O anúncio do BCE de aumento das taxas de referência em 50 pontos representa uma opção política centrada nos interesses dos grandes grupos económicos e que rejeita as escolhas fundamentais para fazer face ao aumento do custo de vida, à desvalorização dos salários e à dinamização da actividade económica.
A inflação - que agora se demonstra estar longe de ser passageira - deve ser combatida através de medidas de valorização dos salários e dos direitos laborais, do controlo dos preços e intervenção pública nos mercados de bens e serviços essenciais. Contudo, as opções da UE e do BCE são as de continuar a privilegiar a acumulação de lucros, seja pelo aumento da exploração dos trabalhadores, seja pela especulação de preços, seja ainda recorrendo a uma medida de encarecimento do custo de capital, como se verifica agora com a decisão tomada de subida do valor das taxas de juro.
O PCP reafirma que o brutal aumento dos preços é inseparável da política de sanções, que tem sido determinada em função dos interesses dos EUA - principal beneficiário da actual escalada de confrontação ao contrário da UE -, bem como do processo de recuperação da actividade económica pós-epidemia, cujo enquadramento foi marcado pelo aproveitamento que o grande capital fez e está a fazer desse processo.
O PCP alerta que a subida da taxas de juro implicará a desvalorização dos salários, a subida de muitas prestações bancárias e dificultará ainda mais o acesso ao crédito, colocando milhares de famílias e pequenas e médias empresas em situação de ainda maior fragilidade. Acrescem os impactos na dívida externa, pois não será demais relembrar que existe um stock de dívida portuguesa (pública e privada) de mais de 750 mil milhões de euros e que o aumento das taxas de juros influenciará. Esse aumento terá especial impacto junto das famílias e dos créditos à habitação, bem como das PME, pela dependência de crédito desses sectores.
Ao mesmo tempo, esta opção do BCE representará um ainda maior desequilíbrio entre as condições de financiamento público e privado, prejudicando as economias periféricas da zona Euro como a portuguesa e beneficiando as economias das grandes potências como a Alemanha.
Esta decisão do BCE, construída para manter os lucros do grande capital e favorecer as grandes potências da UE, vem uma vez mais confirmar a necessidade de Portugal recuperar a sua soberania monetária para não estar dependente de decisões de terceiros, que o prejudicam.
O PCP reafirma que o que a actual situação reclama é uma intervenção do Estado na política de preços e na oferta dos bens e serviços essenciais, bem como o aumento geral dos salários e das pensões e a aposta na produção nacional.