Lamento informar-vos de que o estafeta que, ontem à noite, vos levou a casa o conforto de uma ceia é um escravo dos tempos modernos.
São trabalhadores altamente explorados, muitos deles imigrantes que procuram melhores condições de vida e direitos justos, incluindo em acolhimento e integração.
Chegam à porta do restaurante, teleguiados por um dispositivo electrónico omnipresente e omnipotente que tudo lhes determina e controla, e logo disparam a toda a velocidade.
Trabalham dez, doze, catorze, dezasseis horas, as que vierem, enquanto o corpo resiste ao sono e ao cansaço, encavalitados em motoretas ou em bicicletas em risco constante, girando pela cidade por parco rendimento – vinte, trinta, quarenta euros por dia, nalguns casos algo mais, se a coisa correr bem.
E é forçoso que a receita dê para o empréstimo para a motorizada, ou para o aluguer da motocicleta e do capacete, há casos assim; para a gasolina; para o quarto onde tentam enganar o sono dez ou doze pessoas, por junto ou à vez; para cobrir os riscos de um acidente, ou dos riscos inerentes à exigência do pagamento em numerário – tudo serve para fazer em trapo quem já está espezinhado.
Nada lhes pertence de facto, nem a vida, de tão precária. Mas a ilusão está montada: alugam contas de utilizadores já registados nas plataformas, não por matreirice, mas porque o sistema o impõe; são compelidos à aparência de prestadores de serviços ou trabalhadores autónomos; enfim, são explorados.
É assim a vida de dezenas de milhares de estafetas das plataformas, mas também, com algumas adaptações, de milhares de motoristas de TVDE.
Uns e outros, escravos da era digital, submetidos aos requintes da sofisticação da exploração capitalista do trabalho barato e descartável que urge combater, uma tarefa que conta e contará com as propostas e o empenho do PCP.
Senhora ministra, o PCP escutou com atenção as suas palavras, mas gostaríamos de saber o que pretende fazer em concreto para proteger estes trabalhadores.
Disse.