Na passada sexta-feira, o PCP denunciou na Assembleia da República as reais intenções do Governo para o Metropolitano de Lisboa. Nessa altura, o Governo não assumiu a plenitude das suas intenções, chegando ao ponto de, no sábado (29 de Outubro), ter sido veiculada por diversos órgãos de comunicação social a “informação” que “o Governo nega a intenção de encerrar o Metro à noite”. Mas, imediatamente a seguir, na segunda-feira (31 de Outubro), o Governo apresentou formalmente a sua proposta numa reunião com os Vereadores responsáveis pelo pelouro dos Transportes da Área Metropolitana de Lisboa. E essa proposta não só confirma o que o PCP tinha denunciado, como comprova o sentido geral da política em curso que é a de destruição do serviço público de transportes. Confirma ainda que, neste Governo, a mentira e a demagogia marcham de mão dadas com um profundo ódio de classe aos direitos de quem trabalha e a mais absoluta determinação de garantir as melhores condições para a acumulação capitalista.
Assim, a proposta do Governo, que de imediato deve ser denunciada e combatida, prevê, entre outras medidas: o encerramento total das ligações fluviais à Trafaria, Porto Brandão, Seixal, e ao Montijo no fim-de-semana, e uma redução geral dos restantes horários; a supressão de 22 carreiras da Carris, o encurtamento de 16 e a redução de ofertas em mais 23, com a supressão de todo o serviço nocturno, afectando no conjunto mais de 50% das carreiras actuais da Carris; a redução da oferta na CP Lisboa, com especial incidência fora das horas de ponta; o desaparecimento dos títulos e passes próprios da Carris e Metro, e dos respectivos combinados, com o consequente aumento geral de custos para os seus utilizadores.
Esta lógica de brutal redução da oferta e aumento de custos para os utentes abate-se igualmente sobre o Metropolitano de Lisboa, onde está em curso um brutal ataque aos utentes com: o encerramento da circulação às 23h00 em toda a rede do Metropolitano; o encerramento da circulação a partir das 21h00 entre o Colégio Militar e a Amadora e entre o Campo Grande e Odivelas; a redução da velocidade de circulação em 25%; a redução para um quarto do número de circulações na linha verde, hoje já congestionada nomeadamente no Cais de Sodré; um novo aumento dos custos com transportes por via das alterações à bilhética; um novo aumento geral de preços.
Este ataque aos utentes desenvolve-se a par de uma ofensiva brutal contra os trabalhadores: centenas de despedimentos provocados por esta redução da oferta; uma drástica redução de salários e direitos, seja por via do ataque geral aos trabalhadores, seja pela tentativa de colocar em causa no Metro o contrato colectivo.
O que está em curso é uma política liquidacionista, determinada pelos grupos económicos, com o Governo a subordinar o interesse nacional ao objectivo supremo de entregar a exploração comercial aos capitalistas. Uma política que empurra milhares de utentes para o transporte individual, que alarga o tempo perdido nos transportes, que faz crescer a factura de transportes dos agregados familiares, que corta a mobilidade das populações, que desperdiça investimentos públicos já realizados, que introduz novos factores recessivos num país em recessão.
O que está em curso é uma política assente na mentira e na demagogia: que coloca a necessidade de melhorar a taxa de ocupação do Metro, omitindo que esta é similar à das restantes capitais europeias; que apresenta a dívida do Metro como justificação para a privatização, mas omite que essa dívida resultou, em 90%, dos investimentos, da expansão da linha e respectivos juros e que, com a privatização, essa dívida continuará no Estado e será ainda mais difícil de pagar; que fala em padrões europeus para justificar aumentos de preços, mas omite que hoje esses preços são já os que representam a maior percentagem do salário em toda a Europa.
Como o próprio Governo já reconhece, o problema financeiro central do Metro é a dívida criada pela desorçamentação dos investimentos nos últimos 20 anos e os encargos que essa dívida impõe hoje à empresa, que são muito superiores aos seus custos salariais.
Para o PCP, o que se impõe é fazer o oposto das propostas do Governo: rentabilizar esses investimentos através do aumento da procura, o que implica uma política de preços atractiva e a manutenção da oferta de um transporte de qualidade; corrigir os erros cometidos pelos sucessivos governos do PS, PSD e CDS, saneando financeiramente estas empresas públicas.
O PCP saúda os trabalhadores do Metropolitano. Num momento em que o Governo lança um brutal ataque aos seus direitos e à sua qualidade de vida, o PCP valoriza o papel daqueles que todos os dias do ano, 24 horas por dia, asseguram com qualidade e eficiência o funcionamento deste serviço público.
O PCP apela à luta dos trabalhadores e utentes. Expressa a sua solidariedade activa com a sua luta! E reafirma a sua total confiança na capacidade dos trabalhadores e do povo português para libertar do pacto de agressão e da política de direita que está em curso.