Intervenção de João Frazão, membro da Comissão Política do Comité Central, Encontro «Os comunistas e o movimento sindical – uma intervenção decisiva para a organização, unidade e luta dos trabalhadores»

A célula de empresa e o papel dos comunistas

A célula de empresa e o papel dos comunistas

Camaradas e amigos,

No quadro das comemorações do Centenário do Partido, o Comité Central decidiu estabelecer o objectivo da criação de 100 novas células de empresa ou local de trabalho ou de sectores profissionais.

Três razões concorrem para esta decisão, que está a ser encarada com todo o empenho, de norte a sul do País.

A primeira, uma razão de classe.

O PCP é, estatutariamente, mas, acima de tudo, pela sua composição, pela sua acção, pela sua prática, pelas opções que toma, pela política que defende, o Partido da Classe Operária e de todos os Trabalhadores.

Natureza de classe que se traduz, também no plano estatutário, na consideração de que a célula de empresa "é a organização de base do Partido, é o seu alicerce e o elo fundamental de ligação do Partido com a classe operária e com os trabalhadores…"

Sabemos que é lá, na empresa e no local de trabalho, mesmo que esse local seja hoje a casa de cada um, que é na relação entre o trabalho e o capital, que se dão os maiores e mais violentos embates da luta de classes.

Identificamos, nas mais criativas formas de relações de produção, a exploração, que está na base da acumulação da riqueza nas mãos de uns poucos.

Intervimos para superar o capitalismo e essa contradição fundamental - a da apropriação privada da produção colectiva - e sabemos que, nesse processo de transformação social, a classe operária e os trabalhadores serão, sempre, a força motriz, o que reclama a sua organização.

A segunda razão, a de que a célula de empresa tem objectivos de intervenção que são essenciais a esse projecto transformador de construção da sociedade nova por que lutamos.

Perante a brutal ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, que se expressa
- quer na acção patronal em cada empresa,
- quer na acção colectiva do grande capital, procurando impor regras cada vez mais apertadas na contratação colectiva,
- quer na acção legislativa do poder político ao serviço do poder económico, criando as condições legais para o agravamento da exploração,
a resposta é, hoje, tal como ontem, ao contrário das teorias da conciliação e do diálogo social com que procuram adormecer os trabalhadores, a resposta é, dizíamos, a acção e a luta, com a mobilização tão vasta quanto possível.

E as células de empresa têm o objectivo primeiro de, avaliando a situação da empresa ou local de trabalho onde se inserem, sistematizando os problemas, aspirações e reivindicações dos trabalhadores, assegurar essa sua mobilização e a sua unidade na luta pela sua resolução.

A célula do Partido tem de assegurar a cobrança de quotas, a venda e difusão do Avante!, a mobilização para iniciativas gerais, a participação na Festa do Avante!, a participação em actos eleitorais, mas o coração da sua intervenção tem de ser sempre os problemas dos trabalhadores e a sua contribuição para o esclarecimento, para a mobilização, para a unidade e para a luta.

Contribuição que a célula do Partido está em condições de assegurar como nenhuma outra estrutura, pela profundidade do debate que realiza, pelas soluções de fundo que preconiza, pelo facto de, partindo e tendo presente reivindicações particulares ou sectoriais, envolver todos os trabalhadores da empresa afirmando o interesse geral, pela compreensão de que a força dos trabalhadores reside precisamente na sua organização, unidade e luta.

A terceira, a de que as dificuldades que se fazem sentir, que são objectivas, concretas, palpáveis, nunca significaram, e também não significarão agora, impossibilidades.

Sabemos da destruição do aparelho produtivo, com o encerramento de grandes empresas que, em determinado momento, foram baluartes do Partido, com células que chegavam a ter centenas ou mesmo milhares de membros.
Não ignoramos a desregulação dos horários que torna quase inviável a realização de reuniões com todos os membros do Partido de determinada empresa.

Conhecemos as múltiplas relações de trabalho existentes dentro de uma mesma empresa que dificultam a identificação comum até dos que trabalham debaixo de um mesmo tecto.

Acompanhamos o crescente isolamento dos trabalhadores com as novas realidades do trabalho em casa ou pela ausência de espaços comuns de trabalho.

Mas sabemos que continua a haver fábricas, mas também hospitais, universidades, grandes lojas, escritórios de grandes empresas, serviços do mais variado tipo que têm centenas ou milhares de trabalhadores. E que tudo o que dissemos atrás deve ser visto não como impedindo a organização dos trabalhadores, mas sim como realidades a ter em conta, exactamente como, sempre, mas sempre, ao longo da história, os explorados tiveram em conta as realidades concretas em que intervieram.

Camaradas,

quero ainda chamar a atenção para dois aspectos que devem convergir para alcançar o objectivo de reforçar a intervenção e a organização do Partido nas empresas e locais de trabalho.

O primeiro, o da necessidade da concentração do trabalho de direcção do Partido nesse sentido. Identificação das empresas e locais de trabalho prioritários, definição do plano de trabalho relativo a cada um, destacamento dos quadros com tempo e com meios para concretizar esse plano, controlo de execução rigoroso face a cada tarefa e etapa, organização de todos os membros do Partido na sua célula, determinação para não permitir que todas as outras tarefas se metam no caminho desta, que é a essencial. Eis, de forma breve e talvez demasiado simples, a receita para avançar neste trabalho.

O segundo, o do contributo dos membros do Partido com tarefas e responsabilidades nas Organizações Representativas dos Trabalhadores. Camaradas reconhecidos, destacados entre os trabalhadores; que se deslocam pelas empresas e até pelas várias unidades de uma mesma empresa; que têm o domínio dos principais problemas e reivindicações dos trabalhadores; que conhecem todos os que se destacam e assumem posições correctas, estes membros do Partido devem assumir para si a tarefa de sinalizar os trabalhadores que devem ser contactados para recrutar ou mesmo recrutá-los.

No quadro da afirmação da sua condição de militantes comunistas que, sublinhe-se, não estreita a sua intervenção, antes a alarga e prestigia, estes camaradas devem assegurar, pela sua prática e pelo que defendem, a identificação dos trabalhadores com o seu Partido.

Devem dedicar ao trabalho de reforço do Partido o tempo necessário, devem assegurar a participação nas reuniões pela intervenção qualificada que nelas podem ter, devem trazer ao Partido o sentir dos trabalhadores, devem assumir as tarefas que a dedicação às responsabilidades unitárias lhes permita, sabendo que isso é tempo dedicado à defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores.

Camaradas,

Para se ser o Partido da Classe Operária e de todos os Trabalhadores, não basta afirmar que se é, ou bater com a mão no peito! É indispensável que à afirmação corresponda a estrutura orgânica, a direcção e a orientação política. É isso que, hoje como ontem, queremos assegurar.

Pelo reforço da intervenção e Organização do Partida nas Empresas e Locais de trabalho,

Viva o PCP

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