar que apenas lutas internacionais são capazes de fazer frente às multinacionais. Procura-se retirar de junto dos trabalhadores a sua capacidade de decisão, de intervenção e de luta, colocando-o ao nível mundial, distante, inacessível, e para o capital, muito mais controlável.

É conhecendo esta realidade que a CGTP-IN intervém no quadro internacional. Na Europa, sendo membro e intervindo na Confederação Europeia de Sindicatos. Esta organização vem afirmando cada vez mais o seu papel na conciliação de classes e promove a agenda da União Europeia, sempre no sentido de favorecer o capital e as grandes potências. Foi com frontalidade que assumimos no último congresso da CGTP-IN que a CES não está à altura da resposta necessária. Impõe-se uma resposta que combata o ataque aos direitos laborais e a outros direitos sociais, apontando os responsáveis e estimulando o caminho para a luta dos trabalhadores. A CGTP-IN mantém a sua intervenção independente e autónoma, condição que deve ser assumida por todas as estruturas do MSU, rejeitando decisões supranacionais que limitem a acção dos trabalhadores ou confrontem as decisões nacionais.

Mantendo a sua posição de não filiação mundial, a CGTP-IN tem relações com a CSI, colaboracionista e gestionária do sistema capitalista, e com a FSM, com as suas características de classe e anti-imperialista. Tomou esta decisão por razões históricas de preservação da natureza unitária e a coesão interna mas não abdica de manter relações com centrais de todo o mundo, mesmo aquelas que, como a CGTP-IN, mantêm a decisão de não filiação mundial. É no reforço desta perspectiva internacionalista e solidária, que se procura, priorizando contactos, a cooperação e o relacionamento nos planos bilateral e multilateral com todas as organizações com que se encontrem afinidades, na europa e fora dela, filiadas ou não em alguma estrutura internacional, para trilhar caminhos de unidade na acção, tendo como base o desenvolvimento da luta em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores

Na Organização internacional do Trabalho, com as suas contradições e carácter tripartido, numa correlação de forças que apenas favorece o capital, ao mesmo tempo que a FSM abdica de ocupar um espaço que é seu por direito próprio, de reivindicação e denúncia, cresce a influência da CSI, com a sua visão conciliadora e integracionista do sistema, que contribui para esvaziar e limitar avanços da luta dos trabalhadores.

Mas perante as adversidades coexistem inúmeras potencialidades. Os trabalhadores em todo o mundo não abdicam de se organizar e lutar. Alheios muitas vezes às filiações e organizações supranacionais, usam a sua verdadeira força, a que emana da sua unidade e da sua luta, para se levantarem em vários países, no Chile, por uma nova constituição, ou nos EUA, onde apesar da expressão hegemónica que tem a central norte-americana, com o seu papel de gestor dos interesses do capital, a luta se desenvolve e alarga, muitas vezes à margem da própria central.

Mas também na luta contra o imperialismo, na defesa da paz e da soberania, seja no papel solidário, do qual a CGTP-IN não abdica, seja no papel dos trabalhadores na defesa do direito à autodeterminação da Palestina e do Saara Ocidental, de defesa do socialismo em Cuba, contra o golpismo e a ingerência imperialista na Venezuela, ou em defesa da Paz, como na Síria e no Médio Oriente. A luta que se desenvolve nas condições mais adversas, como a maior greve já mais realizada no mundo que teve lugar recentemente na Índia ou as manifestações na Guiné-Bissau por uma resposta à pandemia e à situação laboral. A repressão que se vive na Bélgica ou em França contra o direito de greve e manifestação, que não faz cessar a luta e continua a mobilizar milhares de trabalhadores.

Lutas concretas, a partir dos problemas em cada local onde se desenvolvem, mas que reforçam o caudal da luta dos povos em que convergem. Uma expressão prática da solidariedade internacionalista, em que se constrói a unidade dos trabalhadores a partir dos seus interesses concretos. Exemplos a que juntamos o nosso próprio exemplo, a nossa própria acção nas empresas e nos locais de trabalho, de luta e resistência, de força e confiança por uma alternativa. Foi assim sempre, e foi assim no 1º de Maio, momento ímpar na luta dos trabalhadores, expressão da luta convergente à escala mundial, e que o papel de vanguarda da CGTP-IN, mesmo nestes tempos difíceis, com humildade e coragem, fez deste dia a afirmação de que é possível e necessário continuar a lutar.

Experiência e práticas que precisamos afirmar na intervenção internacional que em toda a estrutura se realiza, seja sectorial ou mais alargada, não abdicando da independência e autonomia, e mesmo em situações desfavoráveis, levantar sempre a bandeira da defesa intransigente dos direitos e aspirações dos trabalhadores.

Ao contrário do que muitos procuram fazer crer, a unidade, a luta convergente e até a luta internacional não nasce da decisão de topo, mas da acção dos trabalhadores, em cada país, em cada local de trabalho, alargando um amplo movimento reivindicativo, do qual nós, comunistas, temos a tarefa histórica de dinamizar, de alargar, de motivar, de estimular e dirigir.

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