Não vale a pena fingirmos que não percebemos, através de múltiplos sinais, que certos quadrantes não fizeram uma boa digestão da significativa presença de bandeiras do PCP na manifestação pela paz de 15 de Fevereiro.
A este respeito, há algumas coisas que tem de ser ditas sem tardar.
A primeira é, desde logo, que os últimos a poderem discutir as bandeiras dos outros são aqueles mesmos que são largamente conhecidos por, até em iniciativas de que não são entidade convocante e até no 1º de Maio (que é convocado pela CGTP-IN), desfilarem ostensivamente com as suas bandeiras e organizados em bloco.
A segunda é que, neste contexto, é completamente careca que só a propósito da manifestação do dia 15 alguns tenham descoberto as «guerrinhas de bandeiras nas manifestações», coisa que certamente lhes teria passado despercebido se as bandeiras do PCP tivessem ficado em casa mas na manifestação não faltassem, como não faltaram, as bandeiras das organizações, estruturas ou partidos com que eles se identificam.
A terceira é que foi inteiramente justo e natural que muitos comunistas (mas nem de perto nem de longe todos os que lá foram) desfilassem no dia 15 com a bandeira do seu partido que, além do mais, era uma das entidades promotoras da manifestação e tão de pleno direito como as demais.
A quarta é que, como as bandeiras não andam sózinhas, os incomodados deviam ser mais francos e ter a coragem de dizer ou que preferiam que quem as levava não tivesse ido à manifestação ou que entendem legítimo e democrático proibir manifestantes de exibirem os símbolos da suas convicções e da sua específica contribuição para a luta pela paz.
A quinta é que os que protestam contra alegadas «hegemonizações e instrumentalizações partidárias» ou contra «a dominação dos movimentos sociais pelos aparelhos partidários» por alguma razão se esquecem sempre de se pronunciar com igual vigor contra a dominação e instrumentalização dos partidos – ou de iniciativas unitárias - por outras estruturas, organizações e personalidades.
A sexta é que é absolutamente intolerável que alguns que tanto falam contra as «partidarizações» e tanto proclamam a justa pluralidade e diversidade do movimento de opinião contra a guerra, são os que não hesitam em apresentar iniciativas que são na prática do seu partido como iniciativas do «movimento contra a guerra», como se alguma parte - pequena ou grande - pudesse falar pelo todo.
A sétima é que, carecido de tomar chá de tília, bem pode Miguel Portas («DN» de 20/2) identificar os comunistas como «as gerações que lutaram» (verbo no pretérito perfeito) porque a realidade da luta contra a guerra e todas as outras lutas aí estão a mostrar que a única forma de identificar hoje os comunistas é como as gerações que mais lutam (verbo no indicativo presente).