Áudio
Vinte e cinco anos depois da primeira edição d`O Partido com paredes de vidro e cinco anos após a grande homenagem que os trabalhadores e o povo português prestaram ao seu autor, Álvaro Cunhal, faz sentido confrontar a prática e os valores assumidos pelo PCP com a prática e os valores dos outros partidos, em particular dos executantes da política de direita.
Tal como assume o autor no prefácio da 6ª edição do livro, “as condições de trabalho, de vida e de luta da classe operária e de todos os trabalhadores e a prática revolucionária do Partido geram e exigem o amor pelo povo, coesão, solidariedade, ajuda recíproca, abnegação, generosidade e outros importantes elementos éticos”
Contrariamente, escreve o autor, “a exploração e a opressão do capitalismo traduzem-se, na moral da burguesia dominante, pelo egoísmo, o individualismo feroz, a rapacidade, o desprezo pelos outros, o predomínio das ambições pessoais, o abuso do poder, o arbítrio de decisão, a hipocrisia, a fraude e a corrupção.”
A moral nova e superior dos comunistas, inspirada pelo seu ideal, tem como alicerces “o amor pelo povo, a dedicação ao serviço dos seus interesses, direitos e aspirações, a recusa da exploração e opressão do homem pelo homem, a isenção pessoal, a coragem, a honestidade, o trabalho esforçado para o bem comum, a verdade na análise dos factos e na informação… A moral dos comunistas é parte integrante da força revolucionária do Partido.”
Também hoje, permanecem actuais as acusações feitas há 25 anos de que “nenhum dos governos [da política] de direita e nenhum dos partidos seus componentes ousou dizer a verdade acerca dos objectivos da sua política. Todos os seus actos e todas a suas medidas são pensadas com extenso rol de mentiras elaboradas, planeadas e sistematizadas.
Mentiras acerca das medidas cujo objectivo e resultado é o agravamento da exploração dos trabalhadores. Mentiras acerca das leis e medidas visando a restauração dos latifúndios e a reprivatização da banca e dos sectores básicos nacionalizados. Mentiras acerca das medidas de repressão e das consequências da entrada no mercado comum. Mentiras acerca da salvaguarda dos interesses nacionais. E assim por diante.”
É precisamente a isto que assistimos hoje, quando PS e PSD invocam o interesse nacional para aprovar o PEC e as medidas de austeridade e dizem até que contemplam sacrifícios para todos, mas na verdade o que fizeram foi um pacto de classe.
Aprovaram medidas que assentam como uma luva nos interesses do capital financeiro, dos grupos económicos e do directório da União Europeia.
Para os trabalhadores e o povo aumentam impostos, roubam nos salários, cortam nos apoios sociais e pioram os serviços públicos.
Para o grande capital continuam a existir benesses e privilégios fiscais, entregam-se empresas públicas ao desbarato e favorece-se a acumulação de escandalosos lucros.
Os partidos que executam a política de direita, despidos de ética, prosseguem com a mentira e a deturpação.
Afirmam-se preocupados com a repartição do “esforço” por todos, mas é aos rendimentos do trabalho, às reformas, ao subsídio de desemprego e ao aumento dos preços dos bens de primeira necessidade que vão buscar o dinheiro que se recusam taxar nas operações em bolsa.
Afirmam-se empenhados em defender o país e a nossa economia mas cortam no pequeno e no grande investimento público, não honram os compromissos assumidos com as populações, assistem coniventes ao definhamento do nosso aparelho produtivo e querem agora privatizar empresas públicas estratégicas, prosseguindo a canalização de fundos do erário público para os cofres dos grupos económicos.
Reconhecendo a justa indignação de muitos e muitos portugueses com a degradação da situação política, económica e social, Passos Coelho apresenta como solução para a corrupção “afastar o Estado dos negócios.” mas nada diz sobre dirigentes e ex-dirigentes do PS, do PSD e do CDS-PP que saltam dos ministérios para os conselhos de administração dos grupos económicos. Assim como nada diz sobre quem alimenta e quem se alimenta da corrupção.
Os partidos da política de direita mentem e deturpam igualmente quando apontam este como o único caminho. Dizem até que é com o agravamento das políticas seguidas nos últimos 34 anos que sairemos da crise. Rotulam de irresponsáveis e de antipatriotas os que lutam e resistem contra estas políticas. Usam de todos os seus meios para fomentar a resignação e a aceitação de mais sacrifícios, de mais injustiças e do agravamento das desigualdades.
Com os mesmos argumentos ensaiam nova ofensiva contra direitos de quem trabalha. Enchem a boca com a defesa dos trabalhadores para tentar liberalizar os despedimentos e generalizar a precariedade, ao mesmo tempo que cortam nos salários e nos apoios sociais a quem perdeu o seu posto de trabalho.
Corrupção, nepotismo, compadrio e mentira são uma marca de classe e uma prática dos governos de direita e dos partidos que nele participam.
A moral nova e superior de que Álvaro Cunhal nos fala n`O Partido com paredes de vidro assenta numa base objectiva que determina a sua natureza de classe, mas também sofre o influxo criativo e formativo do ideal político e da prática revolucionária.
Por isso, da mesma forma que rejeitamos e combatemos as mentiras e os argumentos que usam para sustentar tão grandes ataques aos direitos dos trabalhadores, do povo e à soberania do país, também reafirmamos a disponibilidade deste Partido Comunista Português para lutar “contra a exploração e a opressão, contra o parasitismo e as injustiças sociais”.
Dos comunistas portugueses podem os trabalhadores e o povo contar com redobrado empenho na luta contra o capitalismo, o imperialismo, a corrupção e as injustiças.
Dos comunistas portugueses terão a recusa da resignação e da aceitação do fatalismo. Terão igualmente a denúncia destas políticas, mas a afirmação da confiança e da possibilidade de uma ruptura com este caminho, capaz de assegurar emprego, produção nacional e justiça social.
Por Abril, pelo socialismo. Com os trabalhadores e o Povo.